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Estados Unidos

Harris x Trump: o que acontecerá após o primeiro debate?

Republicano e Democrata se enfrentaram pela primeira vez na televisão

Nessa terça-feira (11), aconteceu o primeiro – e talvez único – debate entre os principais candidatos a presidente dos Estados Unidos. Diferentemente do que acontece no Brasil, onde os debates são organizados pelas emissoras de televisão, os debates nos Estados Unidos são organizados pelas próprias candidaturas, que entram em um acordo em relação às regras e em relação às emissoras escolhidas.

Diante da grande polarização no país, o debate sobre as regras do debate já foi, em si, motivo de muitos embates. Segundo a grande imprensa, a equipe de Kamala Harris teria exigido que o microfone permanecesse aberto enquanto o outro candidato estivesse falando, de modo que isso facilitaria que a candidata democrata pudesse provocar o candidato republicano, fazendo com que se irritasse e, assim, perdesse a linha.

Ocorrido o debate, não há como dizer que houve um grande vencedor. Kamala Harris foi, de fato, muito melhor que o seu antecessor, Joe Biden. Isso, no entanto, é muito mais demérito de Biden do que mérito próprio. Diante da senilidade do atual presidente, qualquer um teria um desempenho melhor que ele. Isso, contudo, não foi suficiente para que Harris fosse superior a Donald Trump.

Trump, por sua vez, não conseguiu aproveitar o debate para aumentar a sua vantagem em relação à candidatura de Harris. Embora tradicionalmente os debates sejam um terreno favorável para o republicano, uma vez que ele não se apresenta como um mero burocrata, Trump não conseguiu emparedar Harris com tanta facilidade. Em grande medida, isso aconteceu pela própria mediação do debate. Com razão, apoiadores de Trump apontaram que o debate era “três contra um”. Isto é, Harris e os dois mediadores contra o republicano.

Curiosamente, a versão de que o debate não teve vencedores não foi a que apareceu na imprensa imperialista. Tanto os órgãos de imprensa norte-americanos quanto as suas sucursais no Brasil apresentaram Kamala Harris como a grande vencedora. Apresentaram a democrata como alguém que conseguiu irritar Trump e ganhar mais projeção para a sua candidatura. “Trump cai na arapuca de Kamala Harris, que ganha debate quente nos EUA”, estampou o jornal O Estado de S. Paulo. Segundo a análise do veículo, Harris “recheou suas participações no debate de iscas contra Trump, na tentativa de desestabilizá-lo. Deu certo. Na primeira delas, durante uma discussão sobre imigração ilegal, a democrata provocou Trump sobre seus comícios”.

Não é fato que Harris tenha vencido o debate. Pelo contrário: por mais que ela tenha sido ajudada pela imprensa, tudo o que conseguiu fazer foi se apresentar como uma representante do regime político. Como uma representante do sistema responsável pela desgraça de centenas de milhões de norte-americanos.

Como o próprio jornal brasileiro deixa claro, o grande feito de Harris teria sido jogar “iscas” para Trump. Isto é, fazer acusações morais, utilizar os processos criminais contra ele, apelar para a histeria dos “ataques à democracia” etc. Do ponto de vista de seu programa, Harris dificilmente conseguiu convencer alguém de que sua eleição representaria uma melhora nas condições de vida de alguém. Trata-se, neste sentido, de uma repetição da tática falida que a esquerda pequeno-burguesa vem levando adiante no Brasil: a de substituir um programa político por denúncias policialescas contra o adversário.

Trump, ainda que não tivesse feito o seu melhor debate, não teve uma postura tão defensiva como a imprensa apresenta. Quando Harris o acusou de ser um criminoso, por exemplo, Trump respondeu que todos os processos contra ele partiram de seus inimigos, dos democratas, destacando o caráter persecutório das medidas. Quando Harris citou ex-membros do governo Trump que criticaram o republicano, Trump respondeu que demitiu todas as pessoas incompetentes de seu governo, enquanto os democratas mantiveram todos os responsáveis pelo fracasso no Afeganistão e no Iraque. Trump ainda martelou que os democratas foram responsáveis pela “maior inflação da história”, segundo ele.

Na melhor das hipóteses para os democratas, Harris apenas conseguiu não perder no debate. Isso, no entanto, é muito pouco diante do que precisaria ser feito para diminuir a desvantagem entre ela e o republicano. Trump já era favorito para vencer as eleições em 2023 – hoje, com a crise no Oriente Médio e com a piora econômica nos Estados Unidos, essa tendência é ainda maior.

Embora Harris precisasse praticamente de um milagre para vencer as eleições de uma maneira limpa – e o debate não foi esse debate -, é preciso ter em mente que, para o imperialismo, na atual crise em que se encontra, a vitória de Donald Trump seria impensável. Aprofundaria ainda mais uma crise que pode ser mortal para a dominação imperialista. Por isso, o debate, ainda que não tenha servido para que Harris aumentasse a sua popularidade, está sendo utilizado para que o imperialismo procure manipular o cenário eleitoral.

As matérias que apontam para um grande desempenho de Harris no debate são, em certo sentido, bastante semelhante àquelas publicadas às vésperas das eleições venezuelanas. Naquele momento, o imperialismo apresentava a oposição como a franca favorita para vencer o pleito. Essa campanha serviu para que, futuramente, as eleições fossem acusadas de serem fraudadas, uma vez que a oposição golpista foi derrotada.

Ao apresentar Harris como vencedora do debate, o imperialismo deverá aumentar ainda mais a propaganda de que a democrata é a favorita para vencer as eleições. E, com isso, tentar impor uma vez mais a vitória de um candidato artificial e impopular.

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