Em artigo intitulado Por que Lula está certo em trazer Marta de volta, publicado pelo Brasil 247, o deputado estadual Emidio de Souza (PT-SP) procura apresentar o retorno de Marta Suplicy ao Partido dos Trabalhadores (PT) como algo positivo. Ex-prefeita da capital paulista, Suplicy fez parte da campanha golpista contra o governo Dilma Rousseff e abandonou o partido às vésperas do golpe de 2016, filiando-se, na época, ao partido de Michel Temer, o MDB! Diante de tal histórico, Emidio Souza tentar justificar o injustificável.
O autor começa reconhecendo ser “compreensível a polêmica que toma conta do PT diante da notícia da volta da ex-prefeita Marta ao partido”. Sim, qualquer pessoa reconheceria que seria, no mínimo, “polêmico” – para não dizer grotesco -, o retorno de Suplicy. Mas o que Emidio Souza nos ensina? Que “não posso deixar de relembrar que a trajetória dela deixou marcas profundas em SP e serviu de combustível para o crescimento do PT no estado” e que (pasmem) “Marta nunca se escondeu atrás das conveniências de ocasião”. Haveria maior “conveniência de ocasião” que abandonar o partido quando este está sofrendo um golpe de Estado?
A trajetória de Marta Suplicy no PT não guarda grandes diferenças daquilo que fez em 2015 ao apoiar o golpe de Estado. Embora filiada ao PT desde 1981, Suplicy nunca teve uma contribuição real para o desenvolvimento do partido. Pelo contrário: sempre fez parte do grupo de políticos burgueses e ultra oportunistas que tentaram colocar a legenda a reboque da burguesia. Sua eleição não “ajudou” o PT. Foi justamente o contrário: o Partido dos Trabalhadores, que sempre teve força no estado de São Paulo, pois é onde se concentra a classe operária brasileira, foi quem fez de Suplicy uma figura com relativa importância na política local.
Sua prefeitura, por sua vez, também não contribuiu para o desenvolvimento do PT. Conhecida como “Martaxa”, Suplicy não foi responsável por nenhuma mudança significativa na cidade.
Seguimos, então, aos próximos argumentos: “eu era presidente estadual do PT em 2014 quando Marta foi à minha casa me convencer a fazer um movimento politico para que Lula fosse candidato. Todos sabem que naquele ano ela foi a maior entusiasta da ideia. Expliquei a ela que não poderia aderir àquele movimento por respeito absoluto à então presidenta Dilma Rousseff e, também, porque Lula não tinha emitido nenhum sinal no sentido de ser candidato. Marta é assim: destemida, inovadora e transparente nos seus gestos e ações”.
Ora, mas conforme dito pelo próprio Emidio de Souza, Lula, em nenhum momento, havia afirmado que pretendia ser candidato em 2014. O interessado em sua candidatura era a própria Suplicy, e não Lula. Se for fato o que o autor narra, estamos diante não de uma demonstração de fidelidade de Suplicy a Lula, mas sim de parte da campanha que a burguesia fomentou contra Dilma Rousseff. Se Lula não queria ser candidato, qual o sentido de Suplicy articular, por baixo dos panos, uma candidatura que dificilmente aconteceria? Era o de dividir o partido, de levantar uma suspeita sobre a capacidade de Dilma Rousseff de governar.
O objetivo de Suplicy não seria, portanto, promover Lula no partido, mas, na verdade, preparar um cenário de hostilidade à presidenta da República que logo seria derrubada.
Emidio de Souza, então, passa a tratar da “conjuntura desafiadora que vivemos”. Diz ele:
“Não é apenas sobre eleger Guilherme Boulos, o que já seria por demais importante. É sobre nossa capacidade de afirmar a democracia brasileira. É sobre afastar a ameaça fascista. É sobre ser um país mais justo socialmente. É sobre ser um país plural. (…) Para derrotar o fascismo em 2022, não nos pautamos pela atitude dos aliados nos episódios do impeachment e Lava Jato. Ao contrário: Lula costurou uma amplíssima aliança cujo símbolo maior foi a presença de Geraldo Alckmin na chapa vitoriosa”.
Nesse trecho, o deputado estadual se denuncia. Seus elogios a Marta Suplicy são, no final das contas, uma tentativa de justificar o injustificável: o seu apoio à política de “frente amplíssima” com a direita golpista. A política de, diante do espantalho do “fascismo”, apoiar qualquer picareta da política burguesa, até mesmo Geraldo Alckmin, que foi o candidato preferencial da burguesia nas eleições de 2018.
Não poderia haver exemplo pior. Alckmin não foi o que garantiu a vitória eleitoral de Lula em 2022 – pelo contrário, foi o que quase causou a sua derrota. Figuras como Alckmin e Simone Tebet foram o que impediram, em grande medida, que impediram que a candidatura de Lula se transformasse em uma campanha popular gigantesca, com grandes manifestações.
No caso do apoio de Suplicy a Boulos, não causará esse efeito porque Boulos, em si, é incapaz de inspirar um movimento de massas. No entanto, as concepções de Emidio de Souza sobre a frente ampla mostrar até onde vai a disposição de seu partido em apoiar seus inimigos políticos.