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Coluna

Golpe na Venezuela, coordenado pelo governo ‘democrático’

"O processo que está se desenvolvendo no país vizinho, que é a principal reserva de petróleo no mundo, dá o tom da política imperialista na região"

Na madrugada da segunda-feira, 29, o Conselho Nacional Eleitoral informou que Nicolás Maduro venceu as eleições, com 51,2% dos votos, contra 44,2% de Edmundo González, o candidato da extrema direita venezuelana. Como já se sabia que iria acontecer, a oposição não reconheceu o resultado e diz, inclusive, que ganhou as eleições com 70% dos votos. Esse dado não fecha nem eleitoral, nem matematicamente, já que O Partido Socialista Unido da Venezuela, da base do governo, é o maior partido de esquerda da América Latina e do Ocidente em número de filiados. Possui cerca de 7,8 milhões de membros, isso é 28% da população.

Os boletins de atas da votação ainda não foram divulgados, segundo o governo, pelo fato de o sistema eletrônico ter sido alvo de um ataque cibernético. Coisa que é absolutamente possível, considerando a capacidade tecnológica dos EUA e considerando também o desejo de sabotagem e de fraude que tem esse país, como sabe muito bem a Venezuela. O que está acontecendo em relação às eleições venezuelanas é muito pedagógico, só não aprende o modus operandi do imperialismo, quem não quer. Claro que tem muita gente que faz questão de não aprender. O que está acontecendo na Venezuela é mais uma tentativa de golpe, que já estava planejada, coordenado pelo império americano, e que tem o objetivo de colocar novamente o petróleo a serviço dos EUA. Quem pode desconhecer esse fato?

A oposição na Venezuela a gente já conhece. É uma turma de fascistas, a serviço dos EUA, que queriam colocar o cafajeste do Juan Guaidó, um boneco de pano do imperialismo, como presidente da República. As mobilizações são claramente armadas e financiadas. Observe-se que a extrema direita brasileira é fichinha perto da extrema direita venezuelana. Em 2017, durante as guarimbas, de triste memória, os fascistas queimaram viva, pelo menos uma pessoa, usando lança-chamas. A acusação de fraude não tem comprovação, é baseada na alegação da oposição mais falsa e entreguista que existe no mundo. 

Foi só com o chavismo no poder que as eleições na Venezuela passaram a contar com Justiça eleitoral, cadastro de eleitores, circunscrições eleitorais. Não havia nada disso antes, as eleições eram totalmente fraudadas e dominadas pelos EUA. Pode-se perguntar como as eleições na Venezuela seriam fraudadas, se a oposição obteve maioria no parlamento em 2015, e elegeu vários governadores e prefeitos, que sempre fizeram forte oposição ao governo de Nicolás Maduro? Em 2013 Maduro venceu as eleições de forma extremamente apertada, com 50,61% dos votos contra 49,12% de Henrique Capriles. Nessa ocasião, Maduro ficou em minoria no parlamento, se vendo forçado a negociar cada medida mais importante com a oposição, quando necessária a aprovação do parlamento. Se o governo tivesse controle dos resultados, qual seria a lógica de permitir que a oposição elegesse vários governadores e prefeitos de cidades importantes do país?

Nas eleições deste 28 de julho, Maduro enfrentou outros nove candidatos a Presidente tentando impedir, nas urnas, sua reeleição. Será que todos esses candidatos iriam aceitar participar de eleições fraudulentas? Faltando alguns dias para as eleições, no dia 20 de julho, os candidatos à presidência da Venezuela assinaram um acordo, no qual se comprometiam a reconhecer os resultados das eleições presidenciais de 28 de julho. O documento que foi proposto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Jorge Rodríguez, foi assinado por 8 dos 10 candidatos. Somente o ex-embaixador Edmundo González Urrutia, do grupo Plataforma Unitária, e Enrique Márquez, do partido Centrados, não assinaram. 

O fato de Urrutia não assinar o documento é mais um sintoma de que a rejeição dos resultados das urnas, foi algo planejado com antecedência e, como se sabe, em acerto com os EUA. Certamente não foi por acaso que, ainda no dia (01/08), o governo dos Estados Unidos se apressou em reconhecer Edmundo González, que havia feito… dos votos, como vencedor da eleição presidencial na Venezuela. Esse reconhecimento aconteceu com ausência total de comprovação de fraude na eleição, tendo se baseado exclusivamente nas declarações da oposição, ignorando completamente a posição da autoridade eleitoral do país, o Conselho Nacional Eleitoral. 

