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100 anos

Marxismo-leninismo: o disfarce dos contrarrevolucionários

Ao destacar a importância do marxismo-leninismo, reconhecemos a contribuição vital de Lênin à doutrina, mas é indispensável discernir a manipulação política dos stalinistas

Vladimir Lênin, figura proeminente na Social Democracia Russa, deixou um permanente impacto no cenário político do século XX. Construtor do Partido Comunista Russo, arquiteto da Internacional Comunista e líder incontestável da Revolução Russa de 1917, Lênin não apenas se destacou na prática revolucionária, mas também se destacou como um dos principais teóricos do marxismo.

Ao analisar seu papel, percebemos que Lênin foi além de ser um mero executor do marxismo. Ele personificou a essência das teses marxistas por meio de uma prática revolucionária incisiva. Embora reconheçamos que o trabalho revolucionário é coletivo, Lênin desempenhou um papel crucial no desenvolvimento prático das principais ideias marxistas, levando-as às últimas consequências.

Ao destacar a importância do marxismo-leninismo, reconhecemos a contribuição vital de Lenin à doutrina. Embora respeitemos a grandeza intelectual de Marx como o “cérebro” do marxismo, é justo enfatizar o papel político e revolucionário desempenhado por Lênin, dando origem ao termo marxismo-leninismo.

A contribuição subsequente de Trótski, crítico do stalinismo e desenvolvedor de aspectos da doutrina marxista e leninista, acrescentou questões fundamentais o marxismo. Enquanto podemos considerar uma certa legitimidade no termo marxismo-leninismo-trotskismo, é indispensável discernir a manipulação política dos stalinistas que usaram o termo como disfarce, desviando-se do legado genuíno de Marx e Lênin.

Um exemplo marcante do caráter contrarrevolucionário do stalinismo é a contribuição de Stálin para a criação do Estado de Israel, uma ação caracterizada como contrarrevolucionária pelos primeiros congressos da Internacional da época de Lênin. A utilização indiscriminada do termo marxismo-leninismo por aqueles que seguem a doutrina stalinista revela um revisionismo grotesco e uma deturpação do verdadeiro significado do legado revolucionário.

A lembrança de Lênin, muitas vezes vinculada à hostilidade da burguesia, continua a ressoar na história mundial. A Revolução Russa de 1917, ao confirmar teses fundamentais do marxismo, como a ascensão da classe operária como força revolucionária, estabeleceu um marco crucial. A transformação do mundo em uma era de transição entre o capitalismo e o socialismo, juntamente com diretrizes gerais para a luta revolucionária, consolidou o legado revolucionário de Lênin.

Vladimir Lênin, uma figura proeminente na Revolução Russa de 1917, sua liderança durante esse período crucial não apenas delineou o destino da Rússia, mas também serviu como laboratório para a validação de teses fundamentais do marxismo.

A Revolução Russa, um divisor de águas histórico, confirmou a pertinência das teses marxistas ao explorar temas como a luta de classes, a dinâmica econômica das classes sociais e o papel catalisador da revolução na condução da história. O surgimento contundente da classe operária como uma força revolucionária em um país com cerca de 200 milhões de habitantes, onde 10 milhões eram trabalhadores proletários, solidificou o poder dessa classe.

Além de corroborar os princípios marxistas, a Revolução Russa sinalizou uma transição iminente entre o capitalismo e o socialismo. Alterações estruturais, como a abolição do livre mercado, a consolidação de grandes monopólios de produção e a transformação da produção em uma escala social, indicaram a proximidade do socialismo. Contudo, a persistência da propriedade privada dos lucros delineou um período transitório crucial.

A Revolução Russa também forneceu diretrizes para a luta revolucionária, sublinhando aspectos como a importância da luta armada, a autonomia política dos trabalhadores e a organização soviética. No entanto, após esse evento marcante, surgiram interpretações questionáveis, como a noção de uma revolução pacífica e a negação da necessidade de um partido revolucionário para liderar o movimento.

A morte de Lênin em 1924 marcou um ponto crucial na história, desencadeando uma batalha pelo seu legado. O stalinismo, ao tentar se autoproclamar como continuação do leninismo, distorceu o legado político, teórico e prático de Lênin. As teses fundamentais do leninismo foram descartadas e substituídas por uma versão revisionista grotesca, com a burocracia arriscando o estado operário, que eventualmente foi liquidado.

