Oriente Médio

Manifesto por uma ‘Nova Síria’ defende a invasão do país

Iniciativa de governo de unidade nacional não apenas aceita, mas incentiva a interferência externa no país árabe

Uma conferência de imprensa realizada na última segunda-feira (16), na cidade de Raqqa, região central do território sírio controlado pelo Governo Autônomo do Norte e Leste da Síria (AANES), marcou o lançamento da Iniciativa de Diálogo para a Construção de uma “Nova Síria”. O evento, que atraiu vários órgãos de comunicação, contou com a apresentação do manifesto do governo, conduzida pelos co-presidentes do Conselho Executivo, Hussein Othman e Aven Suweid. Além da leitura do documento, a conferência incluiu uma sessão de perguntas e respostas com jornalistas presentes.

O manifesto destaca uma série de medidas voltadas à reorganização do país árabe, devastado por mais de uma década de guerra contra o imperialismo, cujo último desdobramento foi a queda do regime de Bashar al-Assad. Segundo o informe dos líderes da AANES, todas as organizações sírias devem abandonar “práticas de exclusão e marginalização”, promovendo uma colaboração que priorize os interesses nacionais compartilhados. “Convidamos todas as forças políticas a reavaliar suas abordagens e unir-se para construir uma Síria que represente a todos”, afirmou Othman durante o evento.

Entre as propostas principais, estão a preservação da unidade e da soberania do território sírio e o fim imediato das operações militares em todas as regiões do país. Entregando a orientação política por trás da iniciativa, o manifesto também enfatiza a adoção de uma “política de tolerância” e “combate à retórica de ódio”, uma política que o imperialismo vem defendendo em todo o planeta. Além disso, o manifesto ataca “acusações de traição entre os diversos grupos”.

Uma das iniciativas propostas é a realização de uma reunião em Damasco, reunindo todas as forças políticas para organizar a fase de transição. O manifesto destaca também a necessidade de garantir a participação ativa das mulheres no processo político, assim como a distribuição equitativa de riquezas e recursos entre todas as regiões do país, promovendo a reconstrução econômica e social.

Além disso, o chamado defende a necessidade de facilitar o retorno das populações deslocadas às suas áreas de origem. Em um ponto central do manifesto, o chamado reafirmou um compromisso em “combater o terrorismo”, prevenindo o retorno do Estado Islâmico (EI) por meio da cooperação entre as Forças Democráticas da Síria (FDS), grupo mercenário criado pelo imperialismo.

Em outro ponto importante, onde fica demonstrado o verdadeiro interesse político por trás do manifesto, discute-se o fim do estado de ocupação estrangeira no território sírio, com a suposta devolução da soberania ao povo sírio para decidir sobre o futuro do país. O Governo Autônomo, no entanto, saudou a intromissão dos corruptos governos árabes e da ONU — verdadeiro instrumento do imperialismo dedicado a legitimar a ditadura mundial — como elementos fundamentais para garantir essa transição. Assim, a iniciativa não apenas aceita, mas incentiva a interferência externa disfarçada de apoio à estabilidade e segurança, uma política que acentua a submissão do país aos interesses estrangeiros.

Ahmad al-Sharaa, líder do Governo de Operações Militares, também anunciou em outra conferência um conjunto de decisões que estão sendo discutidas para um futuro governo interino. Entre elas, está a dissolução de todos os grupos armados no país e a proibição de armas fora do controle do novo Estado sírio, além do fim do alistamento militar obrigatório, com exceção de especialidades específicas por períodos curtos. Segundo al-Sharaa, a prioridade é reconstruir as casas destruídas e garantir o retorno seguro dos deslocados.

No entanto, a tarefa de pacificar e reconstruir a Síria a partir da política proposta pelo governo provisório é simplesmente impossível. A queda de Bashar al-Assad não significou a unificação do país, mas sua fragmentação entre diferentes grupos armados, o que atende aos interesses do imperialismo de manter a nação árabe em estado de caos permanente pela disputa entre os grupos distintos, muitos financiados diretamente pelos EUA.

O mais influente deles é o Hayet Tahrir al-Sham (HTS), liderado por Abu Mohammad al-Golani, que controla as principais cidades, como Aleppo, Homs e Hama. Originalmente formado a partir da Al Qaeda e apoiado pelo imperialismo, o HTS busca consolidar seu controle territorial, prometendo um governo participativo e instituições que respeitem as minorias defendidas pela demagogia identitária do imperialismo. Outro grupo relevante são as Forças Democráticas da Síria, uma coalizão curdo-árabe que controla boa parte do norte e do leste do país, incluindo Raqqa.

Além desses, pequenos grupos oposicionistas e locais ainda exercem controle sobre partes do território, especialmente no sul da Síria. O cenário permanece incerto, com potências estrangeiras, como EUA, Turquia e Rússia, buscando influenciar os desdobramentos políticos e militares no país.

A proposta de um governo provisório por 18 meses é defendida por opositores exilados, porém, com a balcanização em marcha pela presença de vários grupos armados, a unificação do país e a soberania síria permanecem como questões sem solução à vista. A população segue enfrentando os efeitos de anos de guerra e instabilidade provocada pelo imperialismo, um fenômeno que tende a se acentuar no curto prazo ao menos.

Abaixo, as propostas para uma “Nova Síria”, divulgadas pelo órgão libanês Al Mayadeen:

  • Preservar a unidade e soberania dos territórios sírios e protegê-los de ataques realizados pelo Estado turco e seus mercenários.
  • Cessar as operações militares em todo o território sírio para iniciar um diálogo nacional inclusivo e construtivo.
  • Adotar uma política de tolerância e evitar discursos de ódio e acusações de traição entre os sírios, já que a Síria é um país rico em seus componentes e diversidade, que devem ser preservados sobre uma base democrática justa.
  • Realizar uma reunião urgente em Damasco, envolvendo forças políticas sírias, para unificar as visões a respeito da fase de transição.
  • Garantir a participação efetiva das mulheres no processo político.
  • Afirmar que a riqueza e os recursos econômicos devem ser distribuídos de forma equitativa entre todas as regiões sírias, pois são propriedade de todos os sírios.
  • Garantir o retorno das populações nativas e dos deslocados forçados às suas áreas, preservando seu patrimônio cultural e pondo fim às políticas de mudança demográfica.
  • À luz dos desenvolvimentos na Síria, reafirmamos nosso compromisso de combater o terrorismo para evitar o ressurgimento do EI, por meio da cooperação entre as Forças Democráticas Sírias e as Forças da Coalizão Internacional.
  • Pôr fim ao estado de ocupação e deixar a decisão para o povo sírio moldar seu futuro, respeitando o princípio de boa vizinhança.
  • “Saudamos o papel construtivo dos Estados árabes, das Nações Unidas, das forças da Coalizão Internacional e de todos os atores internacionais envolvidos nos assuntos sírios. Exortamos-os a desempenharem um papel positivo e ativo em fornecer conselhos e apoio ao povo sírio, promovendo a conciliação entre suas diferentes partes e assegurando estabilidade, segurança e o fim da interferência externa nos assuntos sírios.”

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