O artigo É tempo de solidariedade e resistência, publicado nesta sexta-feira (17) no sítio Esquerda Online, beira ao fanatismo religioso, típico dos identitários, que tratam o clima como o Apocalipse, se bem que um apocalipse com racismo ambiental e outros temas caros à esquerda ongueira.
No olho da matéria já se nota o descolamento do Esquerda Online / Afronte da classe trabalhadora, pois dizem: “Afronte convoca: Encontro Nacional de Formação de Brigadas de Solidariedade ao Rio Grande do Sul e Resistência à Crise Climática”. No que diz respeito à solidariedade, isso já vem sendo feito voluntariamente por inúmeras pessoas, ainda que o socorro às vítimas no Rio Grande Sul seja obrigação do governo Eduardo Leite, o playboy neoliberal que abandonou o estado em favor do lucro dos capitalistas. Com relação à ‘resistência à crise climática’, que trabalhador sairá às ruas para defender uma reivindicação tão abstrata?
No primeiro parágrafo, o artigo diz que “Hoje nosso país sofre com um evento extremo provocado pelos efeitos da crise climática e do negacionismo dos governos. No Rio Grande do Sul milhares de jovens como nós, mulheres, crianças, perderam tudo. O racismo ambiental se apresenta nu diante de nós”. Para começar, não se trata de ‘hoje’, as catástrofes vêm se acumulando; muito menos se trata de ‘negacionismo dos governos’, mas a política neoliberal que exige o corte de gastos públicos.
A esquerda golpista, essa que ajudou a dar o golpe em 2016 e colocar Michel Temer no poder, agora esconde a mão. Foi no governo Temer que se aprovou o teto de gastos, eis aí as consequências. Ao contrário do que afirmam, não foi preciso “uma tragédia provocada pelo negacionismo para desvelar a agressividade de um sistema literalmente destruidor”, milhares de pessoas já alertavam na época que o golpe devastaria a vida da classe trabalhadora. A fome e o desemprego atingiram níveis alarmantes; e os nossos direitos trabalhistas e previdenciários foram esmagados.
O fim dos tempos
O Afronte carrega na tinta apocalíptica e no discurso identitário, sustentando que “ao provocar o genocídio dos povos originários, transformar nossa terra fértil em monocultura árida, expulsar quilombolas para retirar e saquear as riquezas do seu território, ao sufocar, desviar e canalizar rios que cortam cidades, transformando as grandes metrópoles em um emaranhado de asfalto, carros e prédios entupindo as veias do nosso planeta de CO2, o capitalismo transformou nosso planeta em uma bomba relógio. O Rio Grande do Sul é uma fotografia desse filme que precisamos interromper”.
É uma discurseira identitária sem fim, talvez o Afronte esteja com planos de montar uma comunidade hippie para que todos vivam de tanga no meio da selva. Vão abrir mão de todas as conquistas tecnológicas e se alimentar de mandioca.
Essa histeria conservacionista serve apenas para que o País não se desenvolva, é uma política imposta pelo imperialismo, que quer que fiquemos para sempre subjugados. Querem que não exploremos nossos recursos naturais para que ele próprio possa fazê-lo quando houver condições mais vantajosas.
Aqueles que impõem a ‘agenda climática’ para os países atrasados foram os primeiros a destruir seu meio ambiente. Aliás, continuam destruindo. Basta ver a extração de gás de xisto que visa o mercado de gás europeu, uma vez que sancionaram a Rússia e colocaram muitos países da UE sob a bota do imperialismo norte-americano.
Quase um filme de Hollywood
Em um dado momento, o artigo afirma que “a extrema direita de Bolsonaro, Trump, Netanyahu, Milei com seus representantes no Rio Grande do Sul – como o prefeito da capital Sebastião Melo – finge heroísmo, mas na verdade pretende aprofundar o extermínio da vida no planeta a partir de seus governos e dos seus discursos. Não existe luta contra os efeitos da crise climática que não seja uma luta de vida ou morte contra a extrema direita”. Só falta agora chamarem o Batman para nos socorrer. – grifo nosso.
Em vez de criticar com propriedade os efeitos devastadores do neoliberalismo, prefere pintar o mundo como um roteiro de Avatar. Não demonstram de maneira clara que o teto de gastos, a falta de investimentos públicos em detrimento dos bancos, as privatizações desenfreadas, tudo isso levou à catástrofe que poderia perfeitamente ser prevenida.
Doações
O artigo critica com propriedade que Eduardo Leite sugeriu de maneira bizarra que se interrompensem as doações porque isso atrapalharia o comércio. Porém, se restringir à campanha de solidariedade não basta. A esquerda tem que exigir que o governo dê a devida assistência para todos os atingidos pelas inundações, não embarcar no assistencialismo, pois isso só vai desviar o foco da luta principal. Quem quiser doar é livre para fazê-lo, inúmeras pessoas se voluntariam e fazem doações, promovem operações de resgate, o que ó louvável, mas isso não pode ser uma política séria da esquerda.
Para justificar essa campanha, o Afronte apela para jargões identitários que já saturaram os ouvidos da classe trabalhadora: “Só a ação e mobilização das pessoas atingidas pelos efeitos da crise climática pode frear esse curso de destruição. Somo nós, jovens, trabalhadores, negros, LGBTIAP+, quilombolas, indígenas, os que sofrem o racismo ambiental, que podem ser agentes da mudança. E decidimos dedicar nossa energia, nossa indignação e nossa juventude para essa luta. A resistência pelo clima é a resistência pela vida / Agora a luta pelo clima é ao mesmo tempo a luta por solidariedade…”, mas tentam disfarçar essa política reacionária com “precisamos transformar a solidariedade em luta”.
Essa esquerda pequeno-burguesa abandou a luta de classes, embarcou em um programa religioso, moralista, típico do identitarismo, que finge querer unir a esquerda para resistir a uma pretensa ‘crise climática’, mas serve apenas para dividir e enfraquecer a luta dos trabalhadores. Nenhum trabalhador vai embarcar nessa baboseira de ‘racismo ambiental’, ou ser um ‘agente da mudança’ sabe-se lá de quê.
O perigo dessa política, no entanto, é que tem fortalecido a extrema direta em vez de combatê-la. Os fascistas se aproveitam desses delírios para desmoralizar a esquerda, avançar e conquistar mais trabalhadores para suas fileiras.





