Tropas sionistas invadiram o Hospital de Al-Shifa mais uma vez. O mesmo complexo já havia sido invadido quatro outras vezes, sendo a principal delas no dia 15 de novembro de 2023, invasão que fora precedida de um cerco de vários dias.
A mais nova incursão criminosa foi iniciada na madrugada dessa segunda-feira (18), quando as forças israelenses de ocupação utilizaram-se de pesados ataques aéreos, de artilharia e incessantes rajadas de tiros para invadir o Hospital de Al-Shifa, o que resultou em inúmeros mortos e feridos.
Conforme informações que foram repassadas através das redes sociais por palestinos que estão no local, “os VANTs continuam disparando intensamente contra jornalistas, pessoal médico e pessoas deslocadas nas proximidades do hospital”.
O Escritório de Imprensa do Governo publicou nota constando que a invasão “é um crime de guerra que afirma a intenção deliberada da ocupação de eliminar o setor da saúde e destruir hospitais”, responsabilizando inteiramente a “ocupação ‘israelense’, a administração norte-americana e a comunidade internacional […] pela segurança e pelas vidas do pessoal médico, dos feridos, dos doentes e dos deslocados entre o nosso povo palestino”.
Deve ser relembrado que, quando da primeira invasão, a justificativa cínica e mentirosa dos sionistas foi a de que o hospital seria uma base de operações militares do Hamas. O que jamais foi comprovado, servindo de pretexto apenas para a ação criminosa e genocida de “Israel”.
Agora, a justificativa foi praticamente a mesma. Segundo noticiou o jornal israelene The Times of Israel, o porta-voz das forças israelenses de ocupação, Daniel Hagari, disse que os “terroristas do Hamas” haviam se “reagrupado” no hospital para “comandar ataques contra Israel” a partir de lá. Novamente uma justificativa cínica, sem quaisquer provas, e que foi dada depois de o governo israelense ter passado meses declarando que havia derrotado o Hamas na região norte de Gaza.
No mesmo sentido, a imprensa imperialista imediatamente acompanhou “Israel” em justificar mais esse ato genocida, conforme denunciou Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), em seu perfil do X (antigo Twitter):
“É assim que a imprensa imperialista vai justificando a carnificina do sionismo em Gaza. Aqui vemos o The New York Times insinuando que um ataque a um hospital é justificado por objetivos militares. Note-se também a expressão ‘alta precisão’, em uma situação com 40 mil civis mortos.
Na guerra da Ucrânia, se os russos sobrevoassem um hospital, dava rios de tinta de denúncia.
Os que defendem a censura da Internet (PL das ‘Fake News‘) estão dando poder a este monopólio totalitário.”
A denúncia contra as mentiras sionistas também foi feita pelo Ministério da Saúde de Gaza, declarando que “a ocupação ‘israelense’ ainda usa as suas histórias fabricadas para enganar o mundo e justificar o ataque ao Complexo Médico Al-Shifa”.
Quanto à gravidade do crime em si, o Ministério também informou que, no momento dessa nova invasão, havia cerca de 30 mil palestinos no complexo hospitalar, dentre pacientes, pessoal médico e refugiados. Desse total, cinco mil eram de feridos.
Ainda não se pode precisar o número de mortos e feridos, mas se estima que esteja na casa das centenas. Afinal, conforme informações repassadas pelo correspondente local da emissora libanesa Al Mayadeen, os ataques causaram um incêndio “no Departamento de Cirurgia Especializada, que acolhe o maior número de deslocados no complexo médico”, acrescentando que “as forças de ocupação israelenses impediram que os serviços de emergência entrassem na área para apagar o incêndio”.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde de Gaza declarou que “o que as forças de ocupação estão fazendo contra o Complexo Médico al-Shifa é uma violação flagrante do direito humanitário internacional e da Quarta Convenção de Genebra“.
Embora não se possa saber o número exato de mortos, sabe-se que um dos palestinos assassinados foi o brigadeiro-general Fayeq Al-Mabhouh. E aqui voltamos aos pretextos que os israelenses criam para suas ações genocidas.
Segundo a declaração dada pelo porta-voz das forças de ocupação (através da qual a invasão foi justificada), Al-Mabhouh seria um membro importante do Hamas. Contudo, isto foi desmentido pela emissora catarense Al Jazeera, que informou que o palestino assassinado era “o chefe das operações policiais em Gaza e estava atualmente coordenando com as tribos e a Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para os Refugiados da Palestina (UNRWA) para trazer e garantir ajuda para o norte de Gaza”.
Igualmente, o Escritório de Imprensa em Gaza esclareceu que “Al-Mabhouh estava realizando trabalho civil estritamente humanitário e deveria ter sido protegido e não prejudicado ao abrigo do direito internacional”.
Assim, os sionistas não só invadiram um hospital, mas assassinaram a autoridade responsável por coordenar a distribuição de ajuda humanitária na região norte de Gaza.
Nesse sentido, vale ressaltar que o Hospital da Al-Shifa é um dos poucos hospitais da Faixa de Gaza que continuam funcionando, embora apenas parcialmente. E este foi um dos hospitais para onde foram levados vários palestinos que foram feridos enquanto aguardavam ajuda humanitária e comida nos vários “Massacres da Farinha” perpetrados por “Israel” no último mês.
Em outras palavras, as forças israelenses de ocupação fuzilam e atropelam palestinos que esperam por comida/ajuda humanitária, invadem o hospital para o qual eles são levados e assassinam o principal responsável pela distribuição de ajuda humanitária no norte de Gaza.
É uma política proposital de genocídio.
