Nascida em Ramalá, Cisjordânia, em 1919, Nahil Bishara é uma das principais personalidades artísticas da Palestina, sendo também uma militante da preservação cultural de seu povo, mesmo após décadas de ocupação e opressão. Sua vida e obra se confundem com a própria saga do povo palestino pela própria identidade, mesmo em meio a condições extremamente adversas, submetida a deslocamentos forçados e todo o aparato infernal da repressão sionista.
Desde jovem, Nahil demonstrou um talento singular para as artes, uma paixão que se tornaria a base de sua contribuição à resistência cultural palestina. Ainda em sua juventude, foi a primeira mulher palestina a estudar na Escola de Artes e Ofícios Bezalel em Al Quds (Jerusalém), um feito notável em uma época em que as oportunidades para mulheres árabes eram escassas, especialmente em instituições dominadas por artistas sionistas.
Casada com o médico Assad Bishara, renomado ginecologista palestino, Nahil encontrou no marido um apoio essencial para suas ambições artísticas. Assad, descrito como um homem progressista e de espírito livre, nunca restringiu Nahil ao papel tradicional de esposa e mãe. Pelo contrário, incentivou seu aprimoramento e apoiou suas incursões no mundo artístico.
A trajetória de Nahil é marcada por sua busca incessante por aprendizado. Além de frequentar a Bezalel, ela realizou um curso de design por correspondência com uma universidade americana e, nos anos 1960, viajou para a Itália, onde estudou pintura clássica e cerâmica na cidade de Perugia. A combinação de suas formações diversas resultou em uma abordagem única à arte, refletindo tanto a tradição palestina quanto as técnicas e estilos adquiridos ao longo de sua vida.
Nahil nunca produziu arte com o intuito de vendê-la. Para ela, cada peça era um meio de preservar a identidade palestina, uma resposta criativa às tentativas de apagamento cultural de seu povo. Seus netos, Assad e Talia Bishara, descrevem sua avó como uma mulher incansável e talentosa. Assad diz que ela trabalhava com tudo o que estivesse à sua disposição, transformando qualquer material em algo belo e significativo. Já Talia dastaca a elegância e o cuidado com que Nahil apresentava a si mesma, representando não apenas sua arte, mas também sua luta.
Seus trabalhos variavam desde paisagens religiosas até representações de refugiados palestinos, como a pintura de uma mulher segurando uma criança, datada de 1948. Essa obra, em particular, é um testemunho da Nakba, o evento catastrófico de 1948 que resultou na expulsão de centenas de milhares de palestinos de suas terras.
Além de suas criações artísticas, Nahil também deixou sua marca em projetos de design. Um de seus maiores feitos foi a decoração do prédio da YMCA em Jerusalém, onde usou materiais locais e trabalhou em colaboração com refugiados palestinos. Esse edifício, transformado mais tarde em um hotel pela ocupação israelense, ainda carrega elementos do toque artístico de Nahil, como os candelabros que ela projetou e os móveis de madeira que criou.
Outro marco em sua carreira foi a encomenda do Reino da Jordânia, em 1964, para esculpir um busto do Papa Paulo VI, em homenagem à sua peregrinação à Palestina. A obra hoje está exposta no Vaticano.
Nahil faleceu em 1997, vítima de câncer, mas seu legado permanece vivo graças aos esforços de sua família. Sua neta Talia Bishara tem se empenhado em trazer à tona a história e a obra da avó, inserindo seu nome no radar de instituições culturais e acadêmicas. Recentemente, trabalhos de Nahil foram adquiridos por importantes coleções, como a Fundação Barjeel nos Emirados Árabes Unidos e Dar El Nimer no Líbano.