O governo norte-americano suspendeu o fluxo de armamentos e auxílio financeiro à Ucrânia quase dois anos desde o início do conflito com a Rússia. O porta-voz da Casa Branca, John Kirby confirmou o fato na última quinta-feira (11) em meio ao debate – impulsionado pelo Partido Republicano – no Congresso norte-americano sobre se o país deve continuar a apoiar a Ucrânia ou não.
“Enviamos o último pacote de auxílio que tínhamos financiamento para apoiar, e é por isso que é fundamental que o Congresso avance nesse pedido suplementar de segurança nacional”, disse Kirby aos jornalistas numa conferência de imprensa, admitindo que “a assistência [que os EUA] fornecido agora está paralisado”, reporta o canal RT (“US confirms Ukraine military supplies have stopped”, 12/1/2024).
O último pacote, no valor de 250 milhões de dólares, foi autorizado pelo presidente Joe Biden no final de dezembro, usando uma prerrogativa que lhe permite fornecer armas a aliados, dispensando a autorização do Congresso. Isso foi necessário, naturalmente, uma vez que o Congresso (onde os Republicanos são maioria, ainda que por uma margem estreita) não cedeu à pressão de votar um pacote de 60 bilhões de dólares suplementares à ajuda já enviada ao país europeu.
A difícil situação militar dos ucranianos – que não avançaram um milímetro na “contraofensiva” anunciada no final de 2023 – é uma das preocupações dos representantes do imperialismo norte-americano. Seu “apoio inabalável”, prometido desde fevereiro de 2022, está se desvanecendo. Além de atrasos na produção e dificuldades logísticas, armas enviadas pelos norte-americanos estão sendo desviadas (um relatório do Pentágono fala em mais de 1 bilhão de dólares em armas e equipamentos extraviados na Ucrânia).
O segredo de Polichinelo
O fator fundamental do recuo do governo norte-americano no seu apoio à Ucrânia é o aprofundamento recente da crise da dominação mundial pelo imperialismo. O que expressa isso de maneira mais acabada é a situação na Palestina, que desde 7 de outubro passado expôs a incapacidade de um dos aliados mais importantes (e bem armados) dos EUA de controlar uma região sob seu domínio há anos.
O Estado de “Israel” fracassou completamente na tentativa de conter a resistência armada palestina, encabeçada pelo Hamas. Se nem mesmo o governo, que é, na prática, uma base militar norte-americana no Oriente Médio, consegue “pôr ordem na casa”, o que esperar de um mero aliado recém-chegado?
Mais ainda, é claro, o fato de um conflito em larga escala ter eclodido envolvendo um dos principais aliados norte-americanos põe em risco, por assim dizer, a continuidade do apoio e dos recursos dados pelos EUA (e por seus vassalos europeus) à Ucrânia. No mínimo, fará com que sejam reduzidos significativamente. No limite, poderia fazer até mesmo com que a Ucrânia fosse forçada a colaborar com o esforço israelense para tentar conter o Hamas.
Fato incontestável, portanto (e da maior importância), é que a resistência armada do povo palestino avança de vitória em vitória e acaba de obter mais essa: depois de tornar inoperantes as forças da principal potência militar pró-imperialista no Oriente Médio, dobrou a mão do imperialismo em outra guerra que não a sua própria a quase 2.000 quilômetros de distância.
