No dia 23 de setembro, o ex-presidente boliviano, Evo Morales, principal liderança popular do país andino e do partido Movimento Al Socialismo (MAS), chegou à capital da Bolívia, depois de uma marcha que percorreu 280km, desde a cidade de Caracollo até La Paz. Durante a caminhada, o movimento liderado pelo ex-presidente arrastou milhares de trabalhadores e populares, dispostos a acompanhar Morales na marcha até a capital boliviana.
A marcha teve início no dia 17 e esta foi denominada “Marcha para salvar a Bolívia”. De acordo com o próprio ex-presidente, o objetivo do protesto é acabar com a “traição e acima de tudo a corrupção, a proteção do tráfico de drogas e a má gestão”.
A marcha teve como estopim a crise de combustíveis que neste momento afeta a economia boliviana, com altas de 56% (gasolina) e 86% (diesel). No entanto, este pode ter sido somente o estopim, na medida em que o que está verdadeiramente em jogo na Bolívia é a luta contra o golpe que a ala direita do MAS – liderada pelo atual presidente, Luis Arce – leva adiante contra Morales, na tentativa de impedir que o ex-presidente se apresente como candidato ao pleito eleitoral que se realizará em 2025 para eleger o novo mandatário do Estado Plurinacional boliviano.
Arce e seus aliados não querem que a liderança popular indígena concorra a mais um mandato presidencial, pois uma vez candidato, pode comprometer os planos de Arce em direção a um segundo mandato. O direitista atual presidente sabe perfeitamente bem que Morales tem amplo apoio não somente no MAS, como também e principalmente no movimento popular de massas da Bolívia, incluindo aí o forte, bem organizado e combativo setor operário do país, liderado pelos trabalhadores da mineração.
Meses atrás a Corte Constitucional do país decidiu que Morales não poderia mais ser candidato, buscando impor uma lei que impede candidatos que já ocuparam o cargo máximo do país por duas vezes consecutivas, ou alternadas, a concorrerem a mais um mandato, o que é o caso de Evo Morales. Assim, as portas ficam abertas para que o atual presidente possa se candidatar a um novo mandato em 2025 sem o inconveniente de ter que enfrentar Morales, a mais expressiva liderança popular do país andino.
A manobra é um golpe “legal” contra Morales, que vem denunciando o caráter direitista do governo antipopular de Luis Arce, eleito no rastro da luta popular de massas que derrotou o golpe de Estado de 2019 orquestrado pelos militares e o imperialismo norte-americano.
Desta forma, mesmo com todas as limitações de ordem programática, o ex-presidente Evo Morales vem mostrando aos “esquerdistas” da América Latina que a mobilização popular e de massas é a única estratégia que pode ser vitoriosa contra a direita e a extrema direita, a esquerda pequeno-burguesa, os militares golpistas e o imperialismo.