No último domingo (8), o portal Brasil 247 publicou uma matéria, intitulada “A posse do escritor, poeta e filósofo Aílton Krenak marca a entrada do primeiro indígena na Academia Brasileira de Letras” e assinada por Regina Zappa, provando mais uma vez o oportunismo do identitarismo que, sob pretexto de se opor à ordem estabelecida, vai tratando de conseguir “prestígio” aos seus representantes.
O primeiro parágrafo destaca um trecho do discurso de Krenak de titulação na ABL: “Estou aqui. Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou ianomâmi, sou terena. Essa fala plural só foi possível porque atravessamos uma linha vermelha que indicava, no final dos anos da ditadura, a disposição do Estado brasileiro de ‘emancipar’ os indígenas”.
Em primeiro lugar, seria necessário explicar que disposição seria essa do Estado brasileiro em ‘emancipar’ os indígenas. Passam-se os anos e a situação dos índios no Brasil piora cada vez mais. Morrem de fome, de doenças e de bala. Mesmo com a chegada de “representantes” ao ministério dos Povos Indígenas, as condições materiais de vida dos índios brasileiros não melhoram.
Deve-se ter claro que os índios financiados por ONGs sustentadas por capitalistas estrangeiros, como é o caso da ministra Sonia Guajajara, são falsos defensores das causas indígenas e se opõem ao progresso das regiões atrasadas como foi diante da construção da Usina de Belo Monte. Demagogia não falta, o próprio Aílton Krenak é ligado ao PSDB, partido que entregou tudo o pôde para o imperialismo.
Para Regina Zappa, o índio do “Tucanistão” teria levado para “a casa de Machado de Assis, mais de 500 anos de Brasil, mais de 300 povos indígenas e a diversidade das línguas faladas no Brasil”. Uma falsificação absurda, a língua herdada dos portugueses pelos brasileiros sofreu inúmeras alterações e influências africanas e indígenas em meio milênio. A língua falada no Brasil é obra de todo um povo e foi capaz de produzir gigantes da literatura, como Machado de Assis, um dos fundadores da ABL.
“Venho para trazer línguas nativas do Brasil para um ambiente que faz a expansão da lusofonia. A ABL é portuguesa e eu trago para cá as línguas indígenas. Acho que isso faz uma diferença muito grande”, declarou Krenak. Porém, sua obra não tem relevância e não faz diferença alguma. Portanto, não irá levar as línguas indígenas para a Academia, o idioma de um país não é uma imposição, um ato de vontade.
O truque dos identitários é associar a cultura brasileira ao período colonial para atribuir um caráter negativo, por isso diz que a ABL é um “ambiente que faz a expansão da lusofonia”. Dessa forma, a língua portuguesa praticada no Brasil teria que desaparecer. Mais do que isso, o próprio Brasil enquanto país deveria desaparecer.
A presença de Krenak na ABL não representa nenhum ganho para os índios, apenas para ele individualmente que como ‘imortal’ da Academia pode receber até R$ 10 mil mensais. Exatamente o que pregam os identitários: conquistar representatividade nos “espaços de poder”. Ainda que essa representatividade não resolva a questão material de todo o setor oprimido em questão, magicamente a opressão e o preconceito contra este setor desapareceria.
Oportunismo
Aílton Krenak poderia, caso defendesse mesmo a cultura indígena, criar a sua própria ‘Academia’. Foi isso que fizeram Machado de Assis, Olavo Bilac (e outros), seria legítimo. Ao invés disso, se aproveita de um órgão que já existe.
A mesma postura de Krenak, vimos recentemente em sua ‘versão’ da ópera O Guarani, de Antônio Carlos Gomes, um dos expoentes da nossa música, que se inspirou na obra homônima de José de Alencar para produzir uma verdadeira obra de arte.
O índio tucano, que nunca demonstrou nada na música, se sentiu apto a fazer sua crítica à obra de Carlos Gomes. Deveríamos nos perguntar: ora, se ele é um artista, por que não compôs sua própria ópera? Ao contrário disso, se aproveitou de algo que já estava pronto e consagrado para dar o seu pitaco a fim de ganhar os holofotes na grande imprensa, bem como, receber elogios de toda sorte de oportunistas identitários.
Aílton Krenak se sentiu no direito de criticar Carlos Gomes pelo simples fato de ser indígena. Teria, como costumam dizer os identitários, lugar de fala. Ou seja, não é necessário ser músico, ser escritor, ser um artista, basta ter determinada origem, ou posição social, e está garantido autoridade. Porém, a realidade se impõe, a versão de Krenak de O Guarani foi simplesmente terrível.
A ‘dívida’
“Diante do encantamento com a simbologia contida no ingresso nos salões protocolares de uma instituição tradicional daquela figura indígena, altiva e serena, bandana na cabeça e fala de sabedoria milenar, não havia, porém, como esquecer o longo caminho de humilhações, extermínio, indignidade e resiliência que seu povo enfrentou para chegar até aqui”, escreveu Zappa.
Essa é outra bandeira do identitarismo: a ‘reparação histórica’. Como os indígenas sofreram com a colonização, é preciso deixá-los ingressar no ‘salões protocolares’. Segundo a autora, “Nosso criador e narrador de mundos recebeu de uma emocionada Fernanda Montenegro, agora sua colega, o colar de Imortal. Fernanda o beijou na testa e o abraçou, no encontro de duas personalidades que enobrecem o Brasil”. A propósito, qual é a contribuição de Fernanda Montenegro para as nossas Letras? Até onde se sabe, trata-se de uma atriz e, claro, uma mulher… prato cheio para a demagogia identitária.
E continua “Em seguida, recebeu a espada do acadêmico Arnaldo Niskier, (para surpresa de quem imaginou na hora quantos corpos indígenas não foram cortados pela espada desde o descobrimento)”. – grifo nosso.
Espetáculo triste
“Nunca se viu tanta gente em uma posse da Academia e os fardões verdes bordados em fios de ouro contrastavam com as flores e penas coloridas dos cocares, colares e enfeites de cabeça. Do lado de fora do Petit Trianon, onde acadêmicos discursavam, indígenas e amigos cantavam e dançavam ao som da música e do idioma dos povos originários”, contou Zappa.
Após pitaias, caquis, abacaxis e maracujás, a autora diz: “Nós, da plateia, testemunhamos mais um avanço crucial na História do Brasil. Reparação? Talvez. No começo do mês, o Estado brasileiro pediu desculpas aos indígenas Krenak e Guarani Kaiowá por perseguições na ditadura militar. Mas, como disse Krenak, “pedir perdão depois significa muito pouco no sentido da reparação. A real reparação é pela ação verdadeira que se deve aos povos originários”.
Enquanto isso, no mundo real, muito depois do fim da ditadura militar e fora da badalação, nossos índios continuam a ser exterminados. A promoção de Krenaks e Sônias Guajajaras, servem apenas para esconder a realidade brutal e não se fazer nada. Aparentemente, conseguir cargos para duas ou três pessoas já seria o suficiente, ou seja, seria “reparação histórica”.