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Brasil

Não basta denunciar os generais, é preciso derrubá-los

A esquerda pequeno-burguesa é incapaz de traçar uma política de luta contra o golpe, pois as instituições, a qual ela é presa, nunca combaterão nenhum golpe

O golpe de Estado é um fenômeno tão comum na América Latina e, ao mesmo tempo, tão incompreendido pela esquerda pequeno-burguesa. Não fossem os trabalhadores, os golpes de Estado todos teriam sucesso. O caso da tentativa de golpe na Bolívia na quarta-feira (26) demonstra a confusão total desse setor da esquerda. É o caso de Florestan Fernandes Jr, colunista do Brasil 247, em seu texto Com delírio golpista não se brinca, nem na Bolívia, nem no Brasil.

Ele começa: “na Bolívia, na última quarta-feira (26/6), demonstra a quão anacrônica é a velha receita de golpe dos anos 60/70, que alguns generais latino-americanos teimam em usar para retornar ao poder. Foi-se a época em que bastavam ‘soldados perdidos de armas nas mãos’ e tanques obsoletos nas ruas, para garantir o sucesso de uma ruptura institucional”.

Ele já começa ignorando a realidade, pois foram eventos parecidos com esse em 2019 e em 2022 que iniciaram os golpes de Estado na própria Bolívia e no Peru. Em toda a história, quando um golpe militar estava prestes a acontecer, algum esquerdista está afirmando que o golpe é impossível.

Ele então usa o caso boliviano como comparação ao 8 de janeiro no Brasil, que foi uma situação completamente diferente: “a resposta que vem sendo dada aos crimes cometidos pelos mentores do golpe é frágil e lenta. E essa percepção de lentidão e leniência não é de agora. Ainda no calor do 8 de janeiro, já havia sinais. Um dos mais emblemáticos aconteceu no fim da tarde naquele mesmo dia, quando o general Gustavo Henrique Dutra, do Comando Militar do Planalto, impediu que a PM invadisse e prendesse os golpistas acampados na frente do Quartel General de Brasília. Vejam o tamanho da afronta: o comandante cercou o acampamento com blindados do exército para impedir a ação da Polícia Militar do DF. E o que aconteceu com o general? Nada”.

Ou seja, as forças armadas proibiram qualquer tipo de intervenção do governo Lula aos generais que, caso haja um golpe no Brasil, serão a sua cabeça. Nesse sentido, o caso do 8 de janeiro só mostra a força que tem os generais brasileiros e como isso é um perigo permanente de golpe. Mesmo com toda a sanha repressiva de Alexandre de Moraes, a cúpula dos militares foi blindada em todos os momentos. Com essa realidade, não é impossível imaginar que os militares tentem uma aventura como a da Bolívia caso acreditem que o governo Lula está fraco.

Ele comenta sobre o governo de São Paulo: “no governo de Tarcísio, o principal nome dessa ala bolsonarista é a do secretário de Segurança Pública, Coronel Guilherme Muraro Derrite. Aquele mesmo que no passado foi afastado da Rota por excesso de mortes em serviço. Outro nome de confiança de Bolsonaro é o coronel Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rota e indicado ao cargo de vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes”.

Ou seja, na alta cúpula do bolsonarismo estão as mais violentas figuras da polícia brasileira, claramente aqueles que serão a linha de frente do golpe. Na Bolívia, a polícia militar foi linha de frente no golpe de 2019.

Na verdade, Florestan coloca a situação como preocupante em relação às forças armadas: “no sábado (22/06), policiais militares que irão se candidatar nas eleições deste ano participaram de um encontro com assessores e equipes da Bancada da Bala em São Pulo. A meta dos articuladores do encontro é a eleição de pelo menos 645 vereadores, em todo o estado. Até na educação pública, as PMs estão se infiltrando, através das chamadas ‘escolas cívico-militares’, onde, pasmem, os PMs darão aulas de política e ética”. Até aí, ele está certo em ficar preocupado com o potencial da extrema direita. O problema maior é em suas conclusões.

Em momentos como este, é bom rever a história recente. Os nazistas assumiram o poder na Alemanha em janeiro de 1933. Foi o fim de um período de 12 anos de democracia, da chamada República de Weimar. A ditadura de Hitler só teve sucesso por conta da atuação dos paramilitares da truculenta SS nazista, criada em 1925 para proteger o fuhrer”. Apenas citar a ascensão do nazismo sem conclusões políticas não é o suficiente. Seria preciso explicar o porquê do golpe de Hitler.

E o problema é justamente que Florestan defende o mesmo erro que a esquerda alemã cometeu: “na semana que vem a PF conclui os inquéritos sobre a venda ilegal de joias e a fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro. Para o bem da democracia, torcemos todos para que a PGR não perca tempo e ofereça o quanto antes as denúncias, para dar início às ações penais contra os mentores, financiadores e idealizadores da tentativa de golpe”.

Ele acredita que a PGR será uma ferramenta de luta contra o golpe. A PGR, presidida pelo lava-jatista Paulo Gonet, está longe de ser um órgão que sequer tem a capacidade de defender os trabalhadores, quem dirá impedir um golpe de Estado.

O que aconteceu na Alemanha em 1930? A esquerda, ao invés de lutar contra o nazismo nas ruas, de fazer uma frente única de combate contra a direita, acreditou que a República de Weimar preservaria a democracia alemã. Confiaram nas instituições e foram essas mesmas instituições que convidaram Hitler ao poder. Foi o mesmo que aconteceu na Itália, a monarquia convidou Mussolini ao governo. A extrema direita precisa ser combatida pela classe operária para ser derrotada, caso contrário, ela estará sempre na iminência de tomar o governo quando a burguesia desejar.

Muitos citam o nazismo, um caso de derrota, e ignoram vitórias como as da França e da Inglaterra. Em ambos os países, o movimento operário derrotou o fascismo nas ruas. Na França, uma greve geral gigantesca basicamente aniquilou o movimento fascista, que era mais tradicional até que o nazismo alemão. Na Inglaterra, os operários acabaram com o movimento fascista na base da força bruta. Não foi uma vitória total, mas mesmo assim, é uma demonstração de como combater os golpes.

Florestan ao menos levanta a questão do perigo das forças armadas. Mas sem apresentar um exemplo, um caminho de luta, não se combate essa ameaça. A PGR nunca impediu e nunca impedirá um golpe de Estado, ela tem muito mais probabilidade de participar dele.

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