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HISTÓRIA DA PALESTINA

Khalid Meshal: a primeira vez que o Hamas derrotou Netaniahu

Em 1997, o primeiro governo Netaniahu tentou assassinato líder do birô político do Hamas, os agentes do Mossad foram capturados e assim “Israel” teve de libertar 70 palestinos

Antes de Ismail Hanié, recentemente assassinado pelo Estado sionista, assumir a liderança do birô político do Hamas em 2017, outra figura era a principal liderança do partido palestino por décadas, Khalid Meshal. Um dos momentos de maior destaque foi quando ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato do Mossad em Amã, capital da Jordânia, que levou, inclusive, a uma crise diplomática entre o país árabe e “Israel”, algo que aconteceu poucas vezes. Superar o Mossad, obviamente, o tornou uma liderança ainda mais popular.

O ano era 1997, a conjuntura política ainda estava confusa, pois o Fatá, de Iasser Arafat, o maior partido na Palestina naquele momento, havia assinado um acordo de paz com “Israel”, os famosos Acordos de Oslo. Neles, estava prometida a criação de um Estado da Palestina em cinco anos, ou seja, naquele momento, os palestinos esperavam para ver se os sionistas iriam cumprir com a promessa, algo que nunca aconteceu. O Hamas já não confiava em “Israel” e nunca aceitou o acordo e, por isso, estava sofrendo uma violenta perseguição dos aparatos de inteligência do sionismo.

Khalid Meshal era o líder do birô político do Hamas, um partido de 10 anos de idade que ainda era minoritário na Palestina. Ele nasceu em 1956 em Siluad, na Cisjordânia, governada, na época, pela Jordânia. Em 1967, a família de Meshal e outros 300.000 palestinos foram expulsos de suas casas pelas forças de ocupação israelenses em uma segunda onda de limpeza étnica que ficou conhecida como a Naksa (Revés). Sendo assim, ele possuia cidadania da Jordânia e residia em sua capital.

O primeiro-ministro de “Israel” era Benjamin Netaniahu, foi a primeira vez que ocupou o cargo, mas por pouco tempo. Ele lançou o plano para assassinar Meshal. Uma equipe de seis membros do Mossad chegou a Amã uma semana antes do assassinato, usando passaportes canadenses falsos. O plano era claro: matar o líder exilado do Hamas usando uma toxina letal, sem deixar qualquer rastro dos assassinos. A ideia era que, após a aplicação secreta da toxina, Meshal seguiria o resto do seu dia normalmente e, quando o cansaço o dominasse, ele tiraria uma soneca, da qual nunca mais acordaria; esperava-se que ele morresse dentro de 48 horas.

Mas o plano falhou. Um dos guarda-costas de Meshal perseguiu os agentes do Mossad e conseguiu apreender os assassinos após algum combate corpo a corpo. A sua captura foi crucial. Netaniahu tentou esconder a tentativa de assassinato fracassada. Ele enviou o chefe do Mossad, Danni Yatom, para implorar ao rei Hussein da Jordânia pela libertação dos agentes. Mas isso provocou uma crise diplomática com o reino da Jordânia, que havia normalizado as relações com o Estado sionista apenas três anos antes com o Acordo Uadi Araba.

O rei Hussein alertou “Israel” que, se o líder do Hamas morresse, os agentes do Mossad seriam enforcados como assassinos. A crise era muito grande porque os acordos assinados com “Israel” eram extremamente impopulares. Ele ligou para o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, para ter algum resultado. Há relatos de que a situação no governo norte-americano era de abandonar completamente Netaniahu. “Este homem é impossível”, Clinton teria dito ao ouvir que o primeiro-ministro israelense havia autorizado a tentativa de assassinato. Não porque ele não apoiasse o genocida sionista, mas por sua incapacidade de administrar uma situação que estava sobre relativo controle com os acordos feitos poucos anos antes.

A pressão do rei funcionou. “Se Meshal morrer, o tratado de paz morre com ele“, afirmou. Com os EUA agindo como mediador, “Israel” não teve escolha a não ser ceder. Uma aeronave entregou o antídoto. Mas a crise de Netaniahu não terminou aí. Os dois agentes do Mossad ainda estavam presos, enfrentando uma sentença de morte, e a embaixada israelense em Amã, onde os outros quatro membros da equipe haviam se refugiado, estava cercada por forças de segurança jordanianas. Em troca de permitir que eles deixassem a Jordânia, o rei Hussein exigiu um preço alto, uma troca de prisioneiros.

Isso mostra que a situação da monarquia estava muito ameaçada diante da crise. O rei nunca foi nenhum progressista defensor do Hamas, ele mesmo aceitou os acordos de paz com “Israel”. A população, furiosa com o acontecimento, o pressionou não só para ele salvar Meshal, como para garantir uma vitória para o Hamas. “Israel” libertou o xeique Ahmed Iassin, o próprio fundador e mais popular líder do Hamas, junto com outros 70 prisioneiros palestinos. Meshal foi salvo com apenas algumas horas de vida. Sua fama cresceu dentro do movimento como “o homem que não morreria”.

O chefe do Mossad naquele momento, Efraim Halevy, contou em 2022 sua versão dos acontecimentos.”Todas as sugestões propostas na reunião eram irrelevantes“, lembrou Halevy. “No final da discussão, expressei minha opinião de que nossas ações conciliatórias em relação à Jordânia deviam ser vistas pelo mundo árabe não como compensação israelense aos jordanianos, mas como força jordaniana”. A realidade é que elas foram uma demonstração de força dos árabes.

Quando Netaniahu perguntou o que ele queria dizer, Halevy teria dito que “Israel” deveria libertar Ahmed Yassin. Netaniahu teria recusado inicialmente. Mas, à medida que a crise escalava e sem uma solução clara, o primeiro-ministro teria ligado para Halevy. O ex-líder do Mossad afirma que “Netaniahu estava muito rouco, parecia doente. Esses são fenômenos bem conhecidos entre líderes em tempos de crise. Ele me disse duas palavras em inglês — ‘faça isso’ — e desligou”.

A derrota política para Netaniahu também foi gigantesca. Ele teve de se pronunciar publicamente afirmando que nunca mais realizaria um ingerência desse tipo na Jordânia. Dois anos depois, ele deixou de ser primeiro-ministro e ficou de fora da política por um tempo. Ainda não era o momento da extrema direita tomar o controle total de “Israel”. Ele voltou ao governo 10 anos depois, em 2009, agora com o Hamas sendo uma poderosa organização que derrotaria “Israel” diversas vezes.

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