A Revolução Palestina, como todo movimento revolucionário, acelerou a luta pela libertação nacional em todos os países do Oriente Médio. O Iraque foi onde isso assumiu a forma mais clara. O país é ocupado militarmente pelos EUA desde a invasão de 2003, mas essa ocupação está no momento de sua maior fragilidade. A Resistência Iraquiana, além de atacar “Israel” em apoio à Faixa de Gaza, também iniciou uma gigantesca campanha, inclusive militar, para libertar o Iraque do domínio norte-americano.
Os iraquianos entraram na guerra contra “Israel” ainda no mês de outubro de 2023. A resistência iraquiana se organiza por meio das Forças de Mobilização Popular (FMP), elas agrupam diversas organizações como o Hesbolá al-Nujaba, o Cataebe Hesbolá, o Cataebe Said al-Shuhada e muitos outros grupos armados, que, em geral, são partidos políticos da base do governo, configuram a sua ala mais esquerda. A FMP surgiu para combater o Estado Islâmico, agora seu principal inimigo são o Estado de “Israel” e os norte-americanos.
A primeira reação das FMP a Guerra na Faixa de Gaza não foi de ataque direto a “Israel”. De certa forma a resistência foi ainda mais radical, começou uma quantidade gigantesca de ataques contra bases militares dos EUA no Iraque e também na Síria. Isso criou uma crise gigantesca, pois a guerra e Gaza se transformou também em uma guerra incipiente no Iraque. Os EUA inclusive voltaram a bombardear o país com alguma frequência. Os bombardeios criaram uma crise diplomática e o parlamento novamente votou pela saída imediata dos norte-americanos.
Ou seja, de princípio a Revolução Palestina recomeçou o processo de luta de libertação nacional do Iraque. Entre outubro e janeiro de 2023 foram mais de 160 ataques a bases dos EUA. O ponto culminante foi no final de janeiro, quando um ataque atingiu uma base dos EUA na Jordânia e eliminou 3 soldados norte-americanos. Isso abriu uma gigantesca crise. Os iraquianos, iranianos e norte-americanos então estabeleceram uma trégua. A resistência ganhou mais margem de atuação na Síria e no Iraque, os norte-americanos ganharam um tempo com segurança para suas bases.
Naquele momento, início de fevereiro, o acordo tinha como objetivo evitar a escalada da guerra para outro país, no caso o Iraque. Assim a resistência entrou em uma nova fases, ataques diretos ao território de “Israel”, principalmente a cidade de Haifa no mediterrâneo. O Iêmen era responsável por bloquear o porto sionista no Mar Vermelho, os iraquianos bloqueariam os portos no mediterrâneo. Os ataques de princípio não foram tão impactantes, mas foram crescendo cada vez mais.
Ao mesmo tempo, a parceria com o Iêmen cresceu cada vez mais. Em determinado momento começaram a ser realizadas operações conjuntas com drones iemenitas e iraquianos sendo lançados ao mesmo tempo. O Iraque, distante de “Israel”, testou muito seus armamentos ao longo desses meses antes da contra-ofensiva do imperialismo.
A libertação do Iraque
Com o fim das operações militares, a retirada das tropas dos EUA passou para o âmbito político. A resistência obrigou os norte-americanos a discutirem isso, o primeiro-ministro do Iraque, Mohamed Shia al-Sudani chegou a encontrar Biden pessoalmente nos EUA para discutir essas questões. Os EUA prometeram que as tropas sairiam gradualmente até 2026, mas a resistência não ficou nem um pouco convencida.
Aqui é preciso lembrar como o Iraque é um país completamente dominado pelos EUA. As bases norte-americanas estão lá porque todo o dinheiro do petróleo iraquiano, uma riqueza gigantesca, é enviado para os EUA para depois retornar ao país árabe. Os norte-americanos criaram uma colônia com a invasão de 2003 e é dessa condição que a resistência luta para se libertar. Após os ataques de “Israel” a Ismail Hanié e o bombardeio de Beirute que assassinou o líder do Hesbolá, Fuad Shukr, no final de julho, os iraquianos haviam decido tomar uma política mais agressiva.
A resistência decidiu abandonar a trégua. Aderiram à política de que é preciso expulsar os EUA e de que isso só será feito com base nas armas. Alguns ataques voltaram a acontecer contra as bases norte-americanas, e alguns anúncios públicos foram feitos. Parecia que uma grande guerra iria começar no Iraque. Mas então em setembro começou a grande ofensiva de “Israel” no Líbano. As FMP então voltaram todas a sua artilharia para o Estado de “Israel”.
Os ataques de drones contra o Estado sionista passaram a acontecer todos os dias, alguns dias chegaram a ser realizados cinco ataques. Os drones, após muitos meses atacando, se tornaram mais eficientes, mas não foi apenas isso. Os iraquianos começaram a usar mísseis de cruzeiro para atacar os sionistas. Atacaram Haifa, atacaram as colinas de Golã, atacaram até alvos sionistas na Cisjordânia ocupada. Os governo iraquiano começou a pressionar a resistência a não atacar “Israel” com medo de que tantos ataques levaria os sionistas a bombardear o Iraque.
Assim chegou o dia 1 de outubro e o grande ataque iraniano contra o Estado de “Israel”. A resistência fez a sua maior ameaça: “se os norte-americanos intervirem em qualquer ação hostil contra a República Islâmica [do Irã] ou se o inimigo sionista utilizar o espaço aéreo iraquiano para realizar operações de bombardeio em seu território, todas as bases e interesses norte-americanos no Iraque e na região serão nossos alvos, (e não haverá escapatória)”.
Poucos dias antes, um dos mais importantes dirigentes da resistência, o Secretário-Geral das Brigadas Saied al-Shuhada na Resistência no Iraque, Abu Ala al-Ualae, afirmou em um raro ato público: “se uma guerra em larga escala estourar, reafirmamos o que dissemos anteriormente: os norte-americanos são reféns das organizações de resistência no Iraque, e as capacidades da resistência alcançarão suas bases no Golfo e além”.
A Revolução Palestina colocou em marcha um processo de luta anti-imperialista no Iraque que tende a assumir proporções revolucionárias. A luta de libertação nacional do Iraque pode virar mais uma revolução, esta, assim como os EUA, não respeitará as fronteiras e se expandirá por todo o Oriente Médio.