A burguesia está descartando Alexandre de Moraes após utilizá-lo como uma das suas principais ferramentas políticas por anos. Todos os setores que apoiavam o ministro do STF agora o abandonam, com exceção de uma parte do PT, que ainda não entendeu o que está acontecendo. Esse setor apoio todos os crimes do ministro que agiu como um juiz da inquisição por anos principalmente, mas não só, contra os bolsonaristas. Agora eles acham que os que denunciam Moraes são fascistas, é o caso de Moises Mendes que publicou no Brasil 247 o texto “Folha convoca Glenn Greenwald para antecipar serviço da extrema direita”.
O texto começa: “mais de dois anos antes do projeto do fascismo de eleger uma super bancada no Senado, que levaria ao impeachment de Alexandre de Moraes, a Folha convoca Glenn Greenwald para antecipar o trabalho sujo”. Segundo o autor, o plano da direita é derrubar Moraes usando o Senado que será eleito daqui a dois anos. Ele não considera que o Senado atual, ultra reacionário, somado a imprensa burguesa brasileira e ao próprio imperialismo, que está atacando Moraes por meio de Elon Musk, não são o suficiente. Moises realmente acha que o ministro do STF é super poderoso.
Ele continua: “os jornalões estão tentando há muito tempo embaralhar o inquérito das fake news, que envolve os bolsonaristas mais poderosos civis e militares e grandes empresários fascistas. Seria a melhor forma de pegar Moraes, quebrando a pilastra do trabalho do STF”. Mendes aqui ignora que essa mesma imprensa burguesa esteve ao lado de Moraes por anos quando ele atacava os bolsonaristas, e também outras vítimas. Ele não compreende que o ministro é apenas uma ferramenta de um setor da burguesia que de fato detém o poder e que esse setor abandonou o Moraes.
Mas a tese piora quando o jornalista Glenn Greenwald vira o principal alvo da crítica: “a Folha foi adiante. Contratou Greenwald para livrar a cara dos integrantes do gabinete do ódio, das milícias digitais e alguns dos chefes golpistas, para assim chegar ao que interessa: impedir que gente fardada e sem farda, da elite da direita, seja alcançada”. De fato, os generais golpistas não serão punidos pelo STF. Mas isso não é fruto dos vazamentos sobre Alexandre de Moraes. Desde o ano de 2023, quando se começou a repressão maior aos protestos bolsonaristas, isso ficou muito claro. Os generais têm um poder que o STF nunca contestou.
Mas Moisés não compreende isso. Ele acha que o STF é um baluarte da democracia e que o jornalista Greenwald, conhecido por sua defesa de princípios da liberdade de expressão e outros direitos democráticos, é, um fascista a serviço da Folha. Essa tese não tem sentido nenhum. Moisés deveria explicar porque o STF em 2018 era totalmente alinhado com os generais que mandaram prender Lula e o STF de 2024, que agora tem 2 ministros bolsonaristas, seria mais democrático. Invés de criticar o STF, que apoiou o golpe de Estado e todo tipo de ilegalidade nos últimos anos, ele foca em atacar um jornalista que apenas está fazendo seu trabalho.
Ele segue: “preparem-se porque agora vai ter cerco a Alexandre de Moraes com uma intensidade que ainda não foi vista. Vão tentar implodir o inquérito e salvar Bolsonaro e todo comando do golpe”. O autor realmente acreditava que Bolsonaro e os generais estavam ameaçados? Esse risco nunca existiu em momento algum. Esse é o grande problema de acreditar que Alexandre de Moraes era um grande defensor da democracia. Neste momento vale a pena relembrar quem é o ministro do STF.
Saído do governo ultrarepressivo de Geraldo Alckmin, onde ele era o secretário de Segurança, Moraes foi ministro da Justiça do governo golpista de Michel Temer e depois foi indicado a ministro do STF após a estranha queda do avião de Teori Zavascki. Ele então foi um dos principais baluartes da Lava Jato, votou a favor da prisão de Lula em 2018. Moraes sempre foi um homem do PSDB, do imperialismo norte-americano no Brasil. Dai surge sua divergência com o bolsonarismo. É uma briga interna da direita. Uma briga em que o lado do imperialismo é mais perigoso que o do bolsonarismo. Afinal Bolsonaro ganhou força de verdade quando foi apoiado pelo imperialismo, vide o caso de 2018 quando Alexandre de Moraes o apoiou por meio da prisão de Lula.
Ao se ignorar isso tudo e inventar que ele é um herói da democracia, a sua queda parece algo terrível, mas não é. A perseguição de Moraes ao bolsonarista nos últimos anos inclusive os dava força. Moraes deu a principal política de Bolsonaro durante o governo Lula, lutar a favor da “liberdade” e dos direitos democráticos.
Moisés então segue: “Folha, Globo e Estadão têm a missão urgente de inviabilizar um desfecho para as investigações, ao invés de trabalharem, como fingiam fazer, pelo enquadramento dos líderes do golpe. Tanto que há muito tempo os jornalões não produzem uma linha de texto aproveitável sobre o golpe. Os protagonistas sob investigação foram esquecidos pelo jornalismo das corporações. É a hora de fazer valer o ‘deixa pra lá’”. Aqui ele mesmo percebe que a imprensa burguesa já abandonou essa perseguição aos bolsonaristas. Falta a última compreensão que era setor da imprensa que dava força a Moraes, sem eles o ministro não é nada.
Moisés ainda afirma: “é coisa da Faria Lima com jornalões, grileiros com e sem gravata, milícias, militares e gente da bala e da Bíblia. O grande projeto, mais do que amordaçar Moraes, é implodir outras áreas do STF e disseminar o medo entre ministros, passando pela PGR. É possível que o país só assista às implosões, sem ações de resistência”. Mais uma vez se repete a tese do STF progressista. Como explicado acima, a briga do STF com o bolsonarismo era uma disputa interna da direita, agora parece que um acordo entre os dois setores acabou com essa briga.
Aqui aparece o maior problema da defesa de Moraes feita pela esquerda. Caso a aliança da direita aconteça, isso significa que a esquerda enfrentará um grande desafio. Ou seja, que é um momento de grande luta. O que os defensores de Moraes fizeram nos últimos anos? Depositaram toda a confiança no STF e não mobilizaram os trabalhadores. Agora o STF provavelmente será mais uma ferramenta da direita contra a população que está desarmada diante da desmobilização e da desorientação. A culpa disso não é de Glenn Greenwald, mas sim da esquerda que defendeu um golpista como se fosse um herói nacional.