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Camilo Duarte

Militante do PCO e colunista do Diário Causa Operária. É formado em Física pela UFPB.

Coluna

Lula 3, quem governa?

Já não bastasse o malabarismo capitulador de Lula, não foram poucos os casos de setores da gestão Lula 3 se colocando abertamente contra a orientação do mandatário

Nesse último período, já não bastasse o malabarismo capitulador de Lula, não foram poucos os casos de setores da gestão Lula 3 se colocando abertamente contra a orientação do mandatário. Em algumas situações específicas, não parece que o governo esteja apenas pressionado, mas aparenta haver um governo paralelo, com orientação contrária ao programa para o qual Lula foi eleito.

Governo descumpre acordo

Em 2023, o governo reabriu a Mesa Nacional de Negociação Permanente (MNNP). Nela, o governo ofereceu um reajuste nos auxílios, deixando as demais questões para as “mesas específicas”. A política posta divide o funcionalismo, enfraquecendo o seu movimento. Com negociações em separado, os servidores não obtiveram êxito em suas reivindicações históricas e reposição salarial.

Ocorre que, mesmo as condições acordadas na MNNP, com o Ministério da Gestão e da Inovação, termos impostos pela burocracia sindical, muito aquém das necessidades do funcionalismo, foram descumpridas pela gestão. Um exemplo é o celebrado no Termo de Compromisso nº 01/2024, comprometendo-se com a abertura da Mesa Específica dos cargos da Carreira da Receita até julho do corrente ano.

Paralisação dos técnicos administrativo-educacionais

Na mesma linha, a gestão está descumprindo o pactuado no Termo de Acordo 11/2024, firmado entre a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA), o Ministério da Gestão e da Inovação (MGI) em Serviços Públicos e o Ministério da Educação (MEC).

O acordo, realizado após a greve nacional da categoria, com mais de 100 dias, deixou muito a desejar para os trabalhadores, sem ao menos repor as perdas do último período. Mesmo assim, o governo se nega a conceder as migalhas prometidas.

Quatro itens, abaixo elencados, que no cronograma negociado já deveriam ter sido implementados, foram infringidos:

  • Regra de transição para capacitação;
  • Reposicionamento dos aposentados;
  • Reconhecimento de saberes e competências;
  • Cargo amplo de auxiliar em educação.

Essa política ocasionou uma mobilização na base da FASUBRA, com paralisação de 48 horas nos dias 15 e 16 de outubro. Mesmo com a prática da burocracia de não enfrentar o governo, há um claro desgaste, inclusive em uma categoria mais favorável à sua reeleição.

Lula reconhece

Após o término do primeiro turno, com os resultados eleitorais pífios, Lula teria reconhecido a necessidade de “rediscutir” o papel eleitoral do PT. Segundo auxiliares do presidente, um dos pontos seria o fato de o governo ser de “centro” e de esquerda.

“Temos que rediscutir o papel do PT. Hoje, 80% dos prefeitos foram eleitos em cinco estados, todos do Nordeste. Tivemos boa participação no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, ganhamos nas cidades que já governávamos (Contagem e Juiz de Fora), mas não fomos bem em São Paulo. Perdemos São Bernardo do Campo, Santo André e inclusive Araraquara, onde tínhamos certeza de que iríamos ganhar. Estamos no segundo turno em Mauá e Diadema… Em Teresina, todo mundo dava como certa a eleição do candidato do PT (Fábio Novo)”, afirmou Lula em entrevista à rádio O Povo/CBN.

Não apenas o governo, mas aparentemente o próprio partido necessita de uma definição política à esquerda, ou, como colocado por Lula…

Segundo turno em São Paulo

Em relação à disputa em São Paulo, Lula declarou: “Ele tem duas semanas para convencer as pessoas. Eu, se puder ajudá-lo, vou ajudá-lo. Nesta eleição, eu tive uma participação mais acanhada, porque sou o presidente da República, eu tenho uma base no Congresso Nacional muito ampla. Em São Paulo, eu me dediquei um pouco, fui duas vezes, porque lá é uma briga que está estabelecida entre lulismo e bolsonarismo”.

No entanto, são visíveis as divergências acerca da estratégia que viabilizaria a vitória de Boulos. Uma ala deseja uma candidatura mais combativa, polarizando com o sistema. Outra deseja reforçar o caráter de “frente ampla”, realizado em 2022, engajando o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Márcio França na candidatura de Boulos.

Dissolução

Temendo o embate com a extrema direita e focando apenas nas eleições de 2026, o PT acabou abandonando as disputas nos municípios com possíveis aliados para 2026. O resultado foi a vitória no primeiro turno em apenas 248 cidades, algo muito distante da realidade de 2012, no mandato de Dilma Rousseff, quando o partido obteve 635 cidades, inclusive grandes centros como São Paulo.

Essa política entregou a gestão dos municípios mais populosos à direita e à extrema-direita, setores de clara oposição ao governo em possíveis golpes de Estado ou disputas com o imperialismo ou a burguesia local, condenando a maioria da população brasileira ao julgo desses aspectos políticos na esfera municipal.

O resultado eleitoral do PT reflete sua prática política, um empenho que tende à dissolução do partido. Entre os servidores e trabalhadores em geral, há visível insatisfação com a manutenção dos ataques dos governos anteriores às suas condições de vida e com a proximidade do identitarismo, que afasta esse setor da esquerda das necessidades objetivas da classe trabalhadora.

Esse malabarismo político, que não define quem governa, está destruindo o PT e suas possibilidades de reação perante a extrema-direita. O buraco dessa política, além de jogar os trabalhadores nos braços da extrema-direita, pode acabar tragando o PT e seus aliados.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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