Desmentindo a posição oficial apresentada pelo Estado israelense e os EUA, o assassinato do grande líder do Hesbolá, Hassan Nasseralá, revela a guinada belicosa do imperialismo no Oriente médio.
Os recentes ataques israelenses ao Líbano, patrocinados pelos cofres norte-americanos, chamam a atenção pela quantidade de civis mortos. Só no assassinato de Hassan Nasseralá, estima-se que 300 civis faleceram como efeito colateral. Segundo autoridades israelenses, mais de 20 membros do Hesbolá teriam sido assassinados junto de Hassan. O Estado sionista ainda disse que o ataque foi justificado porque “Nasseralá construiu intencionalmente o quartel-general do Hesbolá sob prédios residenciais em Dahiya”.
Devido à brutalidade dos ataques, o imperialismo vem tentando conciliar sua posição contraditória. Por um lado, temos a ação concreta do Estado sionista atacando o Líbano, segundo o primeiro-ministro israelense, são ações motivadas pelos ataques do Hesbolá ao norte do território de “Israel”, que faz fronteira com o Líbano. Por outro lado, a retórica apresentada pelo imperialismo, em especial os EUA e União Europeia, apontam a necessidade de se estabelecer a paz duradoura na região.
Esse “desencontro” entre israelenses e o resto do bloco imperialista, como bem demonstrado no recente discurso de Netaniahu em Nova Iorque, na sede da ONU, parece isolar os israelenses em sua atual intervenção no Líbano. No entanto, como já demonstrado no genocídio de Gaza, apesar de condenarem a sanguinolência israelense, os líderes ocidentais se recusam a tomar qualquer decisão concreta que possa impedir, ou ao menos dissuadir, o Estado sionista em sua escalada de violência.
Tal situação denota que: apesar do bloco imperialista entender que uma escalada no Oriente Médio seria desastrosa, colocando até a integridade territorial israelense em jogo; a solução de força adotada por “Israel” será acompanhada pelo imperialismo de conjunto, independente das consequências.
Dessa maneira, a política kamikaze do sionismo torna-se, de fato, a política do imperialismo em seu conjunto, que já demonstraram não abandonar seu posto avançado no Oriente Médio, mesmo que ele comprometa outros interesses do bloco imperialista.
Além da belicosidade típica do Estado sionista, o próprio imperialismo se vê enfraquecido frente a ascensão do bloco sino-russo, buscado escalar em outras áreas do globo para manter seu domínio. Ou seja, a política promovida por “Israel”, é um microcosmo da grande escalada imperialista observada em todo o mundo, como na atual guerra russo–ucraniana e a questão de Taiuan.
A articulação global do imperialismo em sua escalada de violência, pode ser melhor ilustrada pela ação israelense que consistiu na explosão de pagers de forma sequenciada na terça-feira (17/9), deixando 9 mortos e mais de 2.800 feridos, dos quais a maioria eram civis. Tais dispositivos, segundo informações do jornal norte-americano The New York Times, foram produzidos pela empresa taiuanesa Gold Apollo. Devido à sofisticação da forma como os explosivos foram atados aos aparelhos, a única forma plausível de se fazer isso é no processo de fabricação dos pagers, o que significa que o Estado israelenses contou com a ajuda (ou no mínimo conivência) de Taiuan em seus crimes de guerra.
É preciso ressaltar que o assassinato de Hassan Nasseralá não significa o fim dos conflitos, muito pelo contrário. Israel continua a bombardear o Líbano e há relatos de possíveis operações na fronteira, objetivando a criação de um “cordão sanitário” entre o Estado sionista e o Líbano, tal qual foi tentado no conflito de 2006.
Uma invasão em larga escala é o cenário necessário caso os objetivos declarados de “Israel” sejam verdadeiros, ou seja, empurrar as forças do Hesbolá para fora do sul do Líbano, impedindo os ataques ao norte de “Israel”. No entanto, a partir do momento em que os soldados israelenses começaram a se deslocar em terras libanesas, a tendência de baixas para ambos os lados é alta, o que o alto comando israelense vem tentando evitar.
Como já discutido neste diário, tratando-se da questão militar não há, em nenhuma parte do mundo, uma organização não estatal tão bem treinada e equipada como o Hesbolá. Sua ala militar transformou o sul do Líbano em um verdadeiro labirinto de túneis e casamatas, preparando desde 2006, o terreno para uma possível invasão israelense. Além disso, há um corredor direto entre o Líbano e o Irã (principal financiador do Hesbolá) passando pela Síria e Iraque, o que garantiria o contínuo fornecimento de suprimentos militares em caso de um conflito aberto.
Por esta razão, o alto comando israelenses ainda não lançou uma operação em larga escala no Líbano, preferindo utilizar de sua superioridade aérea para decapitar a liderança do Hesbolá, assim como enfraquecer posições e a moral dos combatentes. Caso essa aventura militar realmente ocorra, levando milhares de soldados israelenses para o sul do Líbano, a tendência não é apenas a derrota de “Israel” no campo de batalha, mas também uma profunda crise política que poderia levar ao fim do Estado sionista na Palestina.