Na sexta-feira (29), após decisão do governo de adiar negociações para a integração da Geórgia à União Europeia para 2028, medida para evitar a utilização desta questão como instrumento de chantagem contra o país pelo bloco europeu, o imperialismo intensificou a escalada das manifestações golpistas, sob o pretexto de que o governo teria suspendido as tratativas. O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, declarou no sábado (30):
“Os radicais e os seus patronos estrangeiros estão sempre tentando inventar um pretexto para tentar dividir o país e ‘ucranizar’ a Geórgia, um Estado independente com instituições fortes e, o mais importante, pessoas experientes e sábias, cuja força ninguém pode abalar”.
Kobakhidze destacou que “protestam contra algo que não existe”, afirmando que até 2028 a Geórgia terá cumprido mais de 90% das exigências para entrar na UE. Apesar disto, os EUA suspenderam parceria estratégica com a Geórgia, ataque anunciado pelo porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller:
“Os EUA e a UE lamentam a decisão do sonho georgiano de suspender a adesão à UE. Condenamos a força excessiva utilizada contra os georgianos que protestam legitimamente contra a traição da sua Constituição – a UE é um baluarte contra o Kremlin. Por conseguinte, suspendemos a nossa parceria estratégica com Geórgia”.
No mesmo sentido, no domingo (1º) a chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, alertou que Bruxelas está considerando sanções contra a Geórgia. Conforme informa a emissora russa Russian Today, “Kallas assumiu o cargo no domingo, substituindo o veterano diplomata da UE Josep Borrell. Anteriormente primeira-ministra da Estônia, Kallas é conhecida por suas ardentes políticas e retórica antirrussas, e repetidamente pediu mais sanções a Moscou e ajuda militar a Kiev. Sob sua liderança, a Estônia se tornou o primeiro país da UE a aprovar um mecanismo para confiscar ativos russos congelados e usá-los como ‘compensação’ para a Ucrânia”.
Conforme publicação do ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, e sua página do X, Lituânia, Letônia e Estônia imporão sanções às autoridades da Geórgia.
O golpe, que ocorre sob a forma de revolução colorida, é cada vez mais intenso, com manifestantes golpistas agindo no sentido de uma tomada violenta do poder. Lasers com potência para cegar são direcionados de forma disseminada contra os rostos dos agentes de segurança.
Fogos de artifício são utilizados sistematicamente contra as forças de segurança, e contra o prédio do Parlamento, o qual os manifestantes tentam invadir desde a semana passada. Vídeos divulgados em diversos canais de imprensa e especialmente em seus respectivos canais de Telegram, mostram também o uso cada vez mais frequente de coquetel molotov contra a polícia da Georgia. Além disso, barricadas se disseminam, assim como bloqueio de várias das principais avenidas da cidade.
No sábado (30), o Serviço de Segurança de Estado da Geórgia (SGB) emitiu alerta, declarando que “os acontecimentos que se desenvolveram nos últimos dias revelaram que os processos destrutivos planeados estão a ocorrer de acordo com as circunstâncias reais estabelecidas pela investigação do caso da derrubada violenta do governo”. O SGB chamou atenção pela presença de provocadores a serviço de ONGs e partidos de oposição, alertando à população para não se envolver nessas provocações:
“Gostaríamos de lembrar ao público que certos grupos de pessoas estão a tentar organizar provocações durante ações perto do parlamento georgiano, que visam desenvolver cenários destrutivos e violentos sob a liderança dos líderes de partidos políticos específicos e ONGs, cujo principal objetivo é ganhar o poder pela força. Pedimos aos participantes dos protestos que tenham cautela e, voluntária ou involuntariamente, não se tornem participantes nas provocações planejadas”.
O primeiro-ministro afirmou que o ocidente está orquestrando um golpe semelhante ao Euromaidan, golpe de Estado iniciado na Ucrânia em 2013 e consumado em 2014, e que resultou na atual guerra de agressão contra a Rússia. No mesmo sentido foram as declarações de Dimitri Peskov, porta-voz do Kremlin, que aponta que Moscou vê um “paralelo direto” com a Revolução Laranja, revolução colorida na Ucrânia que precedeu o Euromaidan.
Há denúncias de mantimentos sendo constantemente fornecidos pelo imperialismo, através das ONGs e dos partidos de oposição, para manter os manifestantes nas ruas, exatamente o que ocorria na Ucrânia em 2013/2014. Vídeos divulgados em canais de Telegram mostram máscaras de gás sendo distribuídas gratuitamente para os manifestantes golpistas
Contudo, apesar da situação, Kobakhidze, o primeiro-ministro, declarou tanto no sábado quanto na segunda-feira que não haverá um Maidan na Geórgia:
“Já dissemos mais de uma vez que o ‘maidan nacional’ não aconteceu na Geórgia e nunca acontecerá. Tudo isso, entre outras coisas, tornou-se óbvio este ano durante os eventos da primavera. Tudo isso se tornou óbvio nos últimos dias.
