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Educação pública

Identitários reforçam o preconceito, não o combatem

Performance como a que ocorreu na UFMA são totalmente hostis ao povo

Nessa sexta-feira, dia 18, o portal Brasil 247 publicou coluna de Sara York, intitulada Repercussão da performance de Tertuliana Lustosa: uma reflexão necessária sobre educação e arte. A colunista comenta o caso da pesquisadora que rebolou durante uma palestra na Universidade Federal do Maranhão.

“A recente performance de Tertuliana Lustosa durante um seminário na UFMA, em que rebolou na mesa, gerou um amplo debate sobre a relação entre a arte, a educação e o acesso ao conhecimento.”

A colunista valoriza o “debate” provocado pela ação, segundo ela,  “uma oportunidade de diálogo”. Ótimo! Debater é sempre bom mesmo, prezamos pela liberdade de expressão. Mas o problema em tela não é esse, até o pior desastre pode ser encarado assim: “pelo menos suscitou um debate”.

A questão é saber se mostrar a bunda – e por poucos fiapos de tecido, o próprio ânus – vai fazer evoluir alguma coisa na consciência das pessoas e, como estamos tratando de universidade, no conhecimento das pessoas. A colunista achou positivo:

“Sua performance questiona a hipocrisia de um sistema que aceita facilmente a manifestação cultural de artistas como Anitta ou Ivete Sangalo, mas estranha e rejeita a presença de uma mulher travesti na academia.”

Aqui a confusão é enorme. Primeiro porque a ação não tem nada de “anti-sistema”, mas é a nova moda do sistema, principalmente nas universidades. Segundo, porque o escândalo não foi causado pelo fato de a palestrante ser travesti, mas pela ação de mostrar a bunda.

Se um travesti sofre algum tipo de preconceito por estar no ambiente universitário – e não duvidamos disso -, a única coisa que a ação da palestrante fez foi reforçar esses preconceitos. A própria colunista e a palestrante estão concordando com a ideia de que todo travesti é uma espécie de pervertido, que sai por ai mostrando as partes.

Isso não tem absolutamente nada a ver com existir ou não travestis no ambiente universitário.

A colunista continua: “O escândalo em torno de sua performance não é apenas sobre a dança em si, mas sobre o reconhecimento da diversidade e da pluralidade de vozes que devem ter espaço na academia.” O escândalo é, sim, sobre a dança, ou melhor, sobre mostrar a bunda numa palestra acadêmica. Se a palestrante simplesmente tivesse falado e defendido sua tese, seja ela qual for, não haveria escândalo nenhum.

Pode-se defender o escândalo para chamar a atenção, mas é preciso sustentar os reais motivos desse escândalo.

Não se trata aqui de buscar proibir qualquer manifestação na universidade, no fim das contas, cada um se expressa como quiser. Mas isso não quer dizer que as pessoas são obrigadas a achar bom.

Não se trata também de um problema moral. O que os identitários não percebem é que essa política é prejudicial inclusive para aquilo que eles dizem defender, ou seja, o direito dessas chamadas minorias. Ações como essa nada mais fazem do que reforçar a ideia negativa que parte da população tem.

A colunista afirma que “A provocação de Tertuliana nos força a confrontar a hermeticidade do discurso acadêmico, que muitas vezes fala para si mesmo, desconectando-se das realidades sociais que o cercam. O verdadeiro papel da academia deve ser a devolução do conhecimento à sociedade, contribuindo para um espaço mais inclusivo e representativo.”

Logicamente que a academia deve “devolver o conhecimento à sociedade”, mas essa também não é a discussão em pauta. Ao dizer que a provocação fez com que o discurso acadêmico pare de falar para si mesmo, a colunista está mais uma vez confusa.

Não existe nada mais fechado dentro de si mesmo como o identitarismo. O que a palestrante fez é algo que apenas um círculo hiper restrito na universidade aplaude e gosta. Fazer isso é estar cada vez mais divorciado da sociedade.

A ideia de que fazer esse tipo de coisa seria algum popular mostra que o identitarismo vive totalmente fora da realidade.

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