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Eleições municipais

Não basta romper com a direita, é preciso ser combativo

A esquerda pequeno burguesa critica o PT por se aliar com a direita, mas isso não é suficiente, candidatos pequeno burgueses também não avançam a luta dos trabalhadores

A esquerda pequeno burguesa costuma atingir o seu ápice de oportunismo durante os processos eleitorais. Muitos criticam o PT, corretamente, por fazer alianças com a direita. No entanto, estes mesmos não apresentam uma política independente para as eleições, apoiam candidatos ligados ao imperialismo, candidatos que estão aliados com a direita ou até candidatos da própria direita. É o caso do portal Esquerda Online que publicou o texto “Eleições 2024: derrotar a extrema direita com a frente de esquerda”.

Ele começa com a tese: “se a extrema direita ganhar posições importantes nessas eleições, chegará com muita força em 2026. Se acontecer o inverso, isto é, se a esquerda prevalecer nas principais cidades, a chance do bolsonarismo retomar a Presidência diminui consideravelmente”. O problema aqui é que ele ignora uma terceira força política, a direita tradicional. Se ela se fortalecer, é bem possível também que o bolsonarismo seja o beneficiado nas eleições de 2026. Além disso, caso uma esquerda que não seja independente da direita se fortaleça, o efeito é de não se fortalecer a luta contra o bolsonarismo.

Ele afirma: “os principais partidos da esquerda (PT, PSOL e PCdoB) são os representantes vinculados aos interesses do povo trabalhador e oprimido. Em cidades importantes, houve a valiosa formação de frentes de esquerda, sem alianças com setores da direita. Fato que deve ser saudado! Em São Paulo, palco da disputa mais importante dessas eleições, Guilherme Boulos é o candidato da esquerda contra as candidaturas da extrema direita e da direita”. Primeiro, ao ignorar os demais partidos da esquerda PCO, PCB, UP e PSTU o texto já assume uma postura oportunsita. Só importam os candidatos cujos partidos já possuem alguém eleito. Mas isso não é a questão mais importante.

Apoiar qualquer candidato da esquerda não é uma política correta. Um caso que exemplifica isso perfeitamente é Guilherme Boric. Ele é o Boulos do Chile. Venceu as eleições em 2021 sendo um representante da “nova esquerda”. Seu governo foi de alinhamento total com o imperalismo, de uma política neoliberal e agora a sua falência está abrindo caminho para a ascenção da extrema dirieta. Ou seja, votar em qualquer esquerda não é uma luta real contra o fascismo.

O mesmo vale para a França e para Inglaterra. A esquerda neoliberal foi quem venceu, o Partido Trabalhista dirigido por Starmer e o Partido Socialista na França, que agora faz frente com Macron. Com eles no poder a extrema direita se fortalece. Boulos, sendo um representante dessa nova esquerda submissa ao imperialismo não será nenhum entrave ao crescimento da direita. Se nem o prefeito Haddad do PT foi uma força de luta contra o golpe de Estado de 2016 o que pode se dizer de Boulos que apoiou o golpe de Estado em 2016.

O EO então critica o PT: “há algumas capitais e municípios importantes nos quais o PT confere apoio, equivocadamente no nosso entendimento, a candidaturas de direita. Esse é caso, por exemplo, do Rio de Janeiro e de Salvador. O partido de Lula está com Eduardo Paes (PSD), na capital fluminense, e Geraldo Júnior (MDB), na capital baiana”. É uma crítica correta, mas é incompleta. O problema não é apenas se o candidato é de direita. Se for uma esquerda que não é de fato combativa, ligada a luta dos trabalhadores, ela também não configura uma vitória real dos trabalhadores.

A experiência do PT mostrou isso. Milhares entraram no partido de forma oportunistas quando o PT era governo federal. Na hora do golpe de Estado contra Dilma pouquíssimos lutaram em sua defesa. Candidato de partido de esquerda não significa será um parlamentar combativo. Depois de 2016 muitos inclusive abandonaram o PT para outros partidos.

O Esquerda Online então caiua do erro de achar que os bolsonaristas são o maior problema: “consideramos que as candidaturas da esquerda precisam estar preparadas para enfrentar uma eleição muito difícil. Pois enfrentarão candidatos bolsonaristas dispostos a tudo. Pode-se esperar um verdadeiro show de horrores, com enxurrada de fakenews, ataques misóginos, racistas, LGBTfóbicos, ofensas morais, armações mentirosas, enfim, o lamaçal bolsonarista”. Eles ignoram que a maior máquina de campanha de mentiras contra esquerda é a própria imprensa burguesa, a direita tradicional. Esqueceram do fatídico debate da eleição de 1989 em que a Globo editou totalmente a favor de Collor.

O texto apresenta uma conclusão: “o desafio político estratégico dessas eleições, ao nosso ver, é ampliar a influência política e ideológica da esquerda nas camadas trabalhadoras e populares, enfrentando com altivez o bolsonarismo”. De fato é preciso combater o bolsonarismo entre a classe trabalhadora.

Mas a solução apresentada não é um caminho de luta: “nesse sentido, o perigo maior é deixar a extrema direita impor a pauta das eleições. Não baixar a guarda ideológica, levantar a bandeira da esperança, não recuar do programa de mudanças, lutar para estabelecer os temas principais junto ao povo, promover uma campanha-movimento nas periferias e bairros populares, desmascarar a falsidade e hipocrisia dos fascistas, combatendo-os com vigor; animar e encorajar a base social da esquerda para a campanha nas ruas e nas redes. Acreditamos que o caminho seja esse”.

É preciso combater a extrema direita, mas não com esperança. É o momento de ser combativo. Para desmascarar a “falsidade e a hipocrisia dos fascistas” é preciso mostrar aos trabalhadores que é a esquerda quem de fato defende os seus interesses. A postura de tipo pequeno burguesa de “amor vai vencer o ódio” de “esperança” e até mesmo de “democracia” não é o que necessário nesse momento. Diante da polarização é preciso polarizar. É preciso defender as pautas tradicionais da esquerda, salário, trabalho e terra, um governo dos trabalhadores.

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