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Brasil

Jornalista aconselha Lula a ir para direita para vencer a direita

Jornalista propõe que Lula se renda à direita se quiser ganhar a próxima eleição, no entanto fazer isso já é em si uma derrota.

Fisiologismo

O artigo Se Lula não atrair o centrão, o centrão fecha com Bolsonaro, de autoria de Alex Solnik, publicado no Brasil247 nesta segunda-feira (23), propõe que Lula, para combater a direita, se mude de armas e bagagens para a direita. No Brasil não existe “centro” e muito menos “centrão”, é apenas um eufemismo para se referir à velha direita fisiológica desgarrada, mas aliada, do bolsonarismo.

Solnik diz que “Ninguém precisa ensinar a Lula como ganhar eleições, ele sabe melhor do que ninguém, por isso já percebeu que o Brasil é um país dividido, metade o ama e detesta Bolsonaro e vice-versa”. E emenda dizendo “Ninguém precisa dizer a Lula que ele, sozinho, não ganha eleição. Nem Bolsonaro. Ou o preposto de Bolsonaro. Mesmo assim, escreve um artigo dando “conselhos” para Lula, caso este queira vencer as próximas eleições, o que na prática, são uma pressão direitista contra o governo.

Há nesta última frase um erro, Bolsonaro foi um excelente cabo eleitoral, ao passo que Lula não conseguiu eleger Guilherme Boulos para prefeito em São Paulo. Mas isso se deve exatamente porque tanto a política do petista quanto o candidato estão cada vez mais direitistas, o que fez com que parte do eleitorado, mesmo da base do PT, tenha se negado a votar em Boulos.

Jogo de cena e fisiologismo

Para Solnik, “esta é a consequência da polarização na prática. Lulistas batem nos bolsonaristas e vice-versa vinte e quatro horas por dia, bolsonaristas e lulistas se odeiam até a medula, apontam o dedo uns para os outros, e assim ficam ambos no centro do palco, mas sem maioria”. A questão, para ele, se resume ao ódio que uma ala sente pela outra, com o agravante, porém, de deixar no ar que isso não passe de um jogo de cena para que os petistas e bolsonaristas permaneçam no centro das atenções e daí angariem dividendos políticos.

Segundo o jornalista, “Vai ganhar as próximas eleições quem atrair os partidos de centro, os campeões da última disputa. Lula tem muito mais condições para isso, porque tem a caneta na mão para convencê-los de que seu projeto é melhor para eles e para o país”. (grifo nosso)

Como se viu pelo trecho acima, Alex Solnik em nenhum momento sugere que Lula se dirija às bases para fazer valer seu capital político. Em vez disso, apela para que o presidente atraia o “centrão”. Porém, “ter a caneta na mão”, significa comprar os parlamentares do “centro” com verbas para obras, etc. É corrupção pura e simples. Trata-se do velho e bom fisiologismo. O que salta aos olhos é que um jornalista, que se diz de esquerda, fale disso sem o menor pudor.

Proposta indecente

O jornalista afirma que a manobra com o “centro” “não é uma tarefa simples. Para abrir mais espaço no governo para PSD, MDB, PP, União e Republicanos, que já têm ministérios, Lula terá de cortar na carne, ou seja, no PT do qual é o fundador e presidente de honra, o que fará com lágrimas nos olhos, só que não tem como não fazer, em nome de um objetivo maior, a reeleição”. Em outras palavras, Lula terá que entregar o pouco que ainda resta nas mãos da direita, que Solnik apelida de centro.

Como a população repudia o “centro” e este também não tem tanto espaço também com o bolsonarismo, Alex Solnik propõe que Lula utilize seu prestígio para colocar essa gente no poder. Mais que já tem feito. Nada melhor para a burguesia, que teria no próprio presidente uma força que a ajudaria a se ver livre do bolsonarismo, e colocasse no jogo os seus políticos de estimação.

Quantidade é tudo, para alguns

A preocupação de Alex Solnik é com a quantidade, não com a qualidade. Por isso ele se preocupa em trazer números. Diz que “o PSD elegeu 885 prefeitos; o MDB, 853; o PP, 746; o União, 583 e o Republicanos, 433. | O PT elegeu 252”. “E que os cinco partidos juntos comandam 3500 das 5570 cidades brasileiras”.

Para o jornalista direitista, o que vale é fazer o cálculo de quantas cidades se vai governar, para isso ele propõe que o PT se alie com aquilo que há de pior na política brasileira. Em vez de se falar em qualidade, em políticas que defendam e atendam os interesses dos trabalhadores, o jornalista se apega aos números que, em si, nada representam.

Chantagem

Finalizando seu artigo, Alex Solnik parte para a chantagem, afirma que “ou os petistas aceitam perder algumas posições no governo, ou os partidos de centro aderem ao projeto Bolsonaro, com ele ou sem ele, e Lula corre o risco de não se reeleger e o PT perder as posições que teria com Lula reeleito”.

Onde estaria a vitória eleitoral se o PT teria que praticamente entregar o poder nas mãos da direita? O que Solnik defende é que para vencer o PT precisa perder, ou seja, se igualar à direita. Como todo direitista, Alex Solnik deixa o povo de fora da sua equação.

O que o jornalista não percebe, é que o capital político de Lula e do PT estão se exaurindo exatamente pela mesma guinada à direita que Solnik quer aprofundar. Ao ceder para a direita, aqui chamada de centro, o PT está cavando a própria cova.

A classe trabalhadora se afasta do PT e de Lula devido a sua política econômica, aos seus acordos por cima. A população reconhece o fisiologismo, que Solnik defende, como mais do mesmo. É por isso que Bolsonaro vem ganhando mais e mais espaço, pois a população não percebe sua demagogia e o vê como um político “antissistema”.

Se Lula preferir seguir os conselhos de um jornalista direitista, se resolver abraçar essa política reacionária, deverá ter em mente que estará apenas dando mais força para o bolsonarismo. A pressão feita por Solnik, em última análise, é contra Lula e a favor de Bolsonaro.

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