O processo eleitora na Venezuela sem dúvidas está entre os melhores do mundo. É realizado em urnas eletrônicas, como no Brasil, só que, diferentemente daqui, o sistema imprime um comprovante de votação, através do qual o eleitor confere o seu voto e, após, deposita em uma urna física. Automaticamente, inclusive, o sistema prevê uma auditagem, em percentual significativo das urnas físicas, para comparar com o voto eletrônico. Esse mecanismo de votação existe desde 2003, tendo sido fiscalizado em cada pleito por vários organismos internacionais. O Centro Carter, que tem sede nos EUA, acompanhou o processo eleitoral na Venezuela com 17 especialistas e observadores desde o dia 29 de junho, distribuídos em quatro cidades venezuelanas. Em 2012, o ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que comanda a entidade, chegou a declarar que o sistema eleitoral da Venezuela era o “melhor do mundo”.

A líder da oposição, Maria Corina Machado, teve a candidatura vetada pela Justiça Eleitoral meses atrás por estar inabilitada a ocupar cargos públicos por 15 anos por seu apoio a tentativas de golpes contra a democracia venezuelana. É uma criminosa, que tem contra si fatos gravíssimos. Apoiou, por exemplo, as manifestações violentas, anos atrás, nas quais até bazucas foram usadas pela extrema direita para explodir e incendiar prédios de ministérios da área social (“movimento popular” portando bazuca, lança-chamas e outros, é algo bem sintomático). A Controladoria Geral da República confirmou, em 2023, que Maria Corina estava inabilitada para ocupar cargos públicos por 15 anos, apresentando novas provas a um dos processos que ela sofre. Por isso ela não pode concorrer. 

A Venezuela sofre um brutal bloqueio do império norte-americano e de vários outros países, imperialistas ou subservientes aos EUA. Mais de 150 empresas e navios petroleiros sofrem boicote internacional, 718 autoridades do país tiveram revogados os seus vistos de entrada nos EUA e em países aliados do imperialismo. A Venezuela, que é um país pobre, com um povo sofrido, teve trinta e uma toneladas de ouro roubadas pelo Banco da Inglaterra, o banco central britânico. A desculpa usada pelos ingleses para roubar US$ 1 bilhão em ouro da Venezuela foi a de que só entregaria o ouro para Juan Guaidó, que, no entender deles, seria o legítimo presidente da Venezuela. São esses piratas de colarinho branco, que roubam o povo da Venezuela na cara dura, que querem impor o Guaidó 2.0.  

A Venezuela sofre praticamente tudo que necessita. Por exemplo, tem problema de acesso ao seguro obrigatório de seus petroleiros, o que dificulta a utilização de águas internacionais, e de outros países, para comercializar o seu petróleo. Estas sanções forçaram a Venezuela a navegar com navios próprios sob bandeira russa. Ainda bem que tem países com dignidade e coragem suficiente para enfrentar o império americano de cabeça erguida e sem vacilações. Aliás, China e Rússia, que não têm medo do imperialismo, estão entre os primeiros países a reconhecer a legitimidade do processo eleitoral venezuelano. Além dos corajosos governos de Cuba e Nicarágua. A questão central na Venezuela neste momento é observar como o golpe irá se desenvolver. A colocação de militantes de extrema direita e do lúmpen proletariado nas ruas, a soldo dos EUA, não resolve o problema do golpe. É um início, mas não é suficiente. 

Há duas possibilidades, ambas bastante perigosas para a Venezuela: 1ª) um racha nas forças armadas. A adesão ao golpe de uma parte dos militares; 2º)  intervenção militar externa, organizada pelos EUA. Esta, possivelmente, seria feita por procuração, que é como os EUA tem operado suas guerras no mundo.  Não temos informações sobre isso, é claro. Mas é importante levar em conta que após o golpe frustrado de 2002, o governo venezuelano reestruturou as forças armadas, aposentando inclusive os generais ligados ao império e fornecendo uma formação patriótica. 

O processo que está se desenvolvendo no país vizinho, que é a principal reserva de petróleo no mundo (essa é a questão central, que não pode ser esquecida), dá o tom da política imperialista na região. A covardia de alguns governos e partidos políticos, e a tentativa de não desagradar o imperialismo norte-americano, não é uma boa política para esse caso. Pelo contrário, a passividade de alguns, e a subserviência vergonhosa de outros nesse momento, só encoraja o império a tentar novas aventuras golpistas na América Latina.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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