A Casa dos Representantes dos Estados Unidos (similar à Câmara dos Deputados do Brasil) aprovou, na quarta-feira (13), um projeto de lei que pode banir do país a rede social de vídeo TikTok, uma das mais populares do mundo. O projeto de lei foi aprovado por 352 representantes (similares aos deputados federais), com 65 votos contrários oriundos de 15 parlamentares republicanos e 50 democratas. Os representantes norte-americanos argumentam que o aplicativo representa uma ameaça à segurança do país imperialista e que o governo chinês poderia forçar a empresa dona do TikTok, ByteDance, a entregar dados de usuários dos EUA, uma alegação muito utilizada pelo ex-presidente Donald Trump durante o mais intenso período de sua agitação anti-China.
Ex-secretário do Tesouro dos EUA durante o governo Trump, Steven Mnuchin indicou no último dia 14 intenção de comprar o TikTok, assim como o ex-chefe da empresa de jogos eletrônicos Activision Blizzard, Bobby Kotick. Outros monopólios do setor de tecnologia, como Microsoft e Oracle, já tentaram comprar a plataforma, sendo apresentados como potenciais compradores. A China, no entanto, reagiu.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse também no dia 14 que a proibição do TikTok nos EUA demonstrava “pensamento completamente gângster” por parte do governo do país, por representar uma tentativa de impedir uma empresa de obter lucros. Em uma coletiva de imprensa, Wenbin criticou o projeto de lei aprovado e declarou que os EUA “se posicionam na contramão dos princípios de concorrência justa e das regras de comércio global”.
O porta-voz disse ainda que o caso da plataforma “fez com que o mundo visse claramente se a ordem baseada em regras dos EUA é de fato benéfica para todo mundo ou se elas servem exclusivamente aos interesses dos próprios EUA”. Por fim, Wenbin reiterou que a “segurança nacional” está sendo usada como desculpa para “suprimir arbitrariamente empresas de destaque de outros países”, concluindo: “não haverá nenhuma equidade e justiça”.
As colocações de Wenbin estão corretas, mas há um dado a mais a ser acrescentado, muito importante para a compreensão do imbróglio envolvendo a plataforma: a Palestina.
Ainda no último 1º de novembro, o Senador republicano pelo estado norte-americano da Flórida, Marco Rubio, foi ao X (antigo Twitter) acusar o aplicativo chinês de “minimizar o terrorismo do Hamas”, pedindo o fechamento da plataforma “agora”.
“O TikTok é uma ferramenta que a China usa para espalhar propaganda aos americanos, agora está sendo usado para minimizar o terrorismo do Hamas. O TikTok precisa ser fechado. Agora.”
TikTok is a tool China uses to spread propaganda to Americans, now it's being used to downplay Hamas terrorism.
TikTok needs to be shut down. Now.https://t.co/m0alNyPlZr
— Senator Marco Rubio (@SenMarcoRubio) November 1, 2023
O sítio norte-americano Vox, em matéria de 13 de dezembro, volta ao tema, defendendo a plataforma de acusações de “promover discurso anti-Israel ou antissemita em sua plataforma”. Conforme a matéria de Vox:
“No último mês, o TikTok tentou garantir aos líderes empresariais, influenciadores e organizações judaicas que não está promovendo discursos anti-Israel ou antissemitas em sua plataforma. O CEO Shou Chew teria se reunido com executivos do Tinder, do Facebook e da Anti-Defamation League, entre outros, para discutir moderação e desinformação, enquanto seu chefe de operações realizou uma chamada de vídeo privada com mais de uma dúzia de TikTokers judeus e celebridades, incluindo Sacha Baron Cohen e Amy Schumer, durante a qual Cohen acusou o aplicativo de ‘criar o maior movimento antissemita desde os nazistas’.”
A reportagem lembra que o aplicativo conta com cerca de 150 milhões de usuários ativos mensais nos EUA, com 60% destes tendo idade entre 16 e 24 anos e outros 26%, entre 25 e 44 anos. “É um aplicativo dominado por jovens”, continua, “e acontece que os jovens simpatizam com a Palestina”.
“Antes dos ataques do Hamas em 7 de outubro, os norte-americanos já estavam começando a ficar mais do lado da causa palestina, mas este ano, pela primeira vez, os democratas dizem que simpatizam mais com os palestinos (49%) do que com os israelenses (38%), de acordo com uma pesquisa Gallup da primavera de 2023. O apoio a Israel é menor entre os norte-americanos mais jovens, com 42% apoiando os palestinos e 40% os israelenses. A guerra exacerbou essa diferença: de meados de outubro a meados de novembro, o apoio à Palestina entre os jovens eleitores saltou de 26% para 52%, de acordo com uma pesquisa da Quinnipiac University. Embora a maioria dos americanos ainda apoie Israel (uma pesquisa recente da NPR mostrou que 65% dos adultos afirmam que os EUA deveriam demonstrar apoio público a Israel), a polarização está aumentando, causando grandes divisões entre as instituições culturais e o governo do presidente Biden, que continuou enviando armas para Israel.”
Comprovando a imensa maioria do apoio dos jovens norte-americanos à Palestina, a centenária revista norte-americana Time – tradicional órgão de propaganda imperialista – publicou uma matéria defendendo a proibição do TikTok nos EUA, sob o argumento de que “32% dos americanos com idade entre 18 e 29 anos dizem que recebem notícias regularmente do TikTok, em comparação com 9% em 2020”. Conforme a matéria, “isso o torna uma das principais fontes de notícias para a Geração Z – e já vimos seu potencial de impacto no mundo real”.
“Após os ataques de 7 de outubro do Hamas contra Israel, a Liga Antidifamação [ONG sionista] registrou um aumento de 10 vezes nos incidentes antissemitas nos campi universitários dos EUA. Isso coincidiu com um aumento do conteúdo pró-palestino no TikTok: no auge, 98,6% das visualizações no TikTok de conteúdo relacionado à guerra entre Israel e o Hamas tinham uma hashtag pró-palestina.”
A matéria exibe ainda o gráfico abaixo, baseado em dados extraídos do TikTok e que não deixam dúvidas de que, ainda que o imperialismo alegue uma questão de segurança nacional, trata-se de uma censura contra a difusão de registros que desmentem toda a propaganda criada para sustentar politicamente a invasão sionista da Palestina. Com a Internet furando o bloqueio dos monopólios de comunicação e mostrando a verdade sobre o genocídio cometido por “Israel” contra os palestinos.
A matança insana de milhares de mulheres e crianças, os efeitos chocantes do cerco monstruoso imposto à Faixa de Gaza (fome, doenças, etc.) e as demais medidas destinadas a massacrar o povo palestino, cobrou um preço muito alto aos verdadeiros organizadores do martírio palestino.
Ao imperialismo, não sobrou outra opção, exceto apelar para a censura. A esquerda brasileira precisa estar atenta a estes eventos e mudar sua própria política no Brasil, onde o campo dá sustentação a projetos de lei como o PL das “Fake News“, que obriga os monopólios de Internet a censurarem os usuários de seus aplicativos. A censura, como o caso norte-americano esclarece, não existe para impedir a mentira, mas para silenciar a verdade e assim, garantir que os monopólios mintam à vontade, tal qual fazem os que defendem “Israel”.