Em um movimento que refletiu como a conjuntura política no Oriente Médio possui um caráter revolucionário, o partido palestino Hamas decidiu restabelecer relações com o governo do presidente sírio Bashar al-Assad, encerrando uma década de rompimento em 19 de outubro de 2022, pouco menos de um ano antes do lançamento da operação revolucionária Dilúvio de al-Aqsa. Essa reaproximação marca um ponto significativo na história recente da Palestina e no papel do Hamas como ator na luta pela liberdade contra o imperialismo e pela autodeterminação do povo palestino.
A ruptura entre o Hamas e o governo sírio ocorreu em 2012, em meio à guerra civil na Síria. Na época, a liderança do Hamas decidiu abandonar sua base em Damasco, posicionando-se contra a repressão promovida por al-Assad contra uma revolta popular que buscava derrubar seu governo. Essa decisão gerou um rompimento não apenas com a Síria, mas também tensionou a relação com o Irã, aliado histórico de Damasco e um dos principais apoiadores do Hamas.
No entanto, ao longo dos anos, o Hamas conseguiu reconstruir sua relação com Teerã. O apoio iraniano foi fundamental para o desenvolvimento do arsenal militar do grupo, incluindo foguetes de longo alcance que desempenharam um papel central nos atos heroicos de 8 de outubro contra “Israel”. Essa reaproximação com o Irã pavimentou o caminho para o retorno das relações com a Síria.
De acordo com fontes internas do Hamas, diversas reuniões ocorreram entre representantes do partido revolucionário palestino e do governo sírio. Um oficial afirmou que o objetivo dessas reuniões era superar diferenças e restabelecer uma relação estratégica. Embora não haja confirmações formais por parte do governo sírio, a iniciativa refletiu um reconhecimento do papel de Damasco como aliado estratégico e central na luta contra “Israel”.
Para o Hamas, a Síria representa não apenas um parceiro político, mas também um elo importante na resistência contra a ocupação israelense. Antes da ruptura em 2012, Damasco havia servido como um refúgio seguro para a liderança do grupo, oferecendo suporte logístico e político em momentos críticos.
A decisão do Hamas também tem implicações para a dinâmica regional. Ao restaurar laços com al-Assad, o grupo sinaliza uma unificação mais ampla do Eixo de Resistência que inclui o governo revolucionário do Irã, o partido libanês Hesbolá e outros aliados na região.
Vale lembrar que é pela Síria que chega boa parte do armamento da Resistência libanesa, sendo este um dos motivos centrais pelo qual o imperialismo derrubou Assad. A reafirmação desta aliança buscou não apenas resistir à influência israelense, mas também se contrapor às iniciativas dos Estados Unidos e de seus aliados na região, como as monarquias e sultanatos que lambem o chão por onde o imperialismo pisa em busca de trocados.
A reconciliação também ocorreu em um momento em que o governo sírio busca reafirmar sua legitimidade no cenário internacional, após mais de uma década de guerra civil. Para al-Assad, o retorno do Hamas ao seu campo de aliados reforçava sua posição como líder regional e desafiava os esforços de isolamento promovidos pelo imperialismo e seus capachos árabes, na qual mais de dezenas de sanções eram impostas contra o povo sírio.
Por fim, a união de forças com a Síria reforçou a Resistência palestina em um momento fundamental, para intensificar a guerra de libertação nacional do povo palestino contra o enclave imperialista de “Israel”. O Hamas demonstrou mais uma vez sua experiência política, enxergando no regime nacionalista de Assad a oportunidade de reatar laços com uma potência regional e assumir seu papel revolucionário, mantendo o foco em sua missão de libertar a Palestina do imperialismo e assegurar os direitos de seu povo.