A burocracia, ao buscar cobertura no legado leninista, tornou-se anti-leninista ao reprimir a verdadeira doutrina leninista, inclusive por meio de prisões, mortes e torturas dos que a defendiam. A utilização do leninismo como uma fachada pela burocracia, conforme antecipado por Lênin, já tinha destacado a exploração de imagens revolucionárias para encobrir opressões.

Embora o stalinismo, em determinado momento, tenha persuadido muitos de que era uma continuação legítima do leninismo, esse fenômeno perdeu força com o tempo. Hoje, observamos uma significativa redução na crença de que o stalinismo representa fielmente o legado de Lênin. A história de Marx, Engels e Lênin também foi reivindicada pelos trotskistas, embora muitas organizações desse grupo tenham sucumbido a políticas revisionistas.

Logicamente, o primeiro fenômeno é um grande drama social histórico, o stalinismo. O segundo fenômeno é um fiasco, um fracasso da Quarta Internacional, por motivos muito objetivos, mas é um fato. Assim, hoje em dia, encontramos o que poderíamos chamar de filo-stalinistas e filo-trotskistas; todos eles estão irmanados com o imperialismo mundial, como podemos observar nos últimos acontecimentos. Como o caso da Ucrânia, o mais significativo, mas também o da Palestina, onde a maioria dessas forças, logicamente, não se posiciona contra os palestinos que estão morrendo em grande número na Faixa de Gaza. Isso seria absurdo; até mesmo sionistas expressam “solidariedade” com os palestinos. Entretanto, empenham-se em desmerecer essa luta. Alguns chegam ao extremo de afirmar que a resistência armada do povo palestino, liderada pelo Hamas e outras organizações, é contrarrevolucionária, o que é um total contrassenso.

Em meio às complexidades da Revolução Russa de 1917, as polêmicas entre Vladimir Lenin e Leon Trótski, dois pilares essenciais desse movimento histórico, oferecem uma importante  reflexão sobre as dinâmicas de um partido revolucionário. É crucial salientar que, em qualquer cenário político, a existência de pensamentos divergentes é não apenas natural, mas também parte intrínseca do jogo político. A relação entre Lenin e Trótski não escapou a esse fenômeno.

As divergências entre esses líderes revolucionários, durante o governo da União Soviética, focaram-se em pontos específicos, não se estendendo a uma concepção geral. A primeira delas surgiu em relação ao momento apropriado para a insurreição e se esta deveria ser feita em nome dos soviéticos ou do partido revolucionário. Inicialmente, a maioria do partido bolchevique discordou de Lenin, mas Trótski, exibindo flexibilidade, foi o primeiro a adotar a posição do líder.

Devemos compreender que Lênin não era uma figura sagrada, mas um militante com vasta bagagem e autoridade. Discordâncias eram não apenas esperadas, mas também consideradas normais. Outra divergência surgiu após a vitória revolucionária, quando o Partido Bolchevique, que prometera encerrar a guerra, enfrentou desafios nas negociações com os alemães. Embora Lênin estivesse correto em sua abordagem corajosa, o partido, incluindo Trótski, inicialmente se opôs.

Essas divergências eram, essencialmente, pontuais, não envolvendo questões ideológicas. Destaca-se que, em questões cruciais, Lênin e Trótski encontraram convergência. Antes da Revolução Russa, Trótski previu, em 1905, que ela levaria a classe operária ao poder, enquanto Lênin discordava. Durante a Revolução, ambos chegaram a uma posição comum.

É natural que um partido revolucionário enfrente divergências, e embora possam apresentar desafios, são inerentes à dinâmica política. Ao contrário dos stalinistas, que criaram um mito religioso em torno da conformidade com Lênin, é possível reconhecer divergências sem adotar uma visão religiosa da política. Curiosamente, aqueles que criticaram Trótski por suas divergências com Lênin acabaram por descartar as lições fundamentais da Revolução Russa, adotando posições que Lênin nunca apoiou, como a Revolução por Etapas.

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