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Coluna

Lição da Síria: quem não faz gol, leva gol

O governo Assad se tornou o elo mais fraco do Eixo da Resistência justamente por ser o elo que menos lutava, que menos resistia à ofensiva do imperialismo 

A derrubada de Bashar al-Assad pelos mercenários da Al-Qaeda foi um choque para quase todo o mundo. É provável que em novembro, nem mesmo a CIA e o Mossad, que deram o golpe no mês seguinte, soubessem que ele iria acontecer. Mas como um regime político que conseguiu derrubar uma brutal intervenção imperialista em uma guerra brutal de sete anos caiu em 10 dias? O futebol explica: quem não faz gol, leva gol.

O cerne da questão é que 2024 não é 2017. Em 2017, o general Qassem Soleimani decretou o fim do Estado Islâmico, ou seja, a derrota do imperialismo na tentativa de golpe na Síria. A vitória de Assad não foi total, porque o país ficou ocupado em partes pelos EUA e em parte pela Al-Qaeda, além da antiga ocupação de Golã por “Israel”. Mas foi uma vitória pois naquele momento a principal política do imperialismo era o golpe na Síria e este golpe foi derrotado.

Em 2024, a situação é outra. O imperialismo está tentando a qualquer custo salvar o Estado de “Israel”, é o imperialismo quem está na defensiva, diante do avanço do Eixo da Resistência. A existência de “Israel” está em jogo e por isso foi lançada uma contra-ofensiva muito violenta. O primeiro alvo foi Gaza, o genocídio, depois o Iêmen, uma nova campanha de bombardeios e bloqueio, depois o Líbano, a ofensiva sionista de setembro até novembro. Era óbvio que o momento da Síria, o mais fraco destes três no quesito político, chegaria.

Do ponto de vista da resistência ela se fortaleceu em todos os países pois lutou contra o imperialismo. Os gols foram: a operação Dilúvio de al-Aqsa do Hamas, o Hesbolá lançou uma guerra de atrito contra “Israel”, o Iêmen lançou o bloqueio do Mar Vermelho, a resistência do Iraque lançou guerra contra bases dos EUA e “Israel”, o Irã decidiu atacar diretamente “Israel” duas vezes em momentos estratégicos. E a Síria o que fez?

Nada.

As tribos sírias iniciaram uma revolta contra os EUA na região de Deir Ezzor, o governo Assad não aproveitou o lance. Os iraquianos bombardearam as bases dos EUA na Síria dezenas de vezes, Assad não aproveitou o lance. A guerra se deslocou para a região norte de “Israel”, inclusive nas Colinas de Golã, um território da Síria e Assad não aproveitou o lance. A Al-Qaeda começou a preparar um contra-ataque com ajuda direta da OTAN por meio dos ucranianos e Assad não preparou a defesa. Ou seja, no meio do campeonato mais disputado do planeta, o time de Assad ficou paralisado. A derrota em casos como este é certa.

A metáfora aqui é sobre a luta contra o imperialismo. Quando o imperialismo está em uma ofensiva, ou você luta, ou você cai. Em 2011, Assad lutou. Em 2024, não. Ao mesmo tempo que as forças revolucionárias se fortalecem, o Eixo da Resistência, as forças da contrarrevolução se tornam cada vez mais agressivas, no caso da Síria, a Al-Qaeda. Assad permitiu que a contrarrevolução se tornasse cada vez mais forte em seu país, já seu governo se tornou cada vez mais fraco, ao não adentrar a luta contra o imperialismo que o ano de 2024 exigia. E assim ele caiu.

Nessa perspectiva a queda de Assad não se mostra um baque tão grande contra a resistência. Ele já não representava um pólo importante da luta contra o imperialismo. A sua derrubada continua sendo muito ruim para a resistência. Perder um aliado nunca é positivo, mas ele estava se tornando um aliado cada vez menos útil, mais paralisado.

Mas o futebol não pára e quando um antigo jogador se aposenta aparece uma nova geração de craques para assumir seu lugar. E o aitolá Khamenei já anunciou: “a juventude da Síria se erguerá e derrotará a ocupação”.

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