Em artigo publicado no Brasil 247 e intitulado Kamala Harris merece ser apoiada pelos progressistas?, o historiador e editor do sítio Mundo Multipolar Paulino Cardoso faz uma importante caracterização de Kamala Harris, possível candidata à Presidência da República nas eleições norte-americanas de novembro pelo Partido Democrata. Em seu artigo, Cardoso lembra que “Harris, atuou como promotora distrital de São Francisco de 2004 a 2011 e procuradora-geral da Califórnia de 2011 a 2017”, lembrando ainda que a democrata se descreve como uma “procuradora progressista”. O artigo, porém, investiga a propaganda mais a fundo, destacando que “o histórico de Harris como promotora, no entanto, está longe de ser progressista”.
“Um exemplo, seu pedido de desculpas pela flagrante má conduta do Ministério Público, da sua recusa em permitir testes de DNA a um presidiário provavelmente inocente no corredor da morte, da sua oposição à legislação que exige que o gabinete do procurador-geral investigue de forma independente os tiroteios policiais e muito mais, ela deu uma contribuição significativa à sórdida história do crime.”
Segundo o editor, suas denúncias tem como base um artigo de 2019, escrito por uma professora de nome Marjorie Cohn, que, conforme Cardoso, continua válido no propósito original apresentado por Cohn: denunciar que “Kamala Harris é uma servidora da injustiça”.
“Punitivista”, continua o artigo, “ela não acredita na reabilitação de apenados e afirma que o trabalho dos presos era importante para economia da Califórnia. Neste sentido, recomendo a todos o brilhante documentário 13ª Emenda, 2016, dirigido e produzido por Ava DuVernay, que explicita como a criminalização dos negros fundamental para reatualizar a escravidão”.
O documentário traz uma denúncia do verdadeiro nazismo do regime político norte-americano e do papel dos democratas no impulsionamento de uma política fascista, de encarceramento em massa da população negra, que, uma vez submetida ao inferno dos campos de concentração, é submetida a formas atualizadas de escravidão.
“Um dos lados mais perversos da nova rainha dos identitários”, continua Cardoso, passando para nova denúncia, “foi como ela impediu a investigação sobre o rei das hipotecas. Segundo ela, embora muitas das ações judiciais de Harris tenham prejudicado pessoas de cor, uma ação notável ajudou o ‘rei da execução hipotecária’ branco – Steve Mnuchin, [que se tornou] secretário do Tesouro de Trump. Ele foi CEO do OneWest Bank de 2009 a 2015. Um 2013 memorando obtido por A Interceptação alega que ‘OneWest expulsou proprietários inadimplentes de suas casas, violando estatutos de notificação e período de espera, documentos importantes ilegalmente retroativos e leilões de execução hipotecária efetivamente manipulados’”, destaca o artigo.
Cardoso continua analisando a denúncia de Cohn, informando que o caso resultou em uma investigação de um ano, que, segundo palavras do procurador-geral da Califórnia, “descobriu evidências sugestivas de má conduta generalizada”. Ainda citando a denúncia da professora, o artigo informa que, em 2013, “eles [Seção de Direito do Consumidor do procurador-geral da Califórnia] recomendaram que Harris processasse uma ação civil contra o banco”, porém, “sem qualquer explicação, o escritório de Harris recusou para iniciar o litígio no caso”, beneficiando um homem que como o artigo reforça, “foi responsável por executar hipotecas de 80 mil famílias”.
Além dos fortes indícios de corrupção que marcam a trajetória da democrata, o editor lembra que “em 2017, ainda no Governo Trump”, a então nova senadora democrata “fez um longo discurso contra o Irã, acusado de armar terroristas do Hesbolá e do Hamas e aprovando a liberação bilhões de dólares para Israel”, ao que o artigo acrescenta: “não por acaso, ela [Harris] recebeu 5,7 milhões de dólares do lobby sionista”.
Com tal ficha corrida, Cardoso destaca como é difícil “compreender a capitulação ideológica dos setores progressistas brasileiros com a coroação, já que não seguiu as regras partidárias, de Kamala Harris como candidata pelos Democratas à presidência dos EUA”, que, segundo o autor, já colocando sua própria impressão sobre a possível candidata, “é antes de tudo, expressão da falência dos Estados Unidos como modelo de democracia liberal para o mundo”.
Não apenas isso. Como conclui o autor, sua provável candidatura expressa também “a entronização de uma carniceira, cruel e monstruosa”. Com o imperialismo ameaçando expandir a OTAN até a China e mergulhar o mundo em uma situação de guerra total contra as nações atrasadas, nada mais frontalmente contrário ao pacifismo advogado pela pequena burguesia esquerdista do que a política de Harris.
“Não há nada a defender aqui”, conclui o historiador. De fato, nada mais coerente do que o imperialismo mover mundos e fundos para defender Harris. São os monopólios que precisam de uma pessoa venal e desprovida de escrúpulos para sua política. Para a esquerda, no entanto, nada mais frontalmente contrário ao que dizem defender do que Harris e o grupo de interesses que a apoia.