A revista Movimento, do MES-PSOL, publicou nesta quinta-feira (24) uma resolução intitulada “Um caminho para a vitória e as tarefas da esquerda revolucionária”. Esta resolução é resultado da Conferência do Movimento Social, ocorrida nos dias 5 e 6, em Kiev. Antes de analisarmos seus itens, é preciso esclarecer que uma vitória da Ucrânia contra a Rússia como algo positivo é uma ideia falsa, pois o país está sendo usado em luta por procuração contra os russos. A derrota da Rússia significa a vitória da OTAN e uma derrota para a classe trabalhadora ucraniana e mundial.
Em nenhum dos cinco itens apresentados se aborda a questão da OTAN e não se cobra a luta contra o governo Zelensky, marionete dos interesses do imperialismo e responsável pela dilapidação da Ucrânia e pela morte de centenas de milhares de soldados. Em vez disso, encontramos uma série de propostas amalucadas de “ecossocialismo” e identitarismo.
No primeiro ponto, Uma resposta honesta aos desafios da guerra, não uma política hipócrita, lemos que
“As perspectivas incertas da vitória da Ucrânia decorrem do fato de que a única estratégia confiável para se opor ao agressor – mobilizar todos os recursos econômicos disponíveis para apoiar a linha de frente e a infraestrutura crítica – contradiz os interesses da oligarquia. Devido ao livre mercado, a Ucrânia tem uma caricatura de uma economia de guerra”.
Esse grupo, Movimento Social, propõe “nacionalizar as capacidades de produção, taxar as grandes empresas” como uma solução para encurtar a guerra e preservar vidas humanas e acredita que “A conquista da superioridade tecnológica combinada com uma abordagem cuidadosa das pessoas é o caminho para a vitória”.
Seria necessário dizer qual seria essa vitória, pois a Ucrânia está à beira de um colapso, além do fato de que o país não teria entrado em uma guerra sem que estivesse sob o comando de interesses estrangeiros.
No tópico 2, Solidariedade internacional como forma de superar a crise da ordem mundial, a resolução tenta apelar para uma espécie de nova ordem mundial, afirmando que
“Para lutar contra a agressão russa e por um caminho para a reconstrução pós-guerra que beneficie o povo trabalhador, precisamos do apoio da comunidade global, incluindo assistência humanitária e militar (…) É necessária uma nova arquitetura de relações internacionais, o G7 ou os membros permanentes, na qual não haja privilégios para as ‘grandes potências’”.
E como eles esperam que isso seja alcançado? Com a boa vontade dos países ricos?
Na contramão do que deveria exigir a esquerda, o Movimento Social “defende o desarmamento nuclear”, quando deveria defender acesso a essa tecnologia para que os oprimidos possam se defender das “grandes potências”. O grupo também pede “a interação com forças de esquerda que reconhecem o direito da Ucrânia à autodefesa”, mas não existe nada parecido com autodefesa nessa situação, pois o país esta a serviço da OTAN, iria se tornar uma base militar, até mesmo nuclear, contra a Rússia.
Identitarismo e ecologia
O item 3, Construção de uma “Ucrânia para todos” como um espaço de solidariedade e segurança, descamba para o identitarismo, alega uma divisão no interior da sociedade:
“Há manifestações de chauvinismo linguístico, justificativa de hostilidade contra minorias nacionais, a comunidade queer e a promoção da uniformidade ideológica. Isso não permitirá que a luta global contra o imperialismo russo ganhe força e complicará a reintegração dos territórios ocupados”.
O grupo, no entanto, não faz referência ao nazismo, e não explica como a intolerância foi financiada e estimulada como um dos elementos de golpe de Estado que permitiu a subida ao poder de governo fantoche do imperialismo.
O Movimento Social bate na tecla de que “as demandas pela emancipação das mulheres, espaços inclusivos para pessoas com deficiência e apoio às vítimas da violência da extrema-direita podem fortalecer a capacidade da Ucrânia de resistir à tirania, tanto externa quanto internamente”. No mundo real, no entanto, o identitarismo não tem conseguido emancipar ninguém, mas semeado a divisão enfraquecimento da esquerda.
No penúltimo item dos 4, Transformação ecossocialista – A chave para a sobrevivência, dizem que
“o eco-terrorismo da Rússia, combinado com anos de exploração predatória e em larga escala dos recursos naturais por oligarcas nacionais e a negligência das autoridades em relação à proteção ambiental, representa uma ameaça aos ecossistemas da Ucrânia, incluindo sua biodiversidade, recursos hídricos limpos, fertilidade do solo e a saúde e a vida da população”.
Temos a impressão de que essas pessoas vivem em outra realidade. A Ucrânia foi metida em uma guerra para defender interesses de terceiros, os quais estão utilizando até munição com urânio empobrecido, mas o problema seria o “eco-terrorismo” russo.
A temática ambiental, as mudanças climáticas, figuram entre as principais armas do imperialismo para oprimir os países atrasados e também para introduzir na esquerda bandeiras que são verdadeiros cavalos de Troia.
Crença na democracia
Outro aspecto que a decomposição da esquerda é o abano do socialismo em nome da defesa da democracia. É o que podemos corroborar no item 5, Os trabalhadores suportaram o ônus da guerra e, portanto, merecem uma voz. Ali alegam que
“para construir uma Ucrânia ecossocial e independente, com direitos e oportunidades iguais, é necessária uma plataforma política democrática que una os trabalhadores e outros grupos oprimidos, representando seus interesses na política, incluindo a participação em eleições (…) Quanto mais cedo um processo político competitivo for restaurado, mais cedo a confiança no Estado será recuperada”.
Durante todos esses 5 itens não mencionam que a Ucrânia vive sob uma ditadura, que Zelensky governa sem mandato chancelado por eleições desde abril deste ano. Em vez de denunciar essa ditadura, fundamental para a Ucrânia sirva aos interesses da OTAN, se limitam a dizer que “O melhor remédio contra isso é a renovação democrática do poder”. O Movimento Social não tem coragem de dizer que o melhor para a população ucraniana é se unir aos russos e lutar contra a ingerência imperialista em seu país. Ao equiparar o imperialismo à Rússia, o grupo fica preso no identitarismo, o que só pode levar a classe trabalhadora à derrota.