Nessa terça-feira, dia 18 de junho, durante uma cerimônia em Île de Sein, na Bretanha, o presidente francês, Emanuel Macron, fez um apelo lamuriento, com leves tons de ameaça, aos rebeldes da Nova Caledônia. Macron pediu aos revoltosos que levantassem as barricadas nas estradas, qualificando os violentos e generalizados protestos que se iniciaram em 13 de maio deste ano, como “inaceitáveis”. Ele disse ainda em seu discurso que “aqueles que incentivaram os protestos terão que responder por suas ações.”. O estopim da revolta dos Canaques, os nativos da colônia, foi uma proposta de modificação eleitoral que inviabilizaria a independência da Nova Caledônia.
O arquipélago da Nova Caledônia fica no Pacífico Sul, a 17 mil quilômetros de distância da França continental, mas fornece níquel e uma posição estratégica na geopolítica para a metrópole dirigida por Macron. A Nova Caledônia se situa entre a Austrália e as Ilhas Fiji e foi colonizada pela França já no século XIX. A situação na capital Nouméa ainda está fora de controle, embora as autoridades coloniais afirmem o contrário.
A polícia local atendeu prontamente a orientação de Macron: prendeu 11 cidadãos suspeitos de participar das manifestações, entre eles o principal líder da luta pela autonomia das ilhas, Christian Tein, líder da CCAT (Célula de Coordenação de Ação de Campo) – organização pró-independência, criada em novembro de 2023 para se contrapor à reforma legislativa proposta. Sob a acusação de instigar a revolta contra o domínio francês sobre a Nova Caledônia, os manifestantes podem ficar detidos por até 96 horas e foram acusados também de “crime organizado”.
Christian Tein estava entre os líderes do movimento pela independência que se encontraram com Macron em sua visita à Nova Caledônia no mês de maio. Tein foi preso quando se preparava para dar uma entrevista coletiva nos escritórios da CCAT, que ficam em um prédio que também abriga a sede da União Caledônia, a UC, o maior partido político pró-independência. A UC denunciou as prisões arbitrárias desta quarta-feira (19), mas também pediu calma aos seus partidários até que as detenções sejam esclarecidas, e que eles não aceitem provocações.
Os indígenas Canaques querem autonomia e independência. A sua raiva indignação explodiu depois que os deputados franceses propuseram uma modificação na legislação eleitoral visando manter a dominação e a exploração, ou seja, propor uma sutil mudança na lei para perpetuar o “status quo”. A proposta dos parlamentares era expandir os cadernos eleitorais para permitir aos moradores franceses do arquipélago por mais de 10 anos para que eles pudessem votar nas eleições. Dessa forma, os nativos da ilha ficariam em minoria e não conseguiriam mudar as condições de opressão e exploração colonial pela via eleitoral.
A França está em uma crise gigantesca com o resultado das eleições para o Parlamento Europeu e com a convocação de novas eleições por parte de Macron. Assim, ele não pode permitir que a situação fuja do controle em outros lugares do seu decadente império, em especial, neste momento. Mas, provavelmente, Macron não terá escolha.
Os protestos já causaram a morte de 9 pessoas, entre elas 2 policiais, feriram centenas de pessoas e causaram prejuízos da ordem de 1,5 bilhão de euros (US$ 1,6 bilhão). A França se viu obrigada a enviar 3.000 soldados e policiais para o arquipélago. Macron teve que suspender a reforma na legislação eleitoral na semana passada, logo após dissolver o Parlamento e convocar a realização de eleições antecipadas em 30 de junho e 7 de julho. Grupos pró-independência pediram que o projeto de reforma eleitoral seja completamente retirado antes que as negociações sobre o futuro político da ilha possam ser retomadas.
O imperialismo vai em frente, tropeçando, claudicando, estrebuchando.