Os judeus sionistas começaram a realizar a limpeza étnica da palestina antes mesmo de 1948, perpetrando expulsões e massacres com a finalidade de resolver o problema demográfico da maioria árabe já no ano de 1947, preparando o terreno para possibilitar a fundação de “Israel” no ano seguinte. Um dos mais importantes massacres perpetrados nessa época pelo sionistas foi o realizado contra Al-Khisas.
Al-Khisas, ou simplesmente, Khisas era um vilarejo árabe-palestino localizado no subdistrito de Safad, na época do Mandato Britânico da Palestina. A aldeia situava-se a 31 quilômetros a nordeste da cidade de Safed, a principal do distrito citado acima.
O ataque ao vilarejo ocorreu na noite do dia 18 para 19 de dezembro de 1947, e foi perpetrado pela Palmach, tropa de elite da Haganá. Esta, por sua vez, era a principal milícia fascista do sionismo, e em 1948 suas tropas seriam a principal base das Forças de “Defesa” de “Israel”, as forças armadas oficiais do Estado Sionista. Sobre essa milícia, releia a matéria publicada neste Diário:
Segundo o historiador Ilan Pappé, em sua obra A Limpeza Étnica da Palestina (pág. 55), o massacre cometido contra Khisas fez parte das primeiras operações militares dos sionistas na conjuntura da Nakba. Tais operações seguiam a linha política sugerida pelo militar britânico Orde Wingate de constituírem campanha sistemática de intimidação contra os palestinos. Isto foi aprovado por Ben Gurion e pela Consultoria, o principal órgão político que configurava o proto-Estado de “Israel”.
Assim, previamente à invasão da Palmach ao vilarejo de Khisas, aviões deixaram cair panfletos, com os seguintes dizeres:
“Se a guerra for levada até vocês, causará a expulsão em massa dos aldeões, com suas esposas e seus filhos. Aqueles que não desejam ter tal destino, eu lhes direi: nesta guerra haverá uma matança impiedosa, sem compaixão. Se vocês não participarem nesta guerra, não terão que deixar suas casas e aldeias.” (Pappé, 2007, pp. 56)
Em suma, uma campanha visando a aterrorizar a população, estimulando o seu êxodo com o mínimo de esforço por parte das tropas sionistas.
Nessa conjuntura, havia ataques que estavam programados contra três aldeias da alta Galiléia, a saber, Khisas, Na’ima and Iahula. Contudo, foram cancelados, pois o alto comando da Palmach entendia que eram muito ambiciosos. Contudo, Ygal Allon, comandante da tropa ao norte, resolveu prosseguir no ataque contra Khisas (Pappé, 2007, pp. 57)
O dia do massacre então chegou e, como sempre tende a ocorrer, foi realizado sem nenhuma misericórdia. O pretexto dado pela Palmach foi o de que estavam buscando um palestino que teria matado um judeu em uma carruagem mais cedo no dia, e que estaria em Khisas. Este teria sido um assassinato político e, por isto, deveria haver retaliação (Benvenisti, M. (2000). Sacred Landscape: The Buried History of the Holy Land Since 1948. University of California Press. p. 103). É claro, era apenas um pretexto para justificar as ações iniciais da limpeza étnica.
As ordens recebidas pelas tropas da Palmach eram para “bater em homens adultos [ou adultos]” e “matar homens adultos [ou adultos] no palácio do Emir Faur”. Segundo o historiador judeu israelense Benny Morris, em sua obra The Birth of the Palestinian Refugee Problem Revisited, págs. 79-80, o palácio de Faur e outra casa vizinha foi explodida pela Palmach, resultando na morte de inúmeros palestinos, inclusos mulheres e crianças.
Segundo relatório da própria tropa de elite da Haganá, o número de mortos foi de 12 (7 homens, 1 mulher e 4 crianças) (The New York Times, 20 December 1947 and 22 December 1947).
O massacre foi resultado de uma desobediência de Ygal Allon ao alto comando da Palmach. Contudo, ele não foi punido. “Ben-Gurion emitiu um dramático pedido público de desculpas, alegando que a ação não tinha sido autorizada, mas, alguns meses depois, em abril, ele o incluiu em uma lista de operações bem-sucedidas.” (Pappé, 2007, pp. 57).
Tão bem sucedida que quando a Consultoria se reuniu novamente, no dia 17 de dezembro, dela participaram dois oficiais de nome Yohana Ratner e Fritz Eisenshtater, convidados por Ben Gurion, e nomeados para elaborar uma estratégia nacional baseada na bem sucedida operação em Khisas. Uma estratégia de cunho retaliatório e intimidatório, que deveria incluir a expulsão dos palestinos de suas casas, e a destruição dos vilarejos. E, é claro, nas terras tomadas, o assentamento de colonos sionistas.
Assim, o massacre de Khisas (ou Al-Khisas) é mais um exemplo de como o Estado de “Israel” foi fundado sobre o sangue dos palestinos.