Em discurso feito nessa segunda-feira (28), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez duras críticas ao governo brasileiro, denunciando a diplomacia do país como servil aos interesses imperialistas dos Estados Unidos.
Suas declarações foram feitas durante seu programa semanal, transmitido pela Telesur. Na ocasião, ele comentou sobre a decisão do Brasil de vetar a entrada da Venezuela no bloco dos BRICS após sua 16ª cúpula.
Segundo Maduro, o Itamaraty mantém uma relação com o Departamento de Estado norte-americano desde o golpe de 1964, evidenciando um alinhamento que, na visão do presidente sul-americano, se perpetua até os dias de hoje.
“É uma chancelaria que conhecemos bem, que sempre conspirou contra a Venezuela. Nós a enfrentamos dentro das regras da diplomacia; é uma chancelaria muito vinculada ao Departamento de Estado dos Estados Unidos. Desde a época do golpe de Estado contra João Goulart nos anos 60, a ditadura entregou o Itamaraty e o Serviço Exterior do Brasil ao Departamento de Estado. Então, todas as escolas de formação diplomática do Brasil foram instaladas e influenciadas pela diplomacia imperial dos Estados Unidos. Praticamente não há funcionários que não tenham algum vínculo com o Departamento de Estado. Isso sempre foi assim. E continua sendo até hoje,” declarou Maduro.
Maduro falou sobre os bastidores do veto em questão, expondo que, apesar das garantias que o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, deu ao presidente venezuelano, o Brasil foi o único país a exercer o veto contra a Venezuela. Maduro afirma que Vieira chegou a garantir pessoalmente que “não haveria problema”, mas no momento decisivo, o Brasil assumiu uma postura contrária e votou pelo veto, em um movimento que Maduro considerou “imoral, inexplicável e contrário aos princípios constitucionais do Brasil”.
“Mauro Vieira, o chanceler brasileiro, me disse cara a cara, como eu estou olhando para você agora: ‘Presidente Maduro, o Brasil não vetará a Venezuela. Não há problema’”, afirmou Maduro
Segundo o presidente venezuelano, o embaixador Eduardo Paes Saboya, o qual caracterizou como “bolsonarista, fascista e intransigente”, foi o responsável pela decisão final, representando o Brasil na cúpula dos BRICS. Saboya foi o representante brasileiro durante o evento, após Lula decidir não comparecer à cúpula devido a um acidente doméstico, no qual teria batido a cabeça.
Durante sua declaração, Maduro deixou claro a indignação do país diante do que considera uma política de “facada nas costas” por parte do Brasil, em um momento no qual diversos países já haviam expressado apoio ao ingresso da Venezuela na organização. O presidente destacou a importância histórica da Venezuela para o movimento anti-imperialista na América Latina e lembrou de sua atuação como chanceler do então presidente Hugo Chávez.
Em tom irônico, Maduro mencionou o momento em que se despediu do presidente russo, Vladimir Putin, na cúpula. Ele afirma que teve uma conversa tensa com o chanceler brasileiro Mauro Vieira: “quando me despedi de Putin, o chanceler brasileiro estava se despedindo dele também. Me aproximei e perguntei: ‘Você vetou a Venezuela?’. Ele respondeu: ‘Não, presidente, o Brasil não vetou a Venezuela, vocês podem ingressar’”.
Maduro ainda lançou uma mensagem aos que buscam silenciar a Venezuela. “Aqueles que pretendem vetar ou calar a Venezuela nunca conseguirão. A Venezuela não é vetada nem calada por ninguém. E eles se secarão. Simples assim”, disse.
No mesmo programa, Maduro cobrou um posicionamento oficial por parte de Lula acerca do veto da Venezuela nos BRICS. “Prefiro esperar que Lula observe, esteja bem informado sobre os acontecimentos, e que ele, como chefe de Estado, em seu momento, diga o que tem que dizer”, disse.
Na terça-feira (29), Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência brasileira, comentou que o Brasil continua buscando um papel de “interlocutor” junto à Venezuela, apesar do “mal-estar” instaurado desde a eleição. “Se o Brasil quiser ter uma influência positiva [na Venezuela], temos de manter uma interlocução”, declarou Amorim à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, ressaltando que a comunicação direta entre Lula e Maduro não ocorre desde antes do pleito venezuelano.
Insistindo na política golpista do imperialismo, Amorim ainda apontou que o governo brasileiro ficou incomodado com o fato de o governo Maduro não ter apresentado os dados eleitorais por mesa de votação. “Se queremos ter alguma influência no processo de democratização da Venezuela, temos de ter alguma interlocução. Se não, aparecem outros”, afirmou Amorim, observando que o Brasil busca evitar que a Venezuela se torne palco de uma nova “Guerra Fria ou de um conflito na Amazônia”.