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HISTÓRIA DA PALESTINA

Iaia Sinuar, de refugiado a líder revolucionário

Conheça a vida, obra e legado de Iaia Sinuar, líder histórico da Palestina martirizado em 16 de Outubro

Iaia Sinuar, líder influente do Hamas e estrategista fundamental da resistência palestina, deixou um legado marcado por sua trajetória de refugiado até se tornar um dos maiores líderes do movimento. Nascido em 1962 no campo de refugiados de Khan Younis, na Faixa de Gaza, ele viveu as consequências da Nakba, a “catástrofe palestina” de 1948, no qual o recém-formado e nazista Estado de “Israel” expulsou milhares de famílias, incluindo a sua, de vilarejos como al-Majdal, hoje ocupada pelos sionistas e chamada de Ashkelon.

Sinuar teve seus primeiros confrontos com as forças israelenses nos anos 1980. Sua primeira prisão ocorreu em 1982, quando foi acusado de participar de “atividades islâmicas”, algo grave para as lideranças sionistas. Em 1985, foi novamente preso, mas foi na terceira detenção, em 1988, que sua trajetória ganhou mais notoriedade e consolidou sua postura anti-imperialista. Sinuar foi condenado por matar dois soldados israelenses e 12 palestinos acusados de colaborar com Israel. A sentença levou-o a passar 22 anos na prisão, onde desenvolveu uma influência marcante entre seus companheiros e se destacou como um ponto-chave nas negociações com as autoridades carcerárias.

Durante o período na prisão, ele aprendeu a falar hebraico fluentemente, o que reforçou sua posição dentro do Hamas ao ser libertado em 2011, em uma troca de prisioneiros. Sua disciplina e liderança dentro e fora das grades moldaram sua trajetória para cargos de maior responsabilidade no movimento.

Desde 2017, Sinuar era o responsável pela administração do Hamas na Faixa de Gaza. Sua ascensão ao comando total do grupo aconteceu em agosto de 2024, após o assassinato de Ismail Hamié, líder revolucionário que ocupava o cargo de líder do birô político do Partido. A imprensa regional e internacional considerou essa transição natural, dada sua longa trajetória e o controle que já exercia na região. Vale o adendo, porém, de que o líder do Hamas em Gaza, cargo ocupado à época por Sinuar, já valia mais do que uma simples posição de liderança regional, pois o ponto central do Hamas é e sempre foi justamente em Gaza.

Um dos marcos mais significativos de sua liderança foi a coordenação da operação militar de 7 de outubro de 2023 contra “Israel”, o “Dilúvio de Al-Aqsa”, que desencadeou na guerra de libertação nacional do povo palestino e na escalada do genocídio promovido por “Israel”, à medida que não conseguiam vencer política e militarmente, levando a um massacre com mais de 42,5 mil civis mortos e mais de dois milhões de pessoas deslocadas até o momento. Durante os meses seguintes, Sinuar se manteve ativo em Gaza, conduzindo as operações militares do Hamas, frequentemente figurando como o principal alvo das forças israelenses.

Após repetidas tentativas anunciadas por “Israel” de matá-lo, Sinuar foi finalmente levado ao martírio em um ataque das forças “israelenses” em Rafá, em 16 de outubro de 2024. O Hamas confirmou sua morte, marcando o fim de uma liderança que havia moldado a resistência palestina nos últimos anos. A missão do Irã na ONU destacou que sua atuação até o último momento, enfrentando o inimigo abertamente, serviria como um símbolo de resistência para os muçulmanos e oprimidos em todo o mundo. Fato é que Sinuar, em vídeo divulgado por “Israel”, foi visto combatendo até o último minuto de sua vida, fazendo valer sua fala sobre mais valer um minuto vivendo enquanto luta pela resistência, do que uma vida eterna de complacência aos inimigos sionistas.

Sobre o seu legado, é importante reiterar que será lembrado como um líder estratégico e disciplinado, que passou de refugiado a líder máximo do grupo mais influente na resistência palestina. Sua vida reflete a trajetória de muitos palestinos que sofreram com o deslocamento forçado e a luta constante por sua terra. Seu martírio, mais do que uma perda pessoal para a organização e o povo palestino, é tratada como um marco que reforça o espírito de luta e a necessidade de continuar enfrentando o imperialismo e o sionismo.

Sinuar, assim como outras figuras-chave da resistência no Oriente Médio, mostrou que a morte em combate não é vista como o fim, mas como uma passagem para o martírio, um conceito profundamente enraizado na cultura de resistência palestina e islâmica. Esse entendimento é o que mantém viva a motivação para a luta, mesmo em condições extremas, como as enfrentadas em Gaza após anos de bloqueio e ataques intensificados.

Para o Hamas e seus aliados, o martírio não é apenas um sacrifício pessoal, mas uma forma de inspirar gerações futuras. A liderança de Sinuar e seu destino heroico se somam a uma longa lista de combatentes que enfrentaram o inimigo com determinação, acreditando que a resistência é a única resposta legítima à ocupação. Assim, sua trajetória passa a servir como um exemplo de que, mesmo sob opressão, é possível se levantar e lutar por um ideal.

Ao longo da história, outros líderes como Hassan Nasseralá, do Hesbolá, enfatizaram a importância da continuidade da luta contra o sionismo e o imperialismo. O martírio de Sinuar ecoa a mensagem de que a resistência é coletiva, e sua memória fortalece o espírito combativo entre os palestinos e os movimentos revolucionários ao redor do mundo. O Hamas já indicou que continuará suas operações, reforçando que sua luta vai além das fronteiras da Faixa de Gaza e representa uma causa internacional contra a opressão.

Enquanto muitos do cenário político internacional se limitam a lamentar as mortes, o movimento palestino insiste na importância da resistência ativa. O desafio colocado pela morte de Sinuar é justamente o de romper com a passividade e reconhecer a luta palestina como parte integrante de uma revolução maior, contra todas as formas de exploração e dominação.

A memória de Iaia Sinuar, portanto, transcende sua morte. Ele será lembrado não apenas como um líder militar, mas como um símbolo de esperança e resistência. Seu nome continuará ecoando nas ruas de Gaza e nos corações daqueles que acreditam na justiça e na libertação dos povos.

Diversos grupos, incluindo o Partido Nacional Socialista Sírio, o Movimento Al-Nujaba, e a Frente Popular para a Libertação da Palestina, elogiaram Sinuar, destacando seu sacrifício e o impacto de sua morte como um motivador para a continuidade da resistência contra a ocupação. A resistência é frequentemente apresentada como uma luta em defesa da identidade e dos direitos do povo palestino, enfatizando a importância do sangue dos mártires como uma força propulsora para a libertação.

Essas declarações ressaltam a visão dos grupos de resistência de que a luta armada é uma resposta legítima e necessária contra a ocupação, reafirmando um compromisso contínuo com a resistência e a busca pela libertação da Palestina.

Sinuar também escreveu o livro Thorns and Carnations (O Espinho e o Cravo, em tradução livre), não refletindo a filosofia pessoal e política do ex-líder do Hamas, mas uma profunda visão sobre a resistência palestina. A obra se destaca por entrelaçar narrativa ficcional e conceitos ideológicos, demonstrando como a autodeterminação e o compromisso com a causa coletiva são fundamentais para enfrentar a ocupação nazista na qual estão submetidos. Ao explorar o dilema entre sacrifícios individuais e coletivos, a obra demonstra como o protagonista renuncia a aspirações pessoais para fortalecer a resistência.

“Você pode matar um revolucionário, mas nunca a revolução.”

– Iaia Sinuar

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