O MRT publicou em seu sítio, nesta quinta-feira (5), um editorial intitulado “A catástrofe capitalista no RS e a greve nas federais reforçam a necessidade de uma oposição de esquerda ao governo Lula”. É um título que revela o oportunismo dessa ala da esquerda, que em seu esquerdismo desmedido, termina ao lado de Eduardo Leite (PSDB), governador neoliberal do Rio Grande do Sul, que tenta colocar a culpa no governo Lula pela tragédia ocorrida no estado.
A matéria começa com um tom ambientalista, bem ao gosto da política imperialista, chamando atenção para as “mudanças climáticas” e dizendo: “a tragédia capitalista no Rio Grande do Sul comoveu o país e escancarou a necessidade de combater não apenas a extrema direita negacionista, mas todo consenso extrativista e predatório sustentado por todos os governos em nosso país”. – grifo nosso.
Quando lemos coisas como “extrativismo predatório”, vemos aí a clara influência das ONGs financiadas pelo imperialismo que tentam a todo custo impedir que o Brasil explore seu petróleo, para que ele fique no subsolo à espera de condições mais favoráveis até que as próprias empresas transnacionais o explorem.
É uma esquerda que abandonou o socialismo e abraçou a religião do ambientalismo, típica dos pequenos-burgueses, dos quais o imperialismo tira ótimo proveito.
E os bancos?
Segundo o editorial, há uma articulação dos governos federal, estaduais e municipais “pela manutenção das políticas de austeridade fiscal e pela preservação dos lucros daqueles que são os grandes responsáveis por essa tragédia: o agronegócio e as empresas que exploram os bens comuns naturais no Brasil”. Tudo isso “com apoio do PT e será liderado por negacionistas, neoliberais e privatistas”.
Talvez o MRT tenha perdido essa parte da história, mas o governo Leite não negou nada, negacionismo ali passa longe. O tucano admitiu saber que deveria investir na prevenção de enchentes, mas não o fez porque precisava ter ‘responsabilidade fiscal’, o que traduzindo para o nosso idioma, significa guardar o dinheiro público para os bancos. Os bancos estão sugando para si os recursos públicos, são os principais responsáveis pela falência de estados e municípios, mas o MRT prefere falar de “negacionismo”, o que apenas impede que se ataque a raiz do problema.
As greves
O MRT procura também utilizar a greve nas federais para abrir outro flanco de ataque contra o governo Lula, desta vez pela ‘esquerda’. Essa greve, no entanto, não necessita estar em oposição a Lula, e muito menos surgiu com esse intuito.
O movimento grevista está lutando para melhorar suas condições de vida, aumento salarial, etc., e nada mais oportuno que um governo de esquerda para a classe trabalhadora lutar por seus direitos. Dialeticamente, a movimentação dos trabalhadores pode favorecer um governo de esquerda, pois a pressão das bases pode ajudar a vencer os obstáculos impostos por um Congresso e Senado extremamente reacionários.
Tentando justificar seu ponto de vista, o editorial cita na sequência a greve dos professores do Paraná contra Ratinho Jr. que quer privatizar o ensino. O texto, desse modo, procura induzir o leitor a misturar as figuras do governador bolsonarista do Paraná e do presidente da República.
O editorial do MRT é como um grande liquidificador no qual se atira tudo dentro. Dos professores no Paraná, passa a falar subitamente que “todas essas questões brasileiras estão inseridas no plano internacional de um interregno convulsivo, marcado pelo bárbaro genocídio do povo palestino promovido pelo Estado sionista de Israel, pelo avanço do militarismo das potências imperialistas, em particular com a Guerra na Ucrânia, pelas consequências da espoliação imperialista através da dívida pública nos países oprimidos, como na Argentina, e pelas expectativas diante das eleições norte-americanas que com a condenação de Trump, mesmo que ainda se mantenha elegível, continuam incertas”.
Essa confusão não é gratuita, pois logo dizem que “mesmo com crianças sendo queimadas vivas em Rafah, Lula mantém todas as relações políticas, econômicas e comerciais com Netanyahu e o Estado de Israel”.
Golpismo
O que nos chama a atenção no editorial do MRT é que praticamente não cita o governo Eduardo Leite e os bancos como responsáveis pela tragédia no Rio Grande do Sul, enquanto Lula, ou seu governo são citados frequentemente. Todo tipo de pretexto é utilizado para atacar: enchentes, Arcabouço Fiscal, greve de professores e servidores, guerra na Ucrânia, genocídio em Gaza, eleições americanas, mudanças climáticas. Tudo de alguma maneira vai sendo colocado na conta de Lula.
Esse tipo de matéria se assemelha ao comportamento de setores da esquerda antes do golpe contra Dilma Rousseff. O PSTU, por exemplo, dizia que o governo petista e o imperialismo seriam uma única coisa.
Essa esquerda que praticamente não saiu às ruas em defesa da Palestina, nem mesmo para se opor aos bolsonaristas que ostentam bandeiras de ‘Israel’, que festejou a eleição de Biden, e que apoia a OTAN, aparece agora dizer que “a conciliação de Lula é o que vem fortalecendo a extrema-direita”.
O MRT declara que “a greve das federais pode forjar uma nova vanguarda de oposição de esquerda ao governo Lula (…) toda esquerda socialista e independente precisa cercar de solidariedade e dar visibilidade a essa batalha”. Quer com isso subverter uma greve dos trabalhadores e transformá-lo em um movimento golpista.
Não devemos nos enganar. Apesar de o editorial do MRT ser confuso, deixa muito claro o que está em jogo. Conforme a polarização no mundo e no Brasil aumentam, o imperialismo poderá novamente contar com determinados setores pequeno-burgueses para tirar do poder ou derrotar um governo de esquerda.