HISTÓRIA DA PALESTINA

Liga Árabe: radicalismo e decadência do nacionalismo árabe

Organização formada para impedir a dominação imperialista entrou em declínio, mas ressurge em meio à crise imperialista

Fundada em 22 março de 1945, a Liga dos Estados Árabes (mais popularmente conhecida como “Liga Árabe”) tinha seis Estados-membros na época de sua fundação: Egito, Iraque, Transjordânia (atual Jordânia), Líbano, Arábia Saudita e Síria. Sua criação obedecia a um acordo assinado em 7 de outubro do ano anterior, o Protocolo de Alexandria, que reunia todos os países acima – exceto a Síria – e que tinha como objetivo (dentre outras questões) apoio à “independência e soberania do Líbano em suas fronteiras atuais”, o que, segundo os termos do primeiro acordo, “os governos dos Estados acima já reconheceram”. Além disso, tinha como objetivo declarar apoio ao povo palestino, nos termos:

“Resolução Especial sobre a Palestina

  1. O Comitê tem opinião de que a Palestina constitui uma parte importante do Mundo Árabe e que os direitos dos árabes na Palestina não podem ser violados sem prejuízo para a paz e estabilidade no Mundo Árabe.

O Comitê também está da opinião de que os compromissos vinculativos do Governo Britânico, que preveem a cessação da imigração judaica, a preservação das terras árabes e a conquista da independência para a Palestina, são direitos árabes permanentes cuja implementação rápida constituiria um passo em direção ao objetivo desejado e à estabilização da paz e segurança.

O Comitê declara seu apoio à causa dos árabes da Palestina e sua disposição em trabalhar para a realização de seus objetivos legítimos e a proteção de seus direitos.

O Comitê também declara que não está aquém em lamentar as desgraças infligidas aos judeus da Europa pelos estados ditatoriais europeus. No entanto, a questão desses judeus não deve ser confundida com o sionismo, pois não pode haver injustiça e agressão maiores do que resolver o problema dos judeus da Europa por meio de outra injustiça, ou seja, infligindo injustiça aos árabes da Palestina de várias religiões e denominações.

  1. A proposta especial referente à participação dos Governos e povos árabes no ‘Fundo Nacional Árabe’ para proteger as terras dos árabes da Palestina será encaminhada ao comitê de assuntos financeiros e econômicos para examiná-la sob todos os seus aspectos e apresentar o resultado desse exame ao Comitê Preliminar em sua próxima reunião.”

Nota-se, pelo teor do documento, que a questão palestina era central para a organização do nacionalismo árabe, que via na formação do Estado de “Israel” uma grave ameaça aos países árabes. Atentos ao perigo que representava a formação do enclave militar imperialista no Mandato Britânico da Palestina, a Liga busca impedir a conclusão do plano de estabelecer o Estado sionista, invadindo “Israel” no dia seguinte ao fim do Mandato Britânico, expirado em 14 de maio de 1948. A corrupção dos governos árabes, no entanto, levou a expedição militar ao fracasso, com “Israel” conquistando mais territórios, a ocupação da Faixa de Gaza pelo Egito e a anexação da Cisjordânia pela Transjordânia, que ficaria também com Jerusalém Oriental.

Em 1964, a Liga apoia a criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), uma nova tentativa do nacionalismo árabe de retomar o território perdido da Palestina e expulsar os invasores sionistas. Três anos depois, os países árabes fariam uma nova investida contra “Israel”: a Guerra dos Seis Dias. O novo conflito explodiu em 5 junho de 1967.

A questão da Palestina permanecia como ponto central do conflito, com a Liga expressando solidariedade aos palestinos e opondo-se à presença de “Israel” na região. As Forças de Defesa de Israel lançaram ataques aéreos surpresa contra as forças árabes, marcando o início da Guerra dos Seis Dias, principalmente Egito, Síria, Jordânia, Iraque e Líbano, mas também outros países árabes contribuíram com apoio logístico e político.

No entanto, a falta de coordenação eficaz entre esses países complicou a formulação de uma estratégia unificada, ocasionando rápidos avanços das forças israelenses em várias frentes. Ao final da curta guerra, “Israel” ampliou seus territórios, tomando a Península do Sinai do Egito, as Colinas de Golã da Síria, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. A velocidade desses avanços foi desconcertante, levando a uma desmoralização do nacionalismo árabe.

Seis anos depois, a Liga Árabe faria uma nova ofensiva para recuperar os territórios perdidos na chamada Guerra de Outubro. Mais uma vez, no entanto, as divisões no interior dos países da Liga, em especial o rei da Jordânia, já na época em negociação com a primeira-ministra israelense Golda Meir, impediram a reconquista dos territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias. O conflito, no entanto, seria suspenso após os países árabes boicotarem a produção petrolífera, causando a primeira Crise do Petróleo, trazendo impactos significativos para a economia mundial, que nunca mais se recuperaria da alta dos preços.

Em 1978, é a vez do Egito assinar um acordo com os sionistas, o que termina por levar à suspensão do país da Liga Árabe. A sede, até então localizada no Cairo, é transferida para Tunes, capital da Tunísia, porém a desmoralização política causada pelo depressão do nacionalismo árabe custará caro à Liga, que mesmo condenando o reconhecimento do Estado de “Israel” pelo Egito, não terá forças para se opor ao imperialismo após os anos 1970. Em 1994, é a Jordânia quem assina um acordo com Telavive, reconhecendo a existência de “Israel”, porém já sem as consequências sofridas pelo Egito em 1978.

Em 2011, atendendo aos interesses do imperialismo, a Síria também é suspensa da organização, devido à eclosão da guerra civil no país, que lutava contra a tentativa frustrada de um golpe de Estado patrocinado pelas potências imperialistas. O país-fundador da Liga Árabe seria readmitido em 2023, no entanto, evidenciando uma tímida, mas marcante retomada da política nacionalista dos países da região, que em meio à crise da ditadura mundial, busca se reerguer, tendo, novamente, a Palestina como grande centro irradiador da esperança pelo fim da opressão estrangeira.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.