Segundo artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 20 de setembro, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, teria comparado a suspensão do X no Brasil, realizada após uma ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com o banimento do TikTok nos Estados Unidos, realizado após uma decisão do Congresso norte-americano.
“Esse mesmo braço de ferro que os Estados Unidos estão travando como o TikTok nós agora, no Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes atesta, está travando com o X do Elon Musk, que supostamente estaria a serviço de grupos de extrema direita, interferindo na política interna de muitos países, para divulgar essa ideologia extremista”, disse Lewandowski, ao participar de evento em São Paulo.
A comparação com o TikTok é um dado importante para a situação política atual. Afinal, quando Moraes, apoiado pela Primeira Turma do STF, havia tomado a decisão de derrubar o X, a grande imprensa apresentou sua decisão como parte do fajuto “combate ao bolsonarismo”. Os setores governistas, por sua vez, ainda acrescentaram que se tratava de uma defesa da “soberania nacional”, uma vez que o dono do X, Elon Musk, se negou a cumprir as ordens inconstitucionais de Alexandre de Moraes.
Com a declaração de Lewandowski, vem à tona o que realmente está por trás da decisão. Não se trata nem de um combate ao bolsonarismo, nem de uma represália a Musk como pessoa, mas sobretudo um episódio de um enfrentamento mundial. De um lado, a liberdade de expressão. De outro, a censura implacável. De um lado, um direito democrático que tem permitido que os povos de todo o mundo denunciem os crimes de guerra de “Israel”, da Ucrânia e dos Estados Unidos. De outro, o imperialismo, cada vez mais agressivo.
A comparação entre o caso do X e do TikTok deixa claro que o regime brasileiro se alinhou à política oficial do imperialismo de censura. O TikTok, conforme denunciado à época, está sendo perseguido pelo fato de que o seu algoritmo, na medida em que não é controlado pelo Departamento de Estado norte-americano, propiciou que a causa palestina ganhasse uma enorme repercussão na Internet. A maioria das hashtags que “viralizaram” na plataforma estava relacionada com a defesa dos palestinos. De forma semelhante, Musk é enfrentado pelos setores mais poderosos do imperialismo porque discorda da política de censura implementada em empresas como a Meta.
Sem fazer qualquer tipo de consideração sobre os direitos democráticos, nem sobre a onda de censura contra os defensores da causa palestina, como o jornalista Breno Altman, Lewandowski reproduziu, no mesmo evento, a mesma versão cínica do governo norte-americano: “de forma subliminar, o TikTok vai conquistando os corações e mentes dos jovens através, enfim, mandando mensagens e dominando. E a China tem essa pretensão de dominar o mundo militarmente, economicamente, politicamente, ideologicamente”.
Lewandowski, por mais que aja como se fosse uma figura independente, é parte do governo Lula. Ele está, portanto, não apenas demonstrando um apoio do regime político à política de censura do imperialismo, como um apoio do próprio governo a essa política. A declaração do Lewandowski é muito grave, porque ela implica em um alinhamento não apenas com a censura, mas com a repressão, a violência, o genocídio na Faixa de Gaza, as guerras e os golpes de Estado. É por causa dessa política agressiva, no final das contas, que o imperialismo partiu para uma ofensiva contra os direitos democráticos.
A declaração de Lewandowski vem no mesmo momento em que a imprensa diz que Lula irá discutir na Organização das Nações Unidas (ONU) uma política para as redes sociais. Não se pode esperar nada de progressista neste sentido, uma vez que seu ministro da Justiça está apoiando a censura contra duas das plataformas que menos promovem censura entre as grandes Big Techs.
A postura do Brasil vem, também, pouco tempo depois de uma declaração do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que defendeu a censura global à emissora russa Russia Today. Pressionado pela política interna, cada vez mais desfavorável, o governo brasileiro está dando uma rápida guinada à direita, alinhando-se com o imperialismo.
Essa política, além de favorecer a repressão aos países oprimidos que estão em guerra contra o imperialismo, é insustentável. Não impedirá que uma nova ofensiva golpista surja sobre a América Latina.
