Neste dia 05 de janeiro, há quase três décadas, no ano de 1996, o Estado nazista de “Israel” assassinou o fundador das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Movimento de Resistência Islâmica, comumente conhecido como Hamas, partido político que atualmente lidera a resistência palestina à ditadura sionista.
Iahia Abd-al-Latif Aiash nasceu em 6 de março de 1966, na cidade de Rafá, região nordeste da Cisjordânia ocupada. O mais velho de três irmãos, ao que se relata, desde criança Ayyash já se mostrava uma pessoa de grande capacidade, tendo inclusive chegado a memorizar o Alcorão, livro sagrado da religião islâmica.
Apesar disto, seu real talento não se manifestou no âmbito do islamismo, mas sim da engenharia. Vindo de uma família de boa situação financeira, as possibilidades de que seu talento fosse estimulado eram maiores. Assim, ainda criança, já mostrava apto na resolução de problemas de ordem mecânica e elétrica, tais como o conserto de aparelhos de televisão, rádios, dentre outros.
Fazendo jus a esse talento, que havia colocado em prática desde cedo, ingressou na Universidade de Birzeite (universidade pública na Cisjordânia) em 1987, obtendo o bacharelado em engenharia elétrica no ano de 1991. Inicialmente, seu objetivo era seguir a carreira acadêmica. Assim, tentou adentrar no curso de mestrado, na Jordânia.
Ocorre que Aiash era um palestino, vivendo na Cisjordânia. E a região estava, e ainda está sob o jugo ditatorial de “Israel”. De forma que, para poder realizar sua especialização na Jordânia, Aiash precisaria de autorização dos burocratas do Estado sionista. O que não lhe foi concedido. Ao que se sabe, esta foi a primeira grande manifestação de repressão por parte dos sionistas contra Aiash. Foi quando ele decidiu entrar no Hamas. De forma que a perda dessa chance, de poder seguir a carreira acadêmica, graças às arbitrariedades de “Israel”, possivelmente foi o evento catalisador de sua decisão. Naturalmente, toda a repressão ao povo palestino (algo que fazia parte de sua realidade) certamente contribuiu para isto também.
Mal se tornara membro do Movimento de Resistência Islâmico, Hamas, e Iahia Aiash desempenhou um papel fundamental em reorganizar o partido, no sentido de aprimorar sua capacidade de combate ao sionismo. E como isto foi feito? De duas formas, principalmente.
Primeiramente, conforme já dito no início deste artigo, Aiash foi ninguém menos que o fundador das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, justamente o principal agrupamento militar palestinos que vem liderando a luta armada atual contra o Estado de “Israel”, e que capitaneou a ação revolucionária do 7 de outubro.
A fundação das brigadas ocorreu através de uma reorganização interna realizada pelo Hamas. O partido já possuía unidades armadas, quais sejam, a al-Majd e al-Mujahidun al-Filastiniun. Elas foram reorganizadas e centralizadas em uma única, quais sejam as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.
Conforme já exposto por este Diário, as brigadas foram nomeadas em homenagem ao revolucionário nacionalista palestino, o Sheikh Izz ad-Din al-Qassam, cujo assassinato em 1935 pela polícia do Mandato Britânico foi o estopim para a Revolução de 1936.
Para além de seu papel essencial na reorganização interna da ala armada do Hamas, que resultou na fundação das Brigadas Al-Qassam, Aiash também foi fundamental em elevar o poderio militar do Hamas, em especial no que diz respeito à produção de artefatos explosivos. Para isto, utilizou seus conhecimentos em engenharia aprendidos durante toda sua vida e, em especial, na Universidade de Birzeite.
O Hamas surgiu em 1987, na conjuntura política da Primeira Intifada, sublevação de natureza revolucionária em que o povo palestino enfrentou as forças sionistas apenas com paus, pedras e, no máximo, coquetéis molotov. Hoje em dia, o Hamas tem milhares de combatentes, contando com foguetes, que, apesar de artesanais, são extremamente eficientes em atingir o território israelense, inclusive rompendo o “Domo de Ferro”.
Nesse intermédio, o Movimento de Resistência Islâmica utilizou-se como método de resistência os atentados suicidas. Era uma questão de necessidade, haja visto que a feroz ditadura imposta por “Israel” sobre os palestinos não lhes permitia, ainda, travar uma luta armada ampla, generalizada. Nisto, o trabalho de engenharia de Aiash, na fabricação de explosivos foi fundamental. Novamente, apesar de serem artesanais, seu conhecimento especializado foi fundamental para que os explosivos fossem eficazes, eficientes e de fácil manuseio.
O revolucionário palestino teria construído as bombas utilizado em vários atos de resistência praticados pelo Hamas na década de 1990, nomeadamente: o atentado à bomba em Mehola Junction; o atentado ao ônibus Afula, a explosão da estação central de Hadera, o atentando ao ônibus 5 de Telavive; o atentado ao ônibus Egged 3; o realizado contra o ônibus Ramat Gan 20 bombardeio e o atentado ao ônibus 26, em Jerusalém. Ademais disto, vale frisar que prestou importante serviço à Jiade Islâmica, outro grupo que conforma a resistência palestina. Isto se deu 1995, como parte de uma aliança entre o grupo e o Hamas. Na ocasião, Aiash fabricou os explosivos que foram utilizados no ataque suicida que resultou na aniquilação de 20 soldados israelenses, na Junção de Beit Leid.
Em razão de sua militância revolucionária em prol do povo palestino, e sua luta por libertar-se da ditadura de “Israel”, tornou-se um dos principais alvos do Estado sionista.
Assim, em 1995, com o assassinato de do primeiro-ministro de “Israel”, Isaque Rabin, por um sionista de extrema-direita, a ditadura aproveitou-se da oportunidade para aprofundar seu cerco contra os mais aguerridos militantes do Hamas e da resistência palestina. Utilizou-se, para isto, da recém criada Autoridade Palestina (resultado da capitulação da OLP e da Fatá nos Acordos de Olso), que, cooperando com o Shin Bet (umas das agências de espionagens do sionismo) desatou uma perseguição contra Aiash.
Então, às 8h do dia 5 de janeiro de 1996, o fundador das Brigadas Al-Qassam foi assassinado pelo Shin Bet, através de um explosivo colocado em um telefone que havia sido lhe dado por seu primo Osama Hamad. Segundo historiadores, o telefone chegara as mãos de Hamad através de seu pai, Kamil, quem era informante do Shin Bet, em troca de cidadania israelense.
Assim, como se deu com o recente assassinato de Salé al-Arouri, “Israel” assassinou Iahia Abd-al-Latif Aiash de maneira traiçoeira e covarde.
Contudo, isto não foi suficiente para barrar o avanço da resistência palestina. Muito menos para fazê-los esquecerem do fundador das Brigadas Al-Qassam. O legado de Aiash continua vivo, afinal, os membros da brigadas frequentemente referem-se a si como “estudantes de Aiash”, “estudantes do engenheiro”, “Unidades de Iahia Aiash”, ou mesmo “Discípulos de Iahia Aiash”.