Ascensão de empresário falastrão evidencia a rejeição aos partidos e políticos tradicionais da direita e aos da esquerda que buscam imitá-los
O candidato do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) a prefeito de São Paulo, Paulo Marçal, chegou ao primeiro lugar nas pesquisas eleitorais na semana passada em meio a uma sequência de ataques que evidenciam uma clara perseguição política.
Enquanto suas redes sociais com mais de 20 milhões de seguidores foram retiradas do ar, em um claro ato de arbitrária censura por parte da ditadura do judiciário que impera no País, o Ministério Público Eleitoral já pediu a cassação de sua candidatura, acatando o pedido de Tabata do Amaral (PSB) e de Ricardo Nunes (MDB).
Ao mesmo tempo, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) saiu em campanha para impedir que Marçal participasse dos debates públicos, depois que os três outrora líderes na pesquisa, Nunes, Boulos e Datena (PSDB), se recusaram a participar de debates com a presença de Marçal, depois que esse teve grande destaque na primeira rodada de debates na TV.
Depois de tentar, sem sucesso, ser candidato à presidência da República, em 2022 (com sua candidatura sendo vetada pelo seu próprio partido (o PROS, que na época apoiou Lula), Marçal candidatou-se a deputado federal por São Paulo e obteve 243 mil votos, porém, após decisão liminar do Tribunal Superior Eleitoral, sua candidatura foi impugnada e seu mandato cassado.
“Democracia”
O partido de Marçal, o PRTB, uma pequena legenda de aluguel, fundada pelo falecido Levy Fidelix, e com seu comando atual disputado por membros da sua família e outras máfias políticas, é uma dos 14 partidos que estão alijados do horário eleitoral no rádio e TV, não tem sequer um segundo para apresentar suas propostas por não ter superado a draconiana cláusula de barreira que exige que cada partido alcance, no mínimo, 2% da quantidade de votos válidos em eleições, ou que elejam 11 deputados federais em nove estados do Brasil.
Já não bastasse essa barreira ditatorial, que atinge, inclusive a maioria dos partidos de esquerda, como o PCO, PCB, PSTU, UP, visando garantir o monopólio da representação política para as grandes máquinas da política burguesa amplamente rejeitadas pela população, há uma clara operação política, policial e judiciária, para impedir Marçal de falar a todo custo.
No caso dos partidos e instituições do regime golpistas, dominados pela direita, esta conduta criminosa é algo que já se tornou comum. Há anos vêm restringindo a participação política, reduzindo as campanhas eleitorais, criando todo tipo de proibição e censura. Nunca permitiram que uma organização como o Partido da Causa Operária (PCO) participasse dos principais debates na televisão. Afinal, isso afetaria os interesses das candidaturas do grande capital. Em 2020, o ministro Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de todas as redes sociais vinculadas ao PCO, por quase um ano, em pleno processo eleitoral, por conta do Partido denunciar o golpe e apresentar posições que não são do gosto da direita, como a defesa de um reforma que ponha fim ao STF e garanta a eleição direta dos juízes.
“Anti-sistema”?
No caso de Marçal, no entanto, não se trata de nenhum revolucionário. Muito pelo contrário: um demagogo e grosseiro, bolsonarista, que não tem propostas reais para resolver os problemas da população, que tem sua campanha baseada em acusações toscas e morais, como a de que Guilherme Boulos seria um “aspirador de pó”, ou mesmo sabidamente falsas como a de que o prefeito neoliberal Ricardo Nunes seria “comunista”.
Por atacar superficialmente os principais candidatos e partidos do regime e por ser perseguido, Marçal é visto enganosamente por milhões como sendo um “candidato anti-sistema”, recebendo enorme apoio e incomodando os poderosos. Isso apesar de ter apoiado e apoiar toda a política da direita contra o povo como golpe de Estado, a eleição fraudulenta de Bolsonaro e as privatizações.
O crescimento da sua candidatura é muito menos mérito dele e muito mais demérito dos seus adversários. Expressa a impopularidade e o caráter artificial das demais candidaturas, inclusive daquelas que como Guilherme Boulos (PSOL), se apresentam como candidatos apoiados pela esquerda parlamentar, mas defendem em aspectos centrais a mesma política d Marçal e de tod a direita, como a “estabilidade fiscal”, ou seja, que os gastos públicos devem se ater às regras ditadas pelos bancos e suas máfias política não às necessidade da população; se opõem à participação popular, defendendo um governo apoiado nas falidas instituições do atual regime; condenam a luta do povo, apoiando – por exemplo – Biden, Mille e Bolsonaro, na campanha caluniosa de que houve fraude na Venezuela e não expressam qualquer solidariedade com a luta do povo palestino.
Os candidatos dos partidos patronais que concorrem com Marcal como Nunes, Datena e Tabata do Amaral(PSB) são candidatos tão impopulares que basta que algo saia do grande esquema montado junto à imprensa capitalista que suas candidaturas correm o risco de desmoronar. Ninguém acha Marçal um gênio. A questão é que ninguém gosta dos outros candidatos, e ninguém mais tem paciência para escutar os representantes de um regime político falido.
Ao se associar aos demais representantes do regime político, Boulos apenas confirma que sua candidatura não é de esquerda. É apenas uma das quatro alternativas para levar adiante a ditadura tucana em São Paulo contra a população do estado.