Nem todo mundo que quis participar do ato do Dia Internacional dos Trabalhadores em São Paulo pôde fazê-lo. Ao menos, é o que alegam manifestantes entrevistados pela equipe do Diário Causa Operária (DCO). Do lado de fora do Itaquerão, homens e mulheres revoltados criticaram os organizadores do evento, que impediram a entrada de pessoas portando objetos como garrafa de água e alimentos.
“Libera a água, libera o lanche do trabalhador”, gritavam os manifestantes, exibindo suas garrafas e suas bolsas revistadas. “Isso é uma vergonha”, gritavam outros.
Todos os manifestantes que desejavam ingressar no local do ato tiveram de passar por uma revista, feita por seguranças da própria organização. Para ter acesso ao estacionamento do Itaquerão, era preciso passar por um detector de metal e mostrar o conteúdo de bolsos e mochilas.
“A família não pode trazer lanche para os filhos porque são barrados”, criticou um manifestante, impedido de entrar no local da manifestação. Quem quisesse entrar, teria que se desfazer de seus objetos.
Outros manifestantes também denunciaram que até mesmo copos vazios foram proibidos. À nossa equipe, a ativista Fábia Medeiros relatou que:
“Eu estou com o copo vazio, mostrei para a pessoa responsável, e falei: ‘olha, meu copo está vazio, porque quando eu chegar lá dentro, pretendo comprar refrigerante, pois eu não bebo [bebida alcoólica] e vou colocar a bebida aqui [no copo]’. Então, nós chegamos aqui, com esse copo, com água mineral, e não pudemos entrar. Vimos pessoas perto de nós com criança, trabalhador que veio com a família, que veio com criança que trouxe o seu lanchinho, porque pode ser que lá ele não tenha condições de comprar, e foi barrado.”
Como resultado da decisão dos organizadores, garrafas, copos e outros objetos se amontoavam nas lixeiras, ao mesmo tempo em que os manifestantes iam ficando cada vez mais irritados. “É uma festa do trabalhador, uma festa da população. Deixa o trabalhador entrar“, concluiu Medeiros.
Não apenas copos, garrafas de água e lanches foram barrados do ato. Em depoimento a este Diário, o pernambucano Cícero dos Santos, que se mudou recentemente para o bairro do Brás, em São Paulo, disse que foi impedido de entrar no estacionamento do Itaquerão por causa de um guarda-chuva. “A gente está com uma criancinha de um ano e outra de sete e não vamos poder entrar porque uma simples sombrinha não pode entrar“.
A burocracia para entrar no ato era tanta que participar da manifestação passou a ser considerado um ato de sorte. “Eu consegui entrar porque vim minimizada“, disse uma manifestante. “Vim só com o celular e o carregador, e dei a sorte de ninguém botar a mão no carregador“.
Segundo os organizadores, as medidas de “segurança” teriam sido motivadas pela participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ato. Para os manifestantes, no entanto, isso não seria justificativa para uma revista tão rigorosa.
“Eu entendo o problema da segurança do Lula neste momento tão delicado. Agora, não poder entrar com guarda-chuva é muito exagerado“, criticou um ativista. Uma manifestante ainda afirmou que via toda a política de “segurança” elaborada pelos organizadores como “inútil”. “Para mim, tudo isso tem um objetivo muito evidente de esvaziar o ato. Várias pessoas já voltaram por não conseguiram passar pela barreirinha do capeta“.
Em um dos vídeos registrados por nossa equipe, uma mulher diz acreditar que “Lula não compactuaria com isso”. Junto a outros manifestantes, declarou que “nós viemos qui para vê-lo, para marcar esse território, para prestigiá-lo, para apoiá-lo“.
A política de “segurança” imposta pela burocracia sindical vem sendo desenvolvida desde o período da pandemia de coronavírus. Em 2022, durante a campanha eleitoral que levaria à vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro (PL), todos os comícios foram marcados por iniciativas semelhantes. Por interferência do próprio presidente, o rigor nas medidas de “segurança” acabaram sendo atenuados no segundo turno, o que permitiu que a campanha tivesse uma maior adesão e saísse vitoriosa.
No primeiro de maio do ano passado, que ocorreu no Vale do Anhangabaú, o mesmo esquema foi montado. Na ocasião, Lula se mostrou visivelmente incomodado com as restrições, afirmando em seu discurso que:
“A imprensa está aqui na frente, e o povo tá lá atrás.”
A equipe do Diário Causa Operária tentou entrar em contato com todas as centrais sindicais responsáveis pela organização do ato de 1º de Maio em São Paulo pedindo um esclarecimento sobre as denúncias aqui feitas. Até o momento, entretanto, ninguém se pronunciou. O espaço segue aberto para esclarecimentos.