Ainda no sábado (30), a presidente golpista, Salome Zurabishvili, cidadã francesa, infiltrada do imperialismo no Estado georgiano, declarou que o parlamento é ilegítimo, e que, por isto, ela, que representa as forças políticas derrotadas nas eleições parlamentares, continua sendo a presidente do país:
“Continuo como seu presidente. Não existe um parlamento legítimo e um ilegítimo não pode eleger um novo presidente. Não haverá posse e o meu mandato continuará até que haja um parlamento legítimo que eleja legitimamente aquele que me substituirá.”
Em oposição a esta declaração, o primeiro-ministro declarou, no domingo (1º), que a presidente terá que deixar seu cargo:
“O sétimo ano de elegibilidade de Salome Zurabishvili começará em breve e imagine, ela ainda não consegue dizer adeus à sua cadeira. Claro, a Sra. Salome terá que sair para a rua com a sua cadeira. A Sra. Salome Zurabishvili ainda tem quatro sextas-feiras e não consegue se acostumar com isso, entendo seu estado emocional, mas, claro, no dia 29 de dezembro ela terá que deixar sua residência e ceder este prédio ao presidente legitimamente eleito.”
O primeiro-ministro ainda destacou que a situação é esta em razão da derrota eleitoral nas últimas eleições: “ela lutou pela oposição radical para vencer as eleições de 26 de outubro e pensou que teria garantias para permanecer no cargo, mas perdeu muito as eleições de 26 de outubro”.
Questionado sobre a exigência dos golpistas, que querem a anulação do pleito e novas eleições parlamentares, o primeiro-ministro frisou que “não haverá repetição de eleições parlamentares na Geórgia”.
Sobre o imperialismo, seja norte-americano ou europeu, impulsionando o golpe de Estado na Geórgia por seus lacaios terem sido derrotados nas eleições, Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária, comentou na Análise Internacional desta segunda-feira (12): “Na Moldávia houve a eleição fraudulenta. Na Geórgia não houve eleição fraudulenta, mas eles querem que a eleição seja declarada fraudulenta. Nós vamos ver muito disso. O imperialismo está numa contra ofensiva”.
Na segunda-feira, a presidente da Geórgia publicou em sua página do X mensagem chamando estudantes jovens a se juntarem aos protestos golpistas: “depois das universidades, é a vez das escolas expressarem a sua solidariedade com os protestos em toda a Geórgia”.
Até o presente momento, mais de 100 policiais foram feridos em decorrência da revolução colorida, segundo informações do Ministério do Interior, que também informa que mais de 200 manifestantes golpistas foram presos.
Diante da intensificação do golpe de Estado no último mês da administração de Joe Biden, atual presidente dos EUA, o primeiro-ministro da Geórgia declarou que o governo falará apenas com a nova administração norte-americana:
“Você vê que a atual administração está tentando ao máximo deixar o legado mais difícil possível para a nova administração, a administração Trump. Eles estão fazendo isso em relação à Ucrânia e à Geórgia, embora isso não seja de fundamental importância. vai esperar pela nova administração e conversar sobre tudo com a nova administração”.
Contudo, apesar da nova administração norte-americana, deve-se destacar que a tentativa de golpe de Estado na Geórgia, sob forma de revolução colorida, faz parte de uma ofensiva golpista mundial do imperialismo, que busca disciplinar países oprimidos, como forma de preparar o terreno para uma guerra de grandes proporções. Nesse sentido, conforme noticiado pelo órgão de imprensa Rybar:
“Os acontecimentos na Geórgia podem afetar não só a república da Transcaucásia, mas também um dos países da Ásia Central”, citando especificamente o Quirguistão, pois “representantes das maiores ONG do Quirguistão estão atualmente em Tbilisi, onde estudam a experiência de organização de ações de protesto para possível aplicação em Bishkek (capital do país)”.
Quanto à revolução colorida na Geórgia, a tendência é que a ofensiva golpista continue escalando por ora. Em notícia não confirmada, mercenários da “Legião Georgiana”, que lutam ao lado do imperialismo na Ucrânia, na agressão contra a Rússia, “anunciaram a sua disponibilidade para ‘regressar’ à Geórgia”, conforme noticiado pelo canal de notícias Ukraine Watch. Segundo o órgão de imprensa, “a decisão teria sido tomada numa reunião extraordinária do conselho de mercenários caucasianos, segundo Lado Gamsakhurdia, líder do partido ‘Unidade da Geórgia’, que luta pelas Forças Armadas da Ucrânia”.