Vale ressaltar ainda que, durante a invasão de Al-Shifa, as forças de ocupação também atacaram duas escolas nas proximidades do hospital, conforme noticiado por correspondente local da emissora libanesa Al Mayadeen.
Ademais, está sendo noticiado nas redes sociais que os VANTs de ocupação estão abrindo fogo contra qualquer pessoa que se mova no bairro de Al-Rimal, na Cidade de Gaza, bairro no qual está localizado o hospital. Fatos que reforçam o quão criminoso é o Estado de “Israel”.
Para impedir que mais esse crime fosse noticiado, as forças de ocupação sequestraram Ismail al-Ghoul, jornalista correspondente da emissora catarense Al Jazeera em Gaza, que chegou ao Hospital al-Shifa logo na segunda-feira com sua equipe para fazer a cobertura da invasão.
Conforme testemunhas, as forças israelenses de ocupação o sequestraram e, no processo, destruíram os equipamentos e veículos de sua equipe para impedir a cobertura.
Noticiando de Rafá, Hani Mahmoud, também correspondente da Al Jazeera, conseguiu informações de que al-Ghoul “foi torturado, espancado e detido pelos militares israelenses junto com seu colega no local”, acrescentando também que mais de 80 palestinos foram presos na invasão, muitos dos quais “foram espancados e abusados verbalmente, alguns vendados e com as mãos amarradas nas costas […] incluindo mulheres do pessoal médico e [outros] jornalistas” e “colocados dentro de um caminhão militar israelense e levados para um local desconhecido”.
Em razão do sequestro de al-Ghoul, a Al Jazeera denunciou que faz parte de uma série de ataques de “Israel” contra a emissora e seus jornalistas, tais como “os assassinatos dos jornalistas veteranos da Al Jazeera Shireen Abu Akleh, Samer Abu Daqqa e Hamza Dahdouh, bem como o bombardeamento do seu escritório em Gaza”.
Igualmente condenando o ataque aos jornalistas que trabalham para expor os crimes de “Israel” contra os palestinos, o Movimento de Resistência islâmica (Hamas) publicou nota declarando que se trata de um “comportamento bárbaro e o terrorismo sionista sistemático, que visa impedir que os jornalistas transmitam a imagem daquilo a que o nosso povo está sujeito, incluindo crimes de genocídio e de limpeza étnica”.
O Hamas também publicou nota condenando o “covarde assassinato perpetrado pelo criminoso exército de ocupação durante a sua agressão na madrugada de hoje ao Hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza, contra o mártir Brigadeiro-General Fayeq Abdulraouf Al-Mabhouh”, esclarecendo que foi um crime perpetrado em decorrência dos “esforços do mártir e do aparelho de segurança para controlar a situação de segurança e garantir a entrega de ajuda humanitária às províncias de Gaza e do Norte, com o objetivo de impedir a chegada segura de ajuda ao nosso povo”.
Quanto à invasão do Hospital de al-Shifa, o partido que lidera a resistência palestina declarou que esse crime, assim como o genocídio que continua sendo perpetrado contra os palestinos, é resultado da omissão da comunidade internacional e das Nações Unidas em fazer algo para parar “Israel”:
“O fracasso da comunidade internacional e das Nações Unidas em tomar medidas contra o exército de ocupação foi uma luz verde para continuar a guerra de genocídio e de limpeza étnica que está a cometer contra o nosso povo, um dos pilares da qual é a destruição de instalações médicas em a Faixa de Gaza.”
Apesar disto, na nota publicada, o Hamas deixou claro que o novo ataque a al-Shifa é mais uma medida desesperada de Netaniahu, e que não irá conseguir derrotar a resistência com mais crimes contra os civis palestinos, os quais seguirão firmes na luta:
“Os crimes da ocupação e a guerra genocida em curso contra o nosso povo e todos os componentes da vida em Gaza não criarão qualquer imagem de vitória para Netaniahu e o seu exército nazi. São uma expressão do estado de confusão, caos e perda de esperança na realização de qualquer conquista militar que não seja atingir civis indefesos.”
No mesmo sentido, a Jiade Islâmica emitiu declaração afirmando que “os crimes do inimigo não impedirão a resistência de abrir mão às suas demandas, entre eles a cessação completa da agressão e a retirada total das forças de ocupação da Faixa de Gaza”.
Já o Movimento Mujahideen Palestino frisou que “a continuação dos crimes brutais do inimigo contra Gaza e o seu povo durante o abençoado mês do Ramadão expressa a extensão da arrogância e do desdém sionista por milhões de árabes e muçulmanos”, exortando “todas as pessoas livres do mundo e os combatentes da resistência da nação para exercerem mais pressão sobre os interesses dos criminosos sionistas e dos seus apoiantes americanos até que termine a agressão e o genocídio contra o nosso povo paciente em Gaza”.
O chamado à luta também foi feito pela Frente Popular para a Libertação da Palestina, que declarou que “ter como alvo os sionistas, norte-americanos e ocidentais em todo o mundo enviará uma mensagem forte e dissuasora a este inimigo sionista e aos seus apoiantes de que a sua continuação na prática destes crimes será recebida com uma resposta forte”.
Assim, a monstruosidade desse novo crime de “Israel” serviu tão somente para unificar ainda mais os palestinos e suas organizações de resistência na luta pela expulsão dos invasores e a derrubada do Estado sionista.
Em face disto, as principais organizações da resistência palestina publicaram declarações condenando o crime do Estado sionista e, também, a cumplicidade dos EUA e demais países imperialistas, assim como a omissão da comunidade internacional.