O diretor da Fundação Perseu Abramo e membro do Diretório Nacional do PT, Alberto Cantalice, publicou no X um texto no qual tenta criar a ideia de que quem critica o Plano Haddad só pode estar em uma “estranha aliança” com a extrema direita.
Segundo o texto, formou-se uma união entre o que Cantalice chama de “pseudo-esquerda” e a extrema direita, com o intuito de atacar o governo e conseguir, o primeiro, “caçar likes e tentar encorpar suas fileiras como ‘representantes do povo’” e o segundo por simplesmente fazer o “jogo do mercado”.
Acontece que nada do que Cantalice diz faz sentido.
Em primeiro lugar, precisamos lembrar que, no momento, toda a extrema direita brasileira apoia o genocídio israelense contra os palestinos e, como Cantalice vive defendendo ‘Israel’ e atacando a Resistência Palestina, quem acaba por fazer uma “estranha aliança” com a extrema direita é o próprio.
Em segundo lugar, a direita brasileira como um todo, seja o setor “centrista”, seja o mais radicalizado, faz o “jogo do mercado”. No entanto, o que o próprio Cantalice defende é justamente um plano que poderia muito bem ter sido apresentado por qualquer pessoa da direita, sendo da ala mais extrema ou não.
O próprio pai do plano, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, admite em entrevistas que não precisa ser convencido dos cortes de gastos por parte dos bancos e dos especuladores, recebendo inclusive elogios por parte da Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN), que disse que seu plano está no caminho correto.
Ou seja, para defender entregar a economia nacional e o dinheiro dos trabalhadores para os banqueiros que sugam quase 60% de todo o orçamento federal, Cantalice acusa quem critica Haddad – o homem dos banqueiros no governo Lula – e seu plano, de estar ao lado do “mercado”.
Ele tenta criar a ideia de que tanto os especuladores que correram para sabotar ainda mais o governo comprando dólares após o anúncio do plano e, com isso conseguir ainda mais cortes contra a população, quanto as pessoas que criticam o plano justamente por tirar dinheiro do povo, querem a mesma coisa.
Além das ideias malucas para defender o corte de recursos destinados a pessoas miseráveis – o que vai contra o que Cantalice disse ser a essência do PT desde a década de 1980 -, o dirigente petista também passa elogiar, mesmo que sem querer, a extrema direita bolsonarista. Isso porque em determinada parte do texto, diz que a culpa da crise é justamente o fato de Bolsonaro e Guedes terem inflado o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família, como se segue:
“A dupla Bolso/Guedes arrombou a economia nacional. Contraíram a produção e produziram desemprego recorde. Além disso brecaram a fila do INSS e ‘inflaram o BPC e o Bolsa Família’.”
Ou seja, apesar de citar que Guedes e Bolsonaro brecaram a fila do INSS, Cantalice passa a dizer que quem aumentou o BPC e o Bolsa Família, justamente os alvos dos cortes no Plano Haddad, foi Bolsonaro.
Cantalice propõe, portanto, que o PT soterre a própria propaganda de décadas em relação ao Bolsa Família e que, a partir de agora, seja o representante oficial dos que querem diminuir o benefício para a população mais pobre, enquanto Bolsonaro aparece como aquele irresponsável que deu dinheiro à população mais pobre ao invés de repassar dinheiro aos bancos. E ainda por cima tenta criar a ideia de que quem o critica está do lado do “mercado”.
Não faz sentido algum e é apenas uma propaganda para que Bolsonaro fique mais popular entre os pobres, os que mais precisam da pequena quantia do BPC e do Bolsa Família para sobreviver, ao contrário dos banqueiros, que já têm muito dinheiro e não passam necessidades.
Essa ideia, inclusive, é uma grande mentira. Todos sabem que Bolsonaro entregou a previdência da população brasileira para os banqueiros, que privatizou inúmeras empresas, tentou privatizar outras e que, se dependesse de seu governo, muito mais teria sido entregue à burguesia.
A população mais pobre, porém, a que vai sentir na pele a falta do dinheiro desviado aos banqueiros com o Plano Haddad, não fará maiores reflexões caso passe a escutar que sua miséria é para que o governo Lula – um governo dos trabalhadores -, “arrume as contas” enquanto os banqueiros consomem todo o dinheiro do País. Pior ainda se isso tudo ocorrer com alguém falando que quem aumentou o BPC e o Bolsa Família sem pensar nos bancos, como diz Cantalice, foi Bolsonaro.
Trata-se, portanto, de uma política que visa transformar o PT em um partido da direita brasileira, dos bancos, dos especuladores financeiros e de todos os tipos de sanguessugas, enquanto tenta passar para essas pessoas que quem não quer retirar dinheiro da população pobre é Bolsonaro.
As perguntas que ficam, no fim, são: quem realmente tem uma aliança com a extrema direita? Quem realmente tem uma aliança com o “mercado”?