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São Paulo

Militantes pró-Palestina vão à delegacia por ‘antissemitismo’

Ofensiva sionista leva dois militantes do GOI à deporem na Delegacia de Crimes Raciais e Intolerância por "antissemitismo"

Na última segunda-feira (11), militantes do Grupo Operário Internacionalista (GOI) foram levados à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para prestar depoimentos após pressão feita pela deputada Carla Zambelli (PL-SP). Os militantes do GOI Sandra Fortes e Yan Felipe estiveram no Decradi, no centro de São Paulo, para depor sobre as atividades e publicações do grupo em defesa do povo palestino. 

A acusação, baseada na suposta prática de “antissemitismo”, é denunciada pelo GOI e por movimentos de solidariedade à Palestina como um claro exemplo de como o sionismo tenta sufocar seus inimigos, Militante do GOI, William falou ao Diário Causa Operária (DCO), descrevendo o episódio como uma “cortina de fumaça” internacionalmente disseminada para desmoralizar a defesa dos direitos do povo palestino.

“Na verdade, essa acusação de antissemitismo é uma forma que eles estão utilizando no mundo todo. Nos Estados Unidos, na Alemanha, na França… várias pessoas estão sendo perseguidas judicialmente, nas redes sociais e até com inquéritos policiais com essa acusação. O que acontece é que a nossa luta em defesa do povo palestino não tem nada a ver com antissemitismo; nossa luta é contra o Estado de ‘Israel’, que é um estado fundamentalmente racista desde a sua criação.”

William enfatizou que o movimento jamais se posiciona contra a fé judaica ou o povo judeu, mas sim contra a ditadura israelense, apontando o caráter histórico e opressor do sionismo. “‘Israel’ é um Estado que, para se consolidar naquela região, expulsou entre 800 mil a um milhão de palestinos em 1948, e esse processo de expulsão conhecido como Nakba (palavra árabe que significa ‘catástrofe’), que chamamos de limpeza étnica, nunca parou. ‘Israel’ expandiu suas fronteiras e continua com o mesmo método. Agora mesmo, estão expulsando palestinos do norte de Gaza para ocuparem as áreas com colonos. Então, o que coloca em risco o próprio povo judeu hoje é o Estado de ‘Israel’”, diz.

O caso do GOI é apenas um entre muitos exemplos de uma ampla ofensiva contra movimentos que defendem a causa palestina. No Brasil, além do GOI, outras organizações de esquerda e movimentos estudantis têm sido alvo de investigações e processos, todos sob a acusação infundada de antissemitismo. “Não somos apenas nós. Temos companheiros do PCO sendo perseguidos, estudantes da USP, estudantes de Fortaleza. Recentemente, um professor do Rio Grande do Sul foi condenado a dois anos de prisão e a pagar multa, simplesmente por manifestar apoio à Palestina. Tudo isso é parte de uma ofensiva nacional para calar as vozes que denunciam o genocídio palestino”, acrescentou William.

Ele relembra, inclusive, que até judeus progressistas estão na mira da repressão. Um dos exemplos citados foi o jornalista Breno Altman, judeu e membro do PT, também acusado de antissemitismo. “Acusar um judeu de ser antissemita é como acusar uma pessoa negra de ser racista. Não tem fundamento nenhum nessa acusação, é completamente absurdo”, criticou William. Ele destacou que existe uma oposição crescente dentro do próprio povo judaico, inclusive dentro de “Israel”, contra as atrocidades cometidas pelo regime sionista. “Tem setores do próprio povo judeu, inclusive em ‘Israel’, que se opõem ao genocídio praticado contra os palestinos. Acusar o Breno Altman de antissemitismo mostra o quão infundada é essa acusação”.

William recorda que o povo judeu sofreu com o nazismo e que muitos dos métodos de segregação, de limpeza étnica e violência que vemos hoje no genocídio palestino foram também empregados contra judeus, comunistas e outras minorias durante o regime nazista. “Hoje, o que vemos é ‘Israel’ utilizando os mesmos métodos que condenaram outros povos à miséria e à morte. Em Gaza, os palestinos vivem segregados. A qualquer momento, ‘Israel’ pode lançar um ataque aéreo, matar crianças, mulheres, idosos, e destruir lares. Isso é genocídio e precisa ser dito. A luta pela Palestina tem o mesmo caráter que teve a luta contra os nazistas”.

“Estão tentando calar a nossa voz justamente para que sigam massacrando o povo palestino, acobertados pelas instituições estatais. Hoje, milhões de trabalhadores ao redor do mundo têm plena consciência do genocídio que está acontecendo em Gaza e são solidários à causa. E é isso que eles querem impedir”, disse.

William também destacou a urgência de uma ação unificada entre os movimentos e organizações que defendem a causa palestina. Para ele, a resposta para essa ofensiva repressiva não pode ser individualizada, mas deve ser coletiva e organizada.

“É urgente que todos nós, que estamos na luta pela Palestina e sendo perseguidos, nos unamos em defesa dos nossos direitos. Precisamos juntar forças com o PCO, com a Frente Palestina, com o Breno Altman, com o professor Jamal. Até agora, cada um está se defendendo isoladamente, mas isso precisa mudar. A Associação Judaica Brasileira, com outros aliados, coordena essa ofensiva, e a nossa defesa precisa ser igualmente organizada”, defendeu o militante.

Essa união, segundo William, é essencial para garantir que as vozes que defendem a Palestina não sejam abafadas e que o direito de expressão, garantido pela Constituição brasileira, seja respeitado. “A nossa liberdade de expressão não será garantida pela justiça burguesa; será conquistada pela nossa capacidade de luta e resistência. A repressão quer calar todos os que defendem o povo palestino, mas juntos, temos força para enfrentar essa censura”.

Militante do GOI, William falou com o Diário Causa Operária sobre as perseguições sionistas contra a organização

William aponta que há uma reinterpretação abusiva da própria Constituição brasileira, usada para restringir o direito de manifestação.

“Querem nos enquadrar numa lei anti-racismo para calar nossa defesa do povo palestino. A Constituição de 88, mesmo sendo burguesa, garante o direito à livre expressão, e essa acusação de antissemitismo contra nós é um abuso legal e político.”

Esse abuso não se limita ao Brasil, mas faz parte de uma política do imperialismo de impor uma censura e uma repressão cada vez mais duras contra os povos oprimidos. William ressaltou que a repressão aos movimentos pró-Palestina é parte de uma tentativa de calar a denúncia internacional do genocídio.

“A crise do capitalismo se expressa nas guerras, e o genocídio palestino é um exemplo claro disso. Eles se utilizam da lei, da repressão, para impor um silêncio sobre as atrocidades que estão cometendo. Sabem que estão no poder, que controlam as instituições, e usam isso contra nós.”

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