O dirigente petista Alberto Cantalice usou seu perfil oficial no X para atacar o líder da Revolução Sandinista e presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Em meio às capitulações do governo brasileiro na luta de classes travada no âmbito da política internacional, Ortega criticou duramente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por abandonar à própria sorte o presidente reeleito da Venezuela, o Nicolás Maduro, que enfrenta uma tentativa de golpe de Estado organizada pelo imperialismo. Eis que, em resposta ao imbróglio, Cantalice atacou o líder sandinista, tratando-o como “pilantra” e “autocrata”:
“O Daniel Ortega atual é mera sombra do revolucionário da década de 1970.
É um autocrata de quinta categoria. Colocou a própria mulher de vice por ter medo de ser golpeado.
Todo golpista e antidemocrático dorme e sonha com golpes.
Por isso não confia em ninguém.
É muito bom ser criticado por um pilantra desse calibre. É a prova de que o criticado está correto.”
Em primeiro lugar, a acusação de “autocrata” não é apenas errônea do ponto de vista da caracterização do regime sandinista, mas reflexo da origem da orientação política de Cantalice e da direita do PT. “Autocrata” é a palavra da moda da propaganda imperialista para atacar os governantes que teimam em não se curvar à ditadura mundial.
Dessa forma, Cantalice demonstra seguir as orientações da classe social que não faz muito tempo, estavam dedicados a enterrar o PT e a esquerda brasileira. Ele e o setor direitista infiltrado na esquerda do qual faz parte, é preciso lembrar. A colocação do dirigente petista continua com “colocou a própria mulher de vice por ter medo de ser golpeado”, acrescentando que “todo golpista e antidemocrático dorme e sonha com golpes”, diz, em um clássico exemplo de frase que fala mais sobre quem a verbaliza do que sobre o sujeito da frase em si.
Não apenas Ortega, mas qualquer pessoa minimamente ativa na política deve sempre considerar o problema dos golpes, algo que a história ensina serem muito comuns, principalmente em quem está atuando politicamente de maneira séria. Para comprovar isso, não é necessário recorrer à Roma Antiga ou à vasta obra de Shakespeare, bastando recordar o trágico fim do governo da presidenta Dilma Rousseff.
Se à luz de um notório fascista como Geraldo Alckmin na vice-presidência atualmente e com a lembrança de Michel Temer fresca, Cantalice dirige sua crítica a quem se precavê diante de uma eventual ameaça de golpe, isso em si é uma pressão golpista e aqui, voltada contra o presidente Lula. Tivesse a presidenta Dilma a mesma consideração que Ortega tem e que Cantalice ataca, dois anos de governo golpista e neoliberal de Temer não teriam acontecido, para dizer o mínimo.
Por fim, o dirigente petista destaca como algo positivo “ser criticado por um pilantra desse calibre”, considerando isso como “prova de que o criticado está correto”, evidenciando, novamente, seu alinhamento político, explicitado não pelo que Cantalice diz, mas pelo sujeito oculto dessa afirmação, que é, sem dúvida, o imperialismo. O dirigente petista, ao utilizar essa frase, deixa implícito que o imperialismo está, de alguma forma, correto ao atacar tanto a Nicarágua quanto a Venezuela, uma vez que é a política pró-imperialista o verdadeiro alvo da crítica de Ortega, algo dito expressamente pelo líder sandinista.
Ora, se o imperialismo está “criticamente correto” ao se opor a esses países, então Cantalice deveria dizer de maneira mais clara, se estava correto também quando arquitetou a Lava Jato e difundiu a propaganda de que o PT era uma organização criminosa? Afinal, esse mesmo setor da burguesia mundial esteve por trás do golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, prendeu Lula e o impediu de participar das eleições de 2018 (um segundo golpe de Estado), resultando na ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Estava o imperialismo correto quando executou essas ações que interferiram de maneira decisiva nas questões internas do País?
Os posicionamentos direitistas de figuras como Cantalice revelam, de forma inequívoca, qual setor está prevalecendo nos imbróglios internacionais nos quais o Brasil está diretamente envolvido. Não é difícil perceber que a força que se sobressai é a da ditadura dos monopólios, sempre disposta a manter seu controle sobre nações soberanas. Se o presidente Lula não deseja sofrer as mesmas pressões golpistas que enfrentam países como a Venezuela, é necessário que ele dê um verdadeiro cavalo-de-pau em sua política externa, rompendo com qualquer tentativa de conciliação com as potências imperialistas e para isso, se afastando da influência paralisante de figuras como Cantalice.
Ser chamado de “autocrata” pelo imperialismo não é uma ofensa, mas sim uma prova de que o governante está lutando pelo seu povo. Quando Cantalice “elogia” Ortega dessa forma, ele reconhece a legitimidade da luta do presidente nicaraguense contra as forças que querem subjugar seu país. Lula também deve ser chamado de “autocrata”, “ditador” e outros termos semelhantes pelos inimigos dos povos oprimidos, pois esse é o reconhecimento de que ele, enfim, resolveu enfrentar a opressão imperialista e defender os interesses dos trabalhadores brasileiros e latino-americanos.