A Justiça da Romênia anulou o primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 24 de novembro, sob alegações de suposta interferência russa e irregularidades no processo eleitoral. A decisão foi anunciada nesta sexta-feira (6) pelo Tribunal Superior do país, que determinou a realização de um novo pleito. A medida gerou tensões políticas internas e preocupação entre os países imperialistas, especialmente pela importância estratégica da Romênia no cerco à Rússia, devido à sua extensa fronteira com a Ucrânia, que se estende por 605 km, e ao acesso pelo Mar Negro.
O candidato Calin Georgescu, identificado na propaganda imperialista como de “extrema direita e pró-Rússia”, foi o centro da controvérsia por alcançar a liderança no primeiro turno. Crítico da OTAN e da União Europeia, Georgescu havia registrado índices baixos nas pesquisas prévias, mas obteve votos suficientes para avançar ao segundo turno, onde enfrentaria Elena Lasconi, candidata abertamente alinhada com o imperialismo.
O fenômeno lembra a tentativa de golpe de Estado frustrado ocorrido na Venezuela, onde o imperialismo valeu-se de pesquisas de opinião sabidamente mentirosas para tentar deslegitimar a vitória do chavismo no país sul-americano. Já no Leste Europeu, Lasconi, que já liderava campanhas eleitorais fora do país para o segundo turno, declarou que a anulação “desrespeita a vontade do povo”.
Georgescu classificou a decisão da Justiça como um “golpe” e afirmou que o resultado deveria ser respeitado. Seu discurso tem gerado comparações com líderes populistas e nacionalistas da Europa, ao prometer o fim do apoio militar à Ucrânia e um rompimento com as políticas da OTAN.
O primeiro-ministro do partido social-democrata Marcel Ciolacu, defendeu a decisão judicial, qualificando-a como “a única escolha correta”. Ele mencionou documentos apresentados pelo Conselho Nacional de Segurança da Romênia, que supostamente indicariam “ataques híbridos agressivos” promovidos nas redes sociais e financiamentos irregulares para beneficiar Georgescu, sem explicar, entretanto, como concretamente, o Crêmlin (sede do governo russo) conseguira superar o imperialismo na disputa.
Os documentos, preparados pela agência de inteligência da Romênia, falavam de “uma campanha promocional agressiva, violando a legislação eleitoral, e uma exploração de algoritmos para aumentar a popularidade de Calin Georgescu em um ritmo acelerado”, além de mencionar que a Romênia havia sido alvo de “ações híbridas russas agressivas”, incluindo ataques cibernéticos. A burocracia judicial também fora mobilizada, com promotores iniciando investigações, como declarado em nota:
“As buscas têm como alvo o possível envolvimento de um indivíduo no financiamento ilegal da campanha eleitoral de um candidato à Presidência da Romênia, por meio do uso de somas de dinheiro … [que] poderiam ser provenientes da prática de crimes, sendo posteriormente introduzidas em um processo de lavagem de dinheiro.”
As acusações de interferência russa, naturalmente, foram mencionadas pelo governo dos Estados Unidos e por aliados imperialistas. O Departamento de Estado norte-americano pediu confiança na “integridade eleitoral” da Romênia, enquanto o Reino Unido manifestou “preocupação” com os supostos ataques cibernéticos russos. Moscou negou envolvimento, e o TikTok, plataforma central na campanha de Georgescu, rejeitou alegações de favorecimento ao candidato.
Desde a queda do governo stalinista de Ceaușescu, em 1989, a Romênia tem sido um país alinhado ao imperialismo. Em 2004, fora incorporada à OTAN durante a expansão da aliança militar imperialista para países da Europa Central e Oriental após o fim da Guerra Fria. Além disso, em 1º de janeiro de 2007, a Romênia tornou-se também membro da União Europeia, consolidando sua submissão ao imperialismo, o que torna a vitória de Georgescu ainda mais impressionante e expressiva da crise da dominação dos monopólios.
Entretanto, a situação na Romênia levanta questões sobre a influência externa e os métodos empregados para manter governos alinhados ao imperialismo. A anulação do pleito, justificada por alegações de irregularidades, reforça a ideia de que o controle político sobre países estratégicos na Europa Central e Oriental é essencial para a continuidade das campanhas imperialistas contra a Rússia. O caso romeno expõe as contradições das potências imperialistas ao intervirem em processos eleitorais sob a alegação de garantir a “democracia”.
A repetição das eleições pode levar a novas reconfigurações políticas no país. Enquanto isso, a Romênia permanece no centro das disputas entre os interesses imperialistas e a resistência crescente de setores nacionalistas. Resta saber até onde a intervenção externa será tolerada sem uma reação popular que questione a soberania do país e sua relação subordinada com as potências imperialistas.