Como resultado direto da sabotagem às negociações do cessar-fogo por parte do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, a população do Estado sionista sofre o luto pela perda de, ao menos, seis prisioneiros que poderiam ter sido libertados em um acordo de troca de prisioneiros com a Resistência Palestina, ainda em maio deste ano, informou a imprensa israelense na segunda-feira (02/07).
De acordo com o analista político e militar sênior do jornal israelense Yedioth Ahronoth, Ronen Bergman, os detalhes de um documento apresentado pela equipe de negociação de Netaniahu aos mediadores revelam que o verdadeiro objetivo da negociação, conduzida por Netanyahu, era ganhar tempo para a aniquilação do povo palestino, e não a libertação dos israelenses detidos em Gaza.
Tal documento, que Bergman analisa em profundidade no seu artigo, traz luz às motivações que levaram tanto as famílias dos prisioneiros, quanto autoridades israelenses a culpar o primeiro-ministro pela morte dos seis israelenses.
O documento sangrento
O que o analista político e militar sênior do jornal israelense Yedioth Ahronoth apelidou de O documento sangrento é uma série de ordens enviadas por Netaniahu aos mediadores israelenses responsáveis por negociar com as autoridades do Hamas, que lidera a equipe de negociação da Resistência Palestina.
Tais ordens ocorreram logo após as negociações de maio. À época, o Hamas concordou com a maioria dos termos de Netaniahu, estabelecidos nas chamadas “negociações de Roma”, o que chocou as principais autoridades israelenses, que então procuraram fazer uma série de “esclarecimentos”, que, na verdade, incluíam mudanças drásticas nos termos já discutidos, tornando, na prática, qualquer acordo inviável.
O esclarecimento apresentado na tarde de 27 de julho incluía um documento abrangente de sete páginas que delineava cláusulas atualizadas, alterando as propostas feitas anteriormente em maio, especificamente em relação à lista de nomes para um acordo de troca de prisioneiros com a Resistência Palestina.
Após as negociações de Roma, as autoridades da Resistência Palestina condenaram as contínuas manobras de Netaniahu e suas tentativas de escapar de um acordo final. O Hamas insistiu que a Resistência só aceitaria um acordo com base no que havia concordado em maio deste ano.
Hoje, o artigo de Bergman oferece uma visão aprofundada do que o Hamas chamou de “proposta de maio”, revelando que Netaniahu foi fundamental para conduzir as negociações a um beco sem saída.
Segundo informações vindas supostamente de autoridades militares e de segurança israelenses, o primeiro-ministro foi advertido contra o adiamento de um acordo com a Resistência Palestina. Além disso, teriam alertado sobre a possível morte colateral dos prisioneiros israelenses caso o conflito continuasse, o que se concretizou no domingo, após mais de 330 dias de guerra em Gaza.
“Na parte superior do documento, ele diz que se trata de um ‘documento de esclarecimento’, mas, na minha opinião, o apelido mais apropriado para ele é ‘documento sangrento’, porque suas páginas estão manchadas com o sangue dos seis sequestrados que foram assassinados em um túnel em Rafá”, disse uma autoridade israelense sênior ao jornal israelense Yedioth Ahronoth.
Quatro dos nomes listados no apêndice do documento foram revelados como tendo sido mortos quase um mês após os “esclarecimentos” terem sido feitos pelo primeiro-ministro.
O documento “nasceu em pecado”, disse o funcionário israelense, pois foi uma tentativa de Netaniahu de “torpedear” o momento positivo vivido nas salas de negociação. A autoridade israelense também disse que o documento foi criado com o objetivo de derrotar qualquer acordo de troca de prisioneiros com a Resistência Palestina.
Greve geral em “Israel”
Quando a notícia da morte dos 6 prisioneiros israelenses foi divulgada, imensos protestos eclodiram por todo o país. Especialmente na capital, Telavive, milhares de manifestantes, portando a bandeira do Estado sionista e a foto dos prisioneiros vivos e mortos, tomaram as ruas.
A principal demanda dos manifestantes é libertação dos prisioneiros israelenses, assim como a saída do primeiro-ministro, Benjamin Netaniahu, visto como o principal responsável pela perda de vidas no conflito.
Somando-se aos protestos, uma greve geral convocada pela Organização Geral dos Trabalhadores (Histadrut), trouxe grande preocupação para o Estado israelense, que tenta manobrar institucionalmente para tornar a greve ilegal. Mesmo assim, a opinião pública em “Israel”, aponta para a necessidade de um acordo duradouro com a Resistência Palestina, objetivando a libertação dos reféns. O mero cessar-fogo para a libertação dos reféns e posterior retomada do conflito, como defendido pelo primeiro-ministro e grande parte do estamento político norte-americano, é impossível de ser aceito pela Resistência Palestina, que tem nos prisioneiros a única garantia contra o Estado sionista.
A Histadrut é uma histórica central sindical e um dos grandes pivôs da fundação do Estado de Israel. A organização foi criada em 1920, e compunha o núcleo da chamada “ala trabalhista” do sionismo.
Seu objetivo nas primeiras décadas do Estado israelense era atender às necessidades dos trabalhadores em uma época de imigração judaica para o que era então a Palestina britânica e estabelecer as bases para a fundação de “Israel” enquanto um Estado independente. A Histadrut ajudou a estabelecer as instituições industriais, financeiras e econômicas que foram a base material para o surgimento de “Israel” em 1948. Tal a influência da ala trabalhista do sionismo, que, à época, o líder da central sindical, David Ben-Gurion, tornou-se primeiro-ministro de “Israel”, inaugurando o cargo.
Sendo a maior central sindical do Estado Israelense, representa atualmente cerca de 800.000 trabalhadores espalhados em 27 sindicatos distintos, de acordo com seu website. Seu presidente, Arnon Bar-David, ocupa o cargo desde 2019.