Em 1922, a III Internacional, no seu Quarto Congresso, aprovou o que ficou conhecido como Teses sobre a Questão do Oriente. O documento, escrito por Lênin, discutia a tática e a estratégia revolucionárias para os países do Oriente, isto é, os países coloniais e semicoloniais que viviam, naquela altura, uma grande efervescência revolucionária. Em tempos de escalada na crise da ocupação sionista na Palestina e de ascensão de movimentos revolucionários na Península Arábica, as Teses conservam uma profunda atualidade.
É possível encontrar nelas passagens como esta:
“Nos países muçulmanos, o movimento nacional encontra sua ideologia a princípio nas consignas político-religiosas do pan-islamismo, o que permite aos funcionários e aos diplomatas das metrópoles utilizar os prejuízos e a ignorância das multidões populares para combater este movimento (é assim que os ingleses jogam com o pan-islamismo e o pan-arabismo, declarando querer transportar o Califado para a Índia, etc. e o imperialismo francês especula com as “preferências muçulmanas”). Porém, à medida que se engrandece e amadurece o movimento de emancipação nacional, as consignas político-religiosas do pan-islamismo são substituídas por reivindicações políticas concretas.”
Basta pensar na evolução política de uma organização como o Hamas para apreender a correção dos ensinamentos dos comunistas que levaram a Revolução Russa, em 1917, à vitória. Além disso, as Teses destacam a manobra que o imperialismo costumeiramente realiza em torno de um suposto caráter reacionário intrínseco da religião islâmica. Está ali, registrado e explicado.
O documento explicita também qual deve ser a posição dos revolucionários marxistas diante dos grupos ou partidos que dirigem a luta pela emancipação nacional nos países atrasados. Ele pontua:
“Dando-se muito bem conta de que nas diversas condições históricas os elementos mais variados podem ser os representantes da autonomia política, a Internacional Comunista sustenta todo movimento nacional-revolucionário dirigido contra o imperialismo.”
Lênin, Trótski e os verdadeiros marxistas de então tinham plena clareza das coisas. Tinham consciência que “os elementos mais variados” poderiam cumprir a função de dirigir a luta. Esses elementos poderiam ser um partido de ideologia islâmica, católica, protestante, de qualquer ideologia manifestamente não marxista. Esse, pois, não era o critério principal para a tomada de posição dos comunistas. O critério principal era outro. Está claro qual é: “a Internacional Comunista sustenta todo movimento nacional-revolucionário dirigido contra o imperialismo [negrito nosso.]” É o critério da prática política: desde que dirigido efetivamente contra o imperialismo, desde que dirija uma luta real contra o imperialismo, a saber, o principal inimigo dos povos explorados do mundo, os comunistas prestarão seu apoio a tal movimento.
Trocando em miúdos: se a luta contra a criminosa ocupação sionista e a dominação imperialista é dirigida por um partido político de matriz ideólogica islâmica, os comunistas, os marxistas verdadeiros, não hesitarão em apoiar o movimento liderado por esse partido.
O Partido da Causa Operária (PCO) segue intransigentemente os ensinamentos da III Internacional em seu período leninista. Apoia integralmente as bases e as conclusões das Teses. Aí estão os princípios teóricos que fundamentam seu apoio à resistência armada palestina, em particular ao Hamas, e ao Irã, dois pilares fundamentais do Eixo da Resistência, a frente única de organizações que lidera, hoje, a luta contra o imperialismo.