Neste dia 21 de agosto completam-se 84 anos do assassinato de León Trótski, um crime do stalinismo que, às vésperas da invasão da União Soviética pela Alemanha Nazista, localizara no antigo dirigente do Partido Bolchevique uma ameaça maior do que o nazismo. Em agosto de 1940, o mundo já se encontrava afundado na catástrofe da Segunda Grande Guerra prevista por Trótski ainda no começo dos anos 1930 e, poucos meses antes, em junho, a força avassaladora do nazismo levou a Alemanha a submeter a França, tornando esta etapa da guerra, basicamente, um confronto entre o imperialismo inglês e o imperialismo alemão. A antecipação com previu a guerra e a política defendida para a intervenção revolucionária na ocasião fizeram de um dos principais organizadores da Revolução Russa de 1917 um alvo.
Ocorrido na Cidade do México (capital do país homônimo), para onde se exilou após o desterro (em 1929), o assassinato de Trótski foi um ato deliberado do stalinismo para eliminar um dos últimos bastiões da resistência revolucionária, sendo não apenas um crime, mas um movimento estratégico para desarticular a oposição interna e consolidar o controle total de Stálin sobre os partidos comunistas. Sua morte foi orquestrada por agentes stalinistas, incluindo o stalinista espanhol Jaime Ramón Mercader del Río Hernández, conhecido como Ramón Mercader, que se infiltrou no círculo de Trótski sob uma identidade falsa.
Para conseguir acesso ao revolucionário, Mercader se fez passar por um membro da esquerda mexicana, participando de reuniões e eventos nos quais Trótski estava presente. Ele se aproximou também da militante trotskista Sylvia Ageloff, e a convenceu a ajudá-lo a se integrar ao grupo.
Ageloff era propagandista da Quarta Internacional e assistente de Trótski, ajudando-o com tarefas administrativas e organizacionais. Sua proximidade com o líder revolucionário foi fundamental para que Mercader pudesse se infiltrar no círculo íntimo e concluísse seu plano criminoso.
Em 20 de agosto, na casa de Trótski e munido de um picador de gelo, Mercader cravou-lhe o objeto no crânio do revolucionário russo, que não morreu imediatamente, mas entrou em confronto com seu assassino, chegando a ferí-lo. Os seguranças logo chegaram, prontos para matar o agente stalinista, mas Trótski interveio, gritando: “não o matem! Este homem tem uma história a contar.” No dia seguinte, no entanto, Trótski não resistiria aos ferimentos, vindo a óbito, aos 60 anos.
Um dos principais líderes da Revolução Russa de 1917 e fundador do Exército Vermelho, Trótski tornou-se uma figura central na oposição ao regime de Joseph Stálin na URSS. Após a ascensão do stalinismo, Trótski se opôs à burocratização do Partido Comunista e à traição dos princípios revolucionários originais. Em 1927, ele foi expulso do partido e, em 1929, da república que ajudou a fundar. Durante seu exílio, Trótski continuou a criticar o regime stalinista, vindo, posteriormente, a trabalhar pela formação da Quarta Internacional, que buscava unir os revolucionários em uma luta contra o stalinismo e o capitalismo.
Consciente do fato de que a revolução seria sufocada se estivesse limitada a um único país, Trótski argumentava que, para avançar a luta pelo socialismo, era essencial que o processo revolucionário se aprofundasse interna e externamente, globalmente. Satisfeitos com a ascensão conquistada pela Revolução de Outubro de 1917, os stalinistas se opunham à manutenção da revolução.
Na época de seu assassinato, a Segunda Guerra Mundial estava em pleno andamento, e a necessidade de uma liderança revolucionária consciente e experiente era mais crucial do que nunca. Finalmente, a Revolução Russa de 1917 foi uma consequência da guerra inter imperialista e seus efeitos devastadores. Sua morte, portanto, não apenas silenciou uma voz poderosa contra a carnificina realizada pelo imperialismo e a traição criminosa do stalinismo, mas também desarticulou a possibilidade de uma reação revolucionária organizada por alguém com experiência no assunto, capaz de impulsionar o ímpeto revolucionário que fatalmente surgiria com a Grande Guerra.
O impacto do assassinato de Trótski no movimento revolucionário foi profundo. Com sua morte, a Quarta Internacional perdeu uma de suas figuras mais influentes, o que dificultou sua capacidade de mobilização. A falta de uma liderança consciente permitiu que o stalinismo se consolidasse ainda mais, não apenas na União Soviética, mas também em outros países onde os partidos comunistas estavam se expandindo.
O assassinato não apenas eliminou um dos últimos líderes bolcheviques, mas também teve um impacto devastador no movimento revolucionário global. Com sua morte, a burocracia soviética colheria os frutos da crise do imperialismo, sem que isso impactasse, porém, no impulsionamento da revolução comunista ao redor do planeta, mesmo sob condições tão favoráveis como as que se apresentaram no término da Segunda Guerra.
Trótski, por sua vez, se tornou um mártir para o movimento comunista. Após a desmoralização total do stalinismo, o líder revolucionário se tornaria influente novamente.