O portal de notícias Mintpress publicou o artigo intitulado Documentos vazados revelam a exploração secreta da inteligência britânica de refugiados palestinos, no qual traz informações exclusivas sobre a manipulação da inteligência britânica não somente de palestinos, mas de outros grupos para a desestabilização e derrubada de governos.
Os documentos vazados revelam a manipulação de refugiados palestinos na Síria e no Líbano por parte do MI6 – serviço de inteligência britânico – para derrubar o governo de ambos os países.
O portal revela que o MI6 executou amplos programas de guerra psicológica durante a guerra de procuração na Síria para derrubar o governo de Bashar Assad e convencer o público interno e externo de que a alternativa apresentada pelo imperialismo era “moderada e legítima”. O MI6, utilizando a Innovative Communications & Strategies (InCoStrat), gerenciava e desenvolvia uma “rede local de interlocutores, líderes importantes e coordenadores locais” para gerar informações e manipular o “desenvolvimento da situação na Síria”.
Uma das fundadoras da InCoStrat, Emma Winberg – oficial de longa data do MI6 – também atuou numa base regional do MI6 em Jerusalém, na qual relatou sobre “organizações extremistas violentas” ativas em Gaza, “inclusive durante a Operação Cloud Pillar” – operação esta em que as forças de ocupação israelenses assassinaram quase 200 civis palestinos e um comandante do Hamas. Segundo o portal, isto já “estava de acordo com a estratégia do MI6 de “degradar as capacidades” dos “rejeitadores” da Autoridade Palestina pró-sionista”.
Para além disto, a empresa também gerenciou um “programa de pequenas doações de US$25 milhões para apoiar diretamente a estabilização da comunidade, envolver os jovens e os atores moderados nos Territórios Palestinos” para a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional de 2005 a 2007. Durante este processo, os funcionários da empresa “informaram sobre a situação política, econômica e de segurança” localmente, “incluindo extensas reportagens durante a instabilidade interna em Gaza”.
Esta atuação da InCoStrat em Gaza preparou o Reino Unido para a manipulação da opinião pública na Síria. Com as informações obtidas na Palestina, o MI6 atuou nos acampamentos de refugiados palestinos no Líbano, acampamentos estes que contam com cerca de 300.000 palestinos, através da ARK, outra sucursal do imperialismo britânico. A ARK é uma empresa fundada e dirigida por Alistair Harris, agente do MI6, e atua desde 2009 nos acampamentos de refugiados palestinos na Síria. Em arquivos que vazaram, a empresa se vangloria de sua “compreensão granular” da dinâmica interna política, econômica, ideológica, religiosa e cotidiana dos campos.
ARK alega que tem como objetivo aumentar a demanda por “engajamento comunitário e melhores condições” entre os residentes do campo e atuou em diversos projetos sociais nos acampamentos como o reparo e a restauração de ruas e cemitérios, a reciclagem, a promoção de pequenas empresas, o fornecimento de assistência social a moradores desfavorecidos e deficientes, a administração de berçários e creches e até mesmo o lançamento de uma cafeteria local. Ao mesmo tempo que lançava uma rede social altamente utilizada nos campos. Entretanto, a ARK utilizava da sua penetração nos campos não apenas para monitorar os refugiados mas para manipula-los.
O objetivo final dos projetos da ARK era criar um exército secreto de ativistas contra o governo, que pode ser ativado para causar problemas se e quando a inteligência britânica desejar. Em documentos vazados da ARK, a empresa caracteriza os refugiados palestinos como um segmento da população diversificada de Beirute que poderia ser unido em oposição ao governo do Líbano e, portanto, mobilizado para “afetar a mudança social positiva”, ou seja, derrubar o governo libanês. Logo após o vazamento destes documentos e a publicação de novas pesquisas da ARK, o Líbano enfrentou uma onda massiva de manifestações, na qual a mídia imperialista classificou como uma “revolução”.
O Líbano também foi fundamental para a oposição do governo Bashar Assad. O país foi um polo de oposição à Síria, o qual foi dirigido e integrado pela ARK antes da “revolução”. Segundo o portal, a oposição a Assad no Líbano
“(…) propôs a convocação de manifestações em massa em todas as principais cidades sírias para que as forças de segurança “percam o controle de todas as regiões”, sejam “pegas de surpresa” e fiquem “exaustas e distraídas”. Isso, juntamente com a adesão de “oficiais e soldados honestos” às “fileiras da revolução”, tornaria mais fácil a “derrubada do regime”. A previsão era de que qualquer repressão a esses protestos precipitaria um “ataque militar” ocidental”.
Com o aumento da interferência da inteligência imperialista a crise fomentada por estes transforma-se em uma guerra por procuração. Apesar da incapacidade do imperialismo de derrubar o governo de Assad, a penetração deste nas sociedades libanesas e sírias é tremenda e grande parte desta penetração se deu através da manipulação psicológica dos refugiados palestinos.
Os documentos revelados pelo Mintpress colocam às claras que organizações e iniciativas da sociedade civil com foco na Palestina são frequentemente construídas pela inteligência britânica sem que os participantes ou as populações locais tomem conhecimento dos verdadeiros patrocinadores e propósitos a que servem. Com o plano de “Israel” de reconstruir Gaza pós-genocídio caso ganhe a guerra com o Hamas, cabe refletir sobre como os líderes substitutos propostos serão quase inevitavelmente controlados pelo MI6 através de programas patrocinados e, portanto, ativos britânicos, conscientemente ou não.