Nessa quinta-feira (18), as Forças Armadas do Paquistão realizaram bombardeios no território do Irã, perto da fronteira entre os dois países. Segundo declaração oficial do Estado paquistanês, os ataques foram realizados a esconderijos de grupos separatistas que estariam localizados na região sudeste do Irã, na província de Sistão e Baluchistão.
Foi frisado que tais ataques militares foram “de precisão”, “altamente coordenados e especificamente direcionados”, voltados a atingir bases utilizadas pelo Exército de Libertação do Baluchistão (BLA) e pela Frente de Libertação do Baluchistão (BLF), dois grupos que travam uma guerra de guerrilhas pela autonomia da região do Baluchistão.
O ataque do Paquistão contra o território iraniano, com a finalidade declarada de atingir esses grupos, veio logo em seguida a semelhante ataque realizado pelo Irã, na terça-feira (16), que bombardeou posições do Jaish ul-Adl, grupo sunita que também luta pela autonomia do Baluchistão e que é um ferrenho opositor da Revolução Iraniana. Segundo o governo do Irã, esse grupo seria uma guerrilha fiduciária dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, para agir contra o país persa e desestabilizar a região em prol dos interesses do imperialismo. Não coincidentemente, já entrou em conflito com o Talibã.
Assim, por ora, não parece haver um conflito entre o Irã e o Paquistão, embora seja necessário aguardar o desenvolvimento da situação. Os ataques realizados por ambos os países aos respectivos territórios, ao que tudo indica, têm relação à questão do Baluchistão, algo reforçado pela declaração do Ministério de Relações Exteriores paquistanês:
“O Paquistão respeita plenamente a soberania e a integridade territorial da República Islâmica do Irã. O único objectivo do ato de hoje foi em prol da própria segurança e do interesse nacional do Paquistão, que é primordial e não pode ser comprometido.”
Como já foi possível perceber, trata-se de uma região em que há uma movimentação política visando a sua autonomia. Isto é, a formação de um Estado Nacional do Baluchistão. Acontece que a região abrange partes do território do Irã, do Afeganistão, do Paquistão e da Índia. De forma que deve ser questionado a quem interessaria retirar parte dos territórios desses países.
Vale lembrar o caso das Forças “Democráticas” Sírias (SDF) e das Unidades “Populares” de Defesa (YPG). O que são esses grupos? Respectivamente, uma coalizão de organizações e uma organização armada que, sob uma reivindicação de um nacionalismo curdo, vem sendo utilizadas pelos Estados Unidos desde 2011 contra o povo da Síria e governo nacionalista de Bashar al-Assad.
Então deve-se ter esse caso em mente ao se abordar o caso do Baluchistão, e os recentes ataques trocados entre Irã e Paquistão.
Dito tudo isto, o central de toda essa situação, isto é, do ataque realizado pelo Irã, contra as posições do Jaish ul-Adl no Paquistão, é o avanço da indústria militar do Irã, especialmente a capacidade de seus mísseis balísticos.
Segundo matéria publicada na rede de notícias inglesa BBC, a Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) deu, em apenas 24 horas, uma grande demonstração de suas capacidades militares. A quem? Aos Estados Unidos e a “Israel”. Basta relembrar os recentes ataques que o país persa realizou contra posições do Mossad (agência de espionagem israelense) no território da Síria. Segundo a matéria do jornal britânico, “O IRGC disse ter usado um míssil Kheibar Shekan (Castle Buster), que pode viajar até 1.450 km, para atingir Idlib.”
E qual a relevância disto? A distância entre a fronteira do Irã e Telavive, capital de “Israel”, é de menos de 1.400km, de forma que a capacidade militar do país persa representa uma real ameaça ao Estado sionista e, consequentemente, ao imperialismo.