HISTÓRIA DA PALESTINA

Jordânia, um reinado da família de traidores da luta palestina 

Criado pelo próprio Winston Churchill o Reino da Jordânia é um dos maiores entraves para a libertação da Palestina, um lacaio do imperialismo no centro do Oriente Médio

Em 1951, o jovem príncipe Hussein acompanhava seu avô, o Rei Abdula I da Jordânia, para as orações de sexta-feira na Mesquita al-Aqsa, em Jerusalém Oriental, quando um atirador palestino matou o monarca da Jordânia. Segundo a história, uma medalha no uniforme de Hussein o salvou de sofrer o mesmo destino, quando uma bala ricocheteou nela. O pai de Hussein abdicou 13 meses depois, e Hussein foi nomeado rei do Reino Hachemita da Jordânia em 11 de agosto de 1952, aos 16 anos.

Relatos dizem que o palestino que atirou em Abdula era totalmente contra o rei fazer a paz com “Israel” e agir em prol dos interesses da Jordânia, e não da Palestina. O avô de Hussein esperava assumir o controle da parte árabe da Palestina, em troca de facilitar a criação de “Israel”. A consequência dessas aspirações foi uma das muitas altercações que o Rei Hussein teria com os palestinos durante seu reinado de 46 anos.

A família real da Jordânia já possuía uma relação histórica com o imperialismo. Ela foi, afinal, instalada pelos britânicos na década de 1920 para governar um país que eles criaram a partir dos restos do Império Otomano. O bisavô de Hussein e rei do Hejaz, Hussein bin Ali, liderou o levante contra o domínio otomano ao lado dos britânicos. Na época, a família hachemita era vista como a guardiã das cidades sagradas Meca e Medina e governava a região do Hejaz há sete séculos. Quando o Império Otomano colapsou, o filho de Hussein bin Ali, Faisal, recebeu o Iraque e Abdula recebeu a Transjordânia, que se tornou Jordânia. A família hachemita traça sua ancestralidade até o Profeta Maomé.

A cultura imperialista dos britânicos foi incutida em Hussein desde jovem. Ele frequentou a prestigiada escola pública Harrow, na Inglaterra, e foi estudar em Sandhurst. O Príncipe William e o Príncipe Harry também treinaram na academia militar, assim como vários outros membros da realeza do Oriente Médio, especialmente do Golfo, onde a Grã-Bretanha também foi uma potência colonial chave. A lista de ex-alunos de Sandhurst inclui o Rei do Barém, o ex-emir do Cuaite, o Sultão de Omã, o Emir do Catar e vários príncipes da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.

Em março de 1956, o nacionalismo árabe de Nasser do Egito estava no auge e a relação de Hussein com a Grã-Bretanha estava causando problemas. A Grã-Bretanha estava pagando milhões de libras em subsídios à Jordânia a cada ano. Hussein, pressionado pelo nacionalismo, substituiu altos oficiais britânicos no exército por jordanianos, demitiu Sir John Bagot Glubb, o general britânico encarregado da Legião Árabe, e rescindiu o tratado anglo-jordaniano. A Jordânia poderia escolher se alinhar com o nacionalismo ou com outro imperialismo, ainda menos odiado no Oriente Médio, escolheu se aliar aos EUA.

Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Hussein “Israel” invadiu a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, a Jordânia se tornou o centro de luta para retomar a Palestina e foi usada como plataforma para lançar a guerrilha contra “Israel”, o que gerou uma crise no governo do rei. Em setembro de 1970, aconteceu a maior traição de todas a luta dos palestinos, ela ficou conhecida como Setembro Negro. O rei para acabar com a luta revolucionária da Organização para a Libertação da Palestina ordenou um massacre de mais de 10 mil pessoas. A OLP foi expulsa para o Líbano

No período seguinte, tanto Hussein quanto a OLP lutaram para representar os palestinos vivendo sob ocupação israelense, com o primeiro tentando estabelecer um Estado árabe independente e o último tentando afirmar a autoridade da Jordânia na Cisjordânia. Mas a OLP foi reconhecida como o único representante dos palestinos pelos próprios palestinos, e todo o mundo árabe permaneceu hostil a Hussein na década seguinte.

De certa forma, a vida privada de Hussein espelhava suas alianças políticas. A primeira esposa de Hussein, Dina, tinha um diploma de Cambridge; sua segunda esposa era filha de um coronel britânico, Antoinette Gardiner, que se converteu e mudou seu nome para Muna. O filho mais velho deles, Abdula, é o atual rei da Jordânia. A quarta e última esposa de Hussein era árabe-americana. Durante seu tempo como monarca, Hussein teve quatro esposas (embora não ao mesmo tempo) e 12 filhos.

Em 1994, a Jordânia se tornou o segundo Estado árabe, depois do Egito, a assinar um tratado de paz com “Israel”. O pacto considerava disputas territoriais e de água, cooperação em turismo, comércio, ligações de transporte, recursos hídricos e proteção ambiental, e prometia que nenhum dos países seria usado como plataforma para ataques militares contra o outro. Foi o momento culminante do reinado, do outro lado do rio, em Hebrom, os palestinos queimaram fotos do rei em protesto.

Um capacho dos sionistas

Documentos recém-divulgados pelos Arquivos do Estado de “Israel” revelaram ainda mais a extensão das relações e do contato que o falecido rei Hussein da Jordânia mantinha com o governo israelense, confirmando seu papel em alguns vazamentos de informações para o Estado ocupante.

Os 3.500 arquivos contendo centenas de milhares de páginas e informações recém-desclassificadas, divulgados pouco antes do 50º aniversário da Guerra do Ramadã de 1973 entre “Israel” e os Estados árabes vizinhos, incluem o diário de Eli Mizrahi, chefe do Gabinete do primeiro-ministro na época.

Um dos relatos se refere à reunião entre a primeira-ministra israelense, Golda Meir, e o rei Hussein em uma instalação do Mossad nos arredores da capital, Telavive, em 25 de setembro de 1973, poucos dias antes do início da guerra. Essa reunião teria sido solicitada urgentemente por Hussein com o objetivo de revelar informações de inteligência a “Israel” sobre os planos da Síria de lançar outra guerra para retomar as Colinas de Golã ocupadas.

Mizrahi se referia ao rei jordaniano com o codinome “Lift” e com o pronome “ela” em um esforço para ocultar sua identidade nos documentos. Em seu diário, ele relatou em 25 de setembro que “Lift nos disse durante a conversa que foi informado por uma fonte extremamente sensível que todos os preparativos e planos para a operação síria haviam sido concluídos e as unidades já estavam posicionadas há dois dias – incluindo a força aérea e mísseis“.

Ele esclareceu que esses preparativos haviam sido “disfarçados como exercícios de treinamento, mas, de acordo com informações recebidas anteriormente, é claro que se tratam de preparativos para posições de lançamento. A fonte disse que estava ciente do significado disso, mas que esses eram os fatos”. Quando Meir perguntou a Hussein se os sírios atacariam sem a cooperação total do exército egípcio, “a fonte árabe respondeu que ela não acreditava nisso. Eles cooperariam“.

Esse teria sido o terceiro aviso que os jordanianos forneceram aos israelenses em três meses antes da guerra, mas os israelenses os descartaram por considerá-los insuficientes e sem novas informações de inteligência.

O Rei Hussein também tinha “Ianuka” como outro codinome, que significa “criança”, em referência à sua nomeação ao trono antes dos 17 anos. Um desses exemplos pode ser visto em um telegrama que o diretor-geral do gabinete do primeiro-ministro israelense, Mordechai Gazit, enviou em junho de 1973 ao embaixador de “Israel” nos Estados Unidos, Simcha Dinitz.

Intitulado “Mais sobre Ianuka”, esse telegrama observava como Hussein estava preocupado que exércitos árabes pudessem entrar em território jordaniano em caso de guerra, o que supostamente fornece mais provas de que o rei expressou sua frustração à primeira-ministra israelense, Meir, sobre as pressões que sofria de outros Estados árabes para se juntar a uma guerra contra o estado sionista.

Segundo o veículo de notícias israelense Haaretz, a identidade do rei Hussein como “Lift” foi finalmente detectada e confirmada com a divulgação desses últimos documentos e do diário completo de Mizrahi, já que o codinome havia sido anteriormente redigido e censurado.

Apesar dessa divulgação, os arquivos do Estado de “Israel” continuam a censurar muitas seções nos documentos devido a preocupações de segurança nacional, privacidade ou relações exteriores.

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