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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

Muito importante para falir?

Monopólios de tecnologia como a Intel são "infalíveis" como os bancos que quebraram o sistema financeiro em 2008, mas por motivos diferentes

Em 2008, durante a Grande Recessão, bancos norte-americanos completamente falidos como Citibank foram tidos como “grandes demais para falir”. A categorização diria respeito ao risco sistêmico que representava a sua falência, por mais merecida que fosse. A falência de um banco desse porte levaria consigo outros bancos numa espécie de efeito dominó que traria abaixo o sistema financeiro imperialista.

O risco de crise do sistema financeiro ainda paira sobre a burguesia imperialista mundial, mas outras crises se somam a essa. Uma delas envolve talvez a maior empresa de tecnologia do século XX, tema pertinente à nossa coluna, a Intel. A empresa não é grande demais para falir (ou para encolher, como a IBM), mas parece ser importante demais para perder seu posto dentre os “campeões nacionais” da economia norte-americana, de sua indústria de ponta.

Um dos motivos para a crise que atravessa a Intel – que recentemente demitiu mais de 15 mil funcionários, viu suas ações despencarem e corre o risco de ter que fazer um recall de milhões de seus processadores – é sua insistência em ainda fabricar semicondutores. A maioria de seus concorrentes, como AMD, NVidia e a própria Apple que agora projeta os processadores de seus produtos, não fabrica nada, apenas faz o projeto. As fábricas de semicondutores, foundries, como são conhecidas em inglês, ficam quase que todas concentradas em Taiuã ou na Coreia do Sul. Quando se fala em chips de alto desempenho, praticamente tudo é produzido por uma única empresa, a taiuanesa TSMC.

A Intel possui fábricas na China, mas também possui nos Estados Unidos e em outros países. Investimentos de caráter duvidoso prepararam o terreno para criar novas fábricas na Alemanha, onde o custo energético teve aumento meteórico após sanções contra a Rússia; e em “Israel”, onde a guerra atrapalhou os planos da Intel. Mas esses erros foram residuais na atual situação da Intel que, ao não se especializar num dos elos da cadeia produtiva de microprocessadores, ficou para trás em todos os aspectos.

Ainda assim, há um chance não trivial de que a China decida incorporar Taiuã definitivamente. Caso o conflito com os Estados Unidos esteja mais quente do que está hoje, a produção de microprocessadores, essenciais para os equipamentos modernos de guerra, para inteligência artifical, pode ser comprometida, ao menos para o lado imperialista do conflito. Não à toa, o governo norte-americano oferece bilhões em subsídios à Intel. Oferece também à TSMC, para que construa fábricas em solo norte-americano, mas a matriz continua mantendo os processos mais sofisticados.

A Intel é uma empresa essencial dada a perspectiva de um conflito de largas proporções entre imperialismo e China. Não por acaso, apesar de toda a crise que enfrenta e dos subsídios já recebidos, fechou contrato bilionário com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos na última semana. A gigante do século XX, que chegou a dominar quase que integralmente o mercado de computadores pessoais e servidores, perdendo espaço apenas com a chegada da computação móvel (celulares), é apenas uma sombra do monopólio monstruoso que já foi, mas continuará viva à base de “aparelhos”. Assim como o cambaleante presidente Joe Biden, é uma representação material da decadência do imperialismo.



* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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