Em anúncio realizado no último dia 18 no perfil da Casa Branca (sede do governo norte-americano) no X, o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, anunciou a morte de Marwan Issa, um dos líderes do Hamas, após ataque que teria ocorrido na semana passada. Na ocasião, em coletiva de imprensa, o porta-voz das Forças de Ocupação de “Israel”, o contra-almirante Daniel Hagari, anunciara operação em que caças israelenses “atingiram um complexo subterrâneo de líderes do Hamas no centro da Faixa de Gaza, na área de Nuseirat.” (Press Briefing by IDF Spokesperson, Rear Admiral Daniel Hagari, 11/3/2024).
Segundo Hagari, “o complexo era usado por dois dos principais líderes da organização: Marwan Issa, que é o vice de Mohammed Deif [principal dirigente das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, braço militar do Hamas] e um dos planejadores do massacre de 7 de outubro.”
“Marwan Issa faz parte do triângulo central do terror na Faixa de Gaza, que também inclui Mohammad Deif e Yahya Sinwar. Também estava no complexo Aziz Abu Tama’a. Aziz Abu Tama’a, antigo comandante da Brigada dos Campos Centrais, é atualmente responsável por todo o armamento do Hamas em Gaza.”
Além de Issa, o Brigadeiro-General da Polícia Palestina, Fayek Al-Mabhouh, também foi morto por forças israelenses no último dia 18. A informação foi confirmada no sítio palestino ligado ao partido Movimento Resistência Islâmica (“Hamas”, na sigla em árabe), Shehab News, que, em matéria publicada no mesmo dia 18, informou:
“O gabinete dos meios de comunicação social confirmou hoje, segunda-feira, num comunicado de imprensa que o Brigadeiro-General Al-Mabhouh estava praticando trabalho civil puramente humanitário e que deveria ter sido protegido e não sujeito a ele em conformidade com o direito internacional e as convenções de direitos humanos.”
Conforme o órgão palestino, Al-Mabhouh estava “responsável por proteger os caminhões de ajuda” e fora “martirizado durante o ataque das forças de ocupação em curso ao Complexo Médico Al-Shifa, a oeste de Cidade de Gaza.” A matéria chama salienta que “este crime surge como uma continuação dos ataques e bombardeios contra muitos centros que prestam ajuda humanitária aos [civis] deslocados, e do assassinato dos responsáveis pela prestação deste serviço, uma vez que dezenas deles foram alvos, durante os últimos dias, em Rafá, no campo de Nuseirat, na província de Gaza e outros.”
Como era de se esperar, sua morte ganhou outra conotação na propaganda sionista. O perfil oficial das forças da ocupação israelense no X publicou uma nota no último dia 18, apontando que Al-Mabhouh “operava e promovia atividades terroristas” no hospital Shifa:
“Eliminado: Faiq Mabhouh, chefe da Diretoria de Operações de Segurança Interna do Hamas. Mabhouh estava escondido em um complexo do hospital Shifa, onde operava e promovia atividades terroristas.”
🔴 Eliminated: Faiq Mabhouh, head of the Operations Directorate of Hamas' Internal Security.
Mabhouh was hiding in a compound at the Shifa hospital, from which he operated and advanced terrorist activity. pic.twitter.com/KFbGto2soE
— Israel Defense Forces (@IDF) March 18, 2024
https://twitter.com/IDF/status/1769708756604993733
Na mesma linha, o famigerado sítio brasileiro Antagonista destaca que “o terrorista estava escondido no complexo de túneis encontrado sob o Hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza” e que “Mabhouh foi morto em uma troca de tiros com as tropas israelenses durante uma tentativa de prendê-lo” (“Israel elimina chefe do Hamas escondido sob hospital de Gaza”, 18/03/2024). Trata-se de uma evidente campanha para justificar os ataques sionistas contra os poucos hospitais palestinos que ainda operam na Faixa de Gaza (com muita dificuldade, é preciso lembrar)
Antagonista reforça o caráter propagandístico ao continuar sua matéria supracitada, sob o sugestivo intertítulo “hospitais do terror do Hamas”:
“Embora funcionários da OMS se façam de sonsos e digam não ter visto evidências do uso do hospital pelo Hamas, o Exército de Israel detectou um padrão de operação “consistente e sistemático” na utilização de unidades de saúde para fins terroristas na Faixa de Gaza.
Acima do solo, junto às enfermarias, o Hamas guardar[sic] armas e equipamentos militares, enquanto terroristas ficam em salas de cuidados intensivos vestidos como ‘pacientes’ ou como parte da equipe médica. Nos porões, junto aos escritórios e serviços restritos, existem saídas que ligam às infraestruturas subterrâneas operacionais, junto a salas de controle, infraestruturas de comunicação e equipamentos tecnológicos. Abaixo da área do hospital, há uma rede de túneis terroristas que vão dos hospitais até ativos terroristas próximos.”
Nenhuma comprovação do que dizem é apresentada. Aos propagandistas já inclinados a aceitar como verdade tudo o que vem do sionismo, a palavra de mentirosos profissionais basta para qualquer afirmação. O Diário Causa Operária, no entanto, consultou órgãos palestinos como o supracitado Shehab News, que apresentou uma conclusão diferente do ocorrido.
“[O gabinete de comunicação social do governo de Gaza] Salientou que os ataques da ocupação [israelense] aos responsáveis pelo trabalho humanitário confirmam, sem qualquer dúvida razoável, que [os sionistas] procuram com toda a força espalhar o caos e a devastação na Faixa de Gaza, e impedir a facilidade de acesso à ajuda humanitária para as centenas de milhares de pessoas famintas nas províncias de Gaza e ao norte.”
Após mais de 110 mil vítimas entre civis, incluindo cerca de 40 mil mortos (entre oficialmente reconhecidos e desaparecidos sob os escombros), dos quais a maioria são mulheres e – principalmente – crianças, acreditar na propaganda para tolos difundida por órgãos como Antagonista requer uma dose muito grande de cinismo. É evidente que o ataque aos hospitais busca esmagar o povo palestino ao máximo, dobrá-lo pelo medo e, com isso, destruir suas esperanças de colocarem fim ao martírio que sofrem há mais de cem anos. Felizmente, a determinação revolucionária da população palestina é muito superior à barbárie de “Israel” ou às mentiras do sionismo.