Gostaríamos de anunciar um novo desenvolvimento em relação aos grandes modelos de linguagem, mas não houve grande progresso em relação ao tópico na última semana. Dito isso, houve mais de um desenvolvimento em relação à tentativa da burguesia em conter seu desenvolvimento e seu uso pela população. O que os preocupa é simples e já foi discutido nessa coluna: com grandes modelos de linguagem, popularmente conhecidos como “inteligência artificial”, um indivíduo pode abrir um jornal digital se tiver dinheiro o suficiente para pagar as tarifas cobradas por empresas como OpenAI e outras. O conteúdo não será particularmente bom, finalmente um papagaio estocástico ainda não consegue substituir bom jornalismo, mas com o jornalismo decaindo no ritmo em que está, é possível que poucas pessoas populem a internet com conteúdo de tal maneira e em tal volume que possa rivalizar com a máquina de mentiras da imprensa imperialista, cada vez mais cara de sustentar.
Agora, o controle é bem mais explícito do que aquele exercido sobre as redes sociais, de forma velada e sutil. Se precisamos da denúncia de Edward Snowden para nos darmos conta do aparato de vigilância construído com a ajuda dos grandes monopólios de tecnologia, hoje basta acessar seus portais de comunicação. Com orgulho, a OpenAI, principal empresa de inteligência artificial, apresentou o general norte-americano aposentado Paul M. Nakasone, antigo diretor da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), como novo integrante de seu Conselho de Administração. Nakasone integrará o Comitê de Segurança e Proteção do Conselho.
O objetivo é óbvio: querem vigiar as questões, ou prompts, enviados pelos usuários tanto para saber no que estão interessados como para detectar potenciais usuários “maliciosos”. “Jamais confie na OpenAI ou em seus produtos”, escreveu Snowden em seu perfil do X na sexta-feira (14). “Há apenas uma razão para nomear [um diretor da NSA] para o seu conselho. Essa é uma traição deliberada e calculada dos direitos de todas as pessoas do mundo.”
Como se não bastasse, aproveitando a reunião dos líderes das principais potências imperialistas, o G7, na Itália, foi convocado o Papa Francisco para falar sobre inteligência artificial. Não somos contra a censura de ninguém, mas por que a opinião do Papa sobre o tópico teria alguma relevância é algo que escapa a nossa compreensão. O resultado foi óbvio: o Papa declarou que inteligências artificiais “não são objetivas nem neutras”. E de fato não o são, mas não pelos motivos que dão a entender a burguesia e seus porta-vozes, mas porque essas empresas impõem um viés ao modelo com o qual interagimos, o que limita seu potencial. A fala do Papa tinha apenas o objetivo de dar autoridade moral à posição da burguesia sobre a tecnologia de que é um bem, mas que deve ser usado com cautela. Ou seja, deve ser usado sob a tutela do imperialismo, somente para aquilo que consideram adequado.
É irônico que esse progresso tenha se originado no trabalho de bilhões de seres humanos que popularam a rede mundial de computadores com sua produção – boa ou ruim. Não apenas isso, mas a internet abriga boa parte da produção humana de todos os temos. Os mortos não têm direito a propriedade intelectual, mas também não tem a população mundial que teve sua obra apropriada sem nenhuma compensação. E melhor, agora querem cobrar pelo acesso a essa massa de conhecimento humano, querem vigiar seus usuários e querem limitar o que pode ser acesso, tarefa significativamente mais difícil de ser concretizada em relação aos buscadores online de antes como o Google e outros.
Para a tristeza do imperialismo, porém, o progresso pode ser atrasado, mas nunca será detido.