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Coluna

João Donato, o mestre da música popular de toda América

João Donato, apesar de ser associado com a Bossa Nova, foi muito além desse estilo e influenciou músicos de todas as gerações

Nesta semana, perdemos um dos artistas mais famosos da geração da Bossa Nova. João Donato era dono de um estilo inconfundível e de uma sonoridade muito particular. Ele influenciou gerações de músicos do Brasil e do mundo, e não se limitou apenas à sonoridade da Bossa, em seus discos pode-se ouvir, principalmente, elementos da música cubana misturada ao jazz, mas também foi uma importante figura na MPB dos anos 70 e chegou a lançar discos a partir dos anos de 2010, tendo recebido premiações e permanecendo relevante no meio musical no final de sua vida. Donato se profissionaliza como músico aos 15 anos de idade, quando começa a se apresentar. Sua primeira aparição em uma gravação foi tocando acordeon com a banda de Altamiro Carrilho, nas faixas “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth, e “Feliz Aniversário”, composição do próprio Altamiro. Na década de 50, participa de encontros sociais e musicais com os artistas da geração da Bossa Nova, tendo sido amigo próximo de Vinicius de Moraes, João Gilberto e Tom Jobim. No entanto, parte para o México no começo da década e de lá para os EUA, e passa a comandar diversos conjuntos musicais, ao piano. Seu foco era principalmente em elaborar versões instrumentais de conhecidas canções brasileiras e de standards da música norte-americana. Nos anos 60, volta ao Brasil e lança um de seus álbuns mais importantes, o disco “Muito à vontade”, onde a maior parte das canções eram composições própria faixa-título. Outro disco de grande importância desse período é o chamado “A Bossa muito moderna”, de onde saíram vários temas instrumentais que, após adição de letra, se tornariam canções importantes do repertório da MPB. Logo, Donato volta para os EUA, onde permanece por quase uma década. Ali, ele grava com os principais músicos norte-americanos de jazz. Ao voltar para o Brasil nos anos 1970, Donato, por influência da cena musical daquele momento, abandona de vez e entra para o campo da MPB, colocando letras nas suas canções e gravando sua voz em vários dos álbuns subsequentes. Donato fez parceria com os principais artistas daquele momento em diante, como Gilberto Gil, Martinho da Vila, Chico Buarque, Marcos Valle, Cazuza, Caetano Veloso, Aldir Blanc, Arnaldo Antunes e muitos outros. A partir dos anos 1990, Donato passa por um hiato criativo, voltando a lançar discos no cenário independente a partir do final da década. No entanto, teve algumas de suas produções premiadas, como o disco Donato Elétrico, eleito pela Rolling Stone Brasil o melhor álbum de 2016. Na última semana, João Donato falece após lutar contra um quadro de diversas doenças, entre elas uma infecção nos pulmões. Apesar de ter sido pertencente à geração de Jobim e semelhantes, Donato enveredou por uma sonoridade totalmente diferente. Donato experimentou com timbres e batidas de diversas origens, sendo um dos artistas mais ecléticos vindos desse período. Evidente que muito dessa influência se deu pelo viés da música norte-americana, devido ao longo período em que viveu nos EUA, mas Donato também tinha grande paixão pelo samba e pela música cubana, adicionando isso na sua música e levando esses sons para os norte-americanos. Donato é, nesse sentido, o artista que juntou as três principais músicas populares do continente americano. Seu toque pianístico era simples, bastante rítmico e efetivo. Lembrado por tocar desde o acordeon, passando pelo piano acústico, piano elétrico e sintetizadores, Donato influenciou o toque de um grande número de tecladistas que o sucederam. Incorporando elementos da percussão ao piano, ele é responsável por trazer ao instrumento de origem europeia um pouco do “balanço” da música brasileira. Donato nos deixou com idade avançada, mas toda a cultura brasileira lamenta mais essa lacuna. Seu estilo inconfundível seguirá influenciando músicos brasileiros e por que não estrangeiros dos anos futuros. *Publicado originalmente em 21 de julho de 2